23.2.16

Por um instante

Como aquilo que eu vejo não é o que tu vês, como é que eu te posso ensinar a ver?
Como aquilo que eu oiço não é o que tu ouves, como é que eu te posso ensinar a ouvir?
Como o meu corpo não é o teu corpo, como é que eu te posso prender?

Por um instante, talvez possa ser o teu bordão no caminho que só tu podes percorrer!
O teu poder não está ao alcance do meu ser!

22.2.16

O dia está a ficar ilegível

«A noite estava ilegível. (...) Só havia escuridão, sem forma, lugar ou fundo. (...) Apenas por atalhos das sensações podíamos confiar na existência do céu, em cima,  e da terra, em baixo. (...) Como os meus olhos não podiam ver, eu via com os ouvidos.» Fernando Pessoa, in A Estrada do Esquecimento.

Há muito que a noite deixou de ser ilegível nas cidades. 
Só nos campos desertos, a escuridão insiste em persistir, a não ser que a lua se deixe esconder... Eu ainda atravessei essa escuridão que ecoava sob os meus passos apressados e desconcertados... passos que calcavam a terra num desafio ao medo que medrava sob os uivos da canzoada. 
A escuridão que me envolvia tinha um chão, tinha um teto, e eu só ansiava que do fundo eclodisse a luz. 
Nunca fui tão longe na noite, porque ainda assim raiava o dia, mas, hoje, a escuridão começa a adensar-se nos sons nocturnos, e o dia está a ficar ilegível. 

21.2.16

O Estado não paga...

«Na origem deste último erro detectado pelo Ministério das Finanças esteve o cálculo das contribuições imputadas à Caixa Geral de Aposentações (CGA), sabe o Económico. Os serviços públicos não pagam efectivamente uma contribuição pelos seus trabalhadores à CGA (apenas os funcionários fazem uma contribuição efectiva), mas em contabilidade nacional é-lhes imputado um valor.» 

Pois é, o Estado não paga, no devido tempo, a contribuição devida à CGA. E depois, mais tarde, queixa-se do peso excessivo do valor das aposentações. Ao contrário do patronato, o estado adia a despesa, impedindo que a CGA possa gerir autonomamente as contribuições dos funcionários públicos e do estado.
O que depois se torna ainda mais penoso é perceber que as equipas que preparam o esboço (?) de OGE parecem desconhecer o modo como o estado foge às suas responsabilidades sob o manto da "contabilidade nacional", conceito que, se não está, deveria estar consignado na "arte de furtar"...

20.2.16

De Umberto Eco recordo sempre...

De Umberto Eco recordo sempre a fábula do riso que ia envenenando os austeros conservadores da "arte poética" que, na verdade, não tinham qualquer motivo para zelar por uma morte inevitável, sem retorno nem passagem...
e
também recordo o grande e os pequenos inquisidores que preferiam o dogma à dúvida, atirando à fogueira todos aqueles que não eram suficientemente manhosos para se colocarem sob a proteção do magnífico Tribunal...
o que me traz de volta, não os fazedores de teses e nem os devotos da obra aberta, mas, sim, o António José da Silva, o Bernardo Santareno e o José Saramago...

19.2.16

Só os abutres vivem da morte do outro

« - Impossível. Você sabe, tanto quanto eu sei, que a morte é sempre nova e sempre pessoal. Se assim não fosse, já a tínhamos tornado científica.
- Aí está, señor. Sempre nova e sempre pessoal, diz bem. Ao fim e ao cabo, foi só a mim que eles condenaram a morrer por fuzilamento.
- Por isso mesmo é um ato novo e pessoal. Você vai ter de começar tudo pelo princípio. E, se mais alguém morrer, não terá aprendido nada com o seu exemplo. Eu próprio, como nunca morri, não posso nem sei dizer mais nada.» Excerto de um diálogo entre o filósofo e o condenado, in Sombra de Touro Azul, de João de Melo. 

Não aprendemos nada com a morte do outro.
Não aprendemos nada com a notícia da morte do outro.
Não aprendemos nada com a repetição da notícia da morte dos outro.
Não aprendemos nada com o comentário obsceno da morte do outro.

Só os abutres vivem da morte do outro. E não se pode dizer deles que sejam hipócritas, pois a morte do outro é o seu próprio sustento.

18.2.16

Juíza de Carrilho e Bárbara

Juíza de Carrilho e Bárbara é fascinada pelo nazismo - fonte: CMTV

Ingenuamente, pensava que o juiz deveria ser o fiel da balança.
Parece que não! Esta juíza, de acordo com o CMTV, inclina-se para o lado do carrasco.
A situação noticiada é muito grave: ou o CMTV manipula deliberadamente a informação e deve ser sancionado ou, então, a juíza  não deve julgar este ou qualquer outro caso de justiça.
(...)
Embora não tenha a certeza, desconfio que o Centro de Estudos Judiciários tem vindo a prestar um mau serviço à causa da justiça. Não basta conhecer a lei, é necessário que o juiz quando a aplica o faça, regido por valores bem definidos, como, por exemplo, o da isenção. 
(...)
Espero não estar a incorrer em qualquer juízo de apreciação. Creio, no entanto, que a crise de valores se manifesta cada vez mais na educação e na formação... dos políticos, das polícias, dos magistrados, dos médicos, dos professores, dos bombeiros... E quando tal acontece não há estado de direito que resista. 

17.2.16

Ao contrário das obras de Santa Engrácia

O Liceu Camões vive uma situação sui generis: As obras nunca mais começam! Entretanto, o ME prometeu à comunicação social que os estudos e o projeto vão avançar em 2016, tendo feito saber que o financiamento está assegurado. 
Gostava de saber quem financia e qual é a verba disponibilizada.
Nos anos anteriores à chegada da TROIKA, já tinham sido gastos dois milhões de euros no projeto da obra que nunca chegou a arrancar.
Finalmente, custa a acreditar que a informação tenha chegado à comunicação social sem que o Diretor da Escola tenha sido previamente informado.