10.9.15

Os Tsípras portugueses

Embora tenha prometido não seguir o debate Passos / Costa, acabei por ouvir os últimos 20 minutos. Fiquei com a sensação de que o jogo da democracia estava a ser travado por dois homens com atitudes bem distintas. O primeiro vestira a máscara da seriedade e da responsabilidade; o segundo escolhera uma farpela mais atraente. Ambos, no entanto, estavam conscientes de que o poder, independentemente do vencedor nas urnas, nunca esteve nem estará nas suas mãos... 
(...)
Não posso deixar de estranhar a atitude dos entrevistadores: parecia que queriam domar feras que mais não eram do que cordeirinhos.
(...) 
Este é um jogo democrático que será sempre decidido na secretaria.

Se não formos capazes de olhar para nós, porque nos falta distanciamento e discernimento, então, olhemos para a Grécia!

Definição de Tsípras: alguém que, no contexto do capitalismo internacionalista, promete o que não tem, e acaba a fazer o contrário do que prometera.

9.9.15

De joelhos

Não vou seguir o debate entre Passos e Costa. Porquê?
Pela simples razão de que nenhum surge como alternativa válida.
Apenas vão debater qual deles está em melhor posição de servir o capitalismo internacional. Desde a entrada de Portugal na União Europeia e, particularmente, desde a entrada no "euro", que os auto-intitulados partidos do eixo da governação nos colocaram de joelhos...

Ouvi-los mentir tornou-se-me intolerável. Não há luz, nem cor, nem máscara, nem tom, nem argumento, nem promessa que me possam persuadir que o debate desta noite é mais do que uma pantomina...

A não ser que os farsantes nos dissessem que estão acorrentados de pés e mãos e que, na verdade, apenas ali estão a jogar à democracia para tranquilizar o capitalismo internacional.

8.9.15

O meu mapa cognitivo

Um ponto.
Um ponto cujo sentido da totalidade começou por ser pré-capitalista: a aldeia, a igreja, o burro, o trabalho não remunerado; o romantismo e o realismo utópico...
Outro ponto cujo sentido da totalidade foi sendo moldado pelo capitalismo nacionalista e colonialista: a cidade, a igreja, o autocarro e o comboio, o estudo dos heróis, o emprego e a remuneração crescente, baseada na progressão académica e, sobretudo, na antiguidade; o modernismo incompreendido...
Derradeiro ponto cujo sentido se vai perdendo no capitalismo internacionalista (na chamada pós-modernidade): a viagem, as novas tecnologias, a estagnação profissional e a perda de remuneração; a ideologia confinada à representação de «la relación imaginaria del sujeto com sus condiciones reales de existência». Fredric Jameson, 1984, El posmodernismo o la lógica cultural del capitalismo avanzado.
Um ponto que vai perdendo a distância crítica, porque incapaz de compreender a cultura gerada pelo capitalismo internacionalista - o pós-modernismo. Este, mais do que contracultura, é a forma avançada da alienação do ser, cada vez mais à deriva.
Um ponto.

7.9.15

É difícil explicar

É difícil explicar o que não nos oferece explicação. Perante a pergunta inevitável, vou repetindo um motivo artificioso: "divergências". 
O termo parece mágico, pois ninguém se interroga sobre a causa, o quê ou sobre quem é que diverge de quem...
(Nos próximos dias, a situação vai repetir-se.)
Entretanto, parece que a minha espera deixou de ser solitária. Das palavras dos meus interlocutores irrompe uma certa solidariedade ou, pelo menos, comiseração.
(...)
Sob os plátanos, a brisa esmorece. Só uma mosca procura células em decomposição. Incomoda: ainda há quem, como quem não quer a coisa, saiba jogar com a lei, sem a contornar.

6.9.15

Preferia ficar calado

Preferia ficar calado, porém, perante certos comportamentos, entendo que o melhor é não os ignorar. Vem isto a propósito da dificuldade em destrinçar a mentira da verdade. 

Todos os dias, nos confrontamos com uma informação de tal modo tendenciosa que, no meu caso, me leva a não ler revistas nem jornais e, sobretudo, a fugir das televisões. Nos media, há quem ganhe a vida a empastelar... há quem construa uma carreira profissional a explorar mexericos, há quem, à custa da fama obtida nos estúdios de televisão, cobre honorários proibitivos...

Querendo, apesar de tudo, acreditar que o ser humano é naturalmente bom (J.J. Rousseau),  a espaços procuro na Internet informação menos poluída. Ora, hoje, dei conta de que uns tantos jovens resolveram celebrar publicamente a sua "entrada" no curso de medicina.

Na verdade, o que estes jovens fizeram foi enganar "os amigos". Dirão que se trata de uma brincadeira (mais uma!)... De facto, a brincar não se aprende a dizer a verdade. Só a mentir!

Como sabemos, a mentira é provavelmente o maior cancro que mina as relações humanas. Mas também é um excelente trampolim para a conquista do poder. Infelizmente!


5.9.15

Batalha sem tréguas

«L'effroi, la dissonance, ils sont partout ici. Qu'un rossignol chante, et il a la voix du désespoir.» Jacques Borel, in Fêtes galantes Romances sans paroles précédé de Poèmes saturniens, de Paul Verlaine. 

O dia de hoje podia ser de festa, mas não! Cedo, as palavras revelaram ser de «déperdition» do ser. Um conceito que, até ao momento, descurara, embora pressentisse a vida como «dissonância». Um pouco como se, a cada instante, se tivesse instalado uma batalha desgastante entre Eros e Tanatos...

Percebo, agora, que o Ser (certos seres, pelo menos) se obstina em não aceitar a "perda" que o devir acarreta, pois o amanhã deixou de surgir como uma nova aurora...

Tudo é baço! Tudo é lívido!

4.9.15

Contenção

Há temas de que evito falar, embora me apetecesse abrir o livro. Contenho-me ao pensar nas causas de certos comportamentos, numa tentativa de adiar os efeitos...
O problema é que não destrinço os motivos. Por vezes, penso que o envelhecimento traz consigo atos absurdos... 
E fico a ruminar. De tal modo que começo a visualizar os gravetos já diluídos que vão caindo, espumosos, sobre o estrume que, em tempos idos, servia de adubo nos campos esquecidos.

Em dias como o de hoje, as palavras jorram do passado sem que eu as tenho solicitado. Estéreis, não cumprem  a missão inicial - nem ideia nem som; apenas sequência sem sentido.

(Ou talvez ainda não tenha chegado a hora, se ela existe! Creio, no entanto, que essa hora nunca chegará. Ou porque o bom senso acabe por vencer ou porque a contenção irá comigo... Nunca conheci o efeito terapêutico das artes marciais, mas é como se sempre as tivesse praticado.)