11.7.18

Dia D?

Professores e governo têm hoje o ‘Dia D’
"D"?
Em português (em francês), o que me vem de imediato à mente, é 'derrota', 'desastre'... Ainda se fosse Dia "V"...
O meu ceticismo não é saudável, mas não acredito nestes jogos de verão - construções na areia para ocupar o tempo…
De qualquer modo, estou com os ingénuos que acreditam na mudança. Só não entendo, como é que é possível chegar-se lá, se os protagonistas continuam a ser os mesmos de sempre...

10.7.18

E este Tempo já não é o meu...

Doze menores, um adulto e quatro mergulhadores. A operação na gruta Tham Luang, em Chiang Rai, na Tailândia, chegou ao fim com toda a gente a salvo. Num dia que é de vitória, lamenta-se porém a morte de Saman Guman, ex-membro da marinha tailandesa, que faleceu no passado dia 6 de julho, depois de levar uma reserva de ar às crianças.
Bem sei que o que vou escrevendo não passa de um acerto de contas com o Tempo e, como tal, intransmissível e, por vezes, incompreensível, mas não posso deixar de expressar a minha satisfação pela mobilização internacional na evacuação do grupo de jovens tailandeses, tal como saúdo a coragem de Cristiano Ronaldo ao transferir-se para o futebol italiano, ou o apuramento da França para a final do Mundial de futebol…
Quando quer, o homem mobiliza-se, aplaude, reconhece a competência do Outro… só que o mesmo homem esquece  as dezenas de milhar de crianças migrantes que se afogam ou vivem em miseráveis campos de acolhimento ou, simplesmente, são objeto do apetite sexual de inúmeros predadores…
E este Tempo já não é o meu - da emoção ou da resignação - mas o daqueles aquém o Tempo falha em definitivo...

9.7.18

A criação

«De toutes les écoles de la patience et de la lucidité, la création est la plus efficace. Elle est aussi le bouleversant témoignage de la seule dignité de l'homme: la révolte contre sa condition, la persévérance dans un effort tenu pour stérile.» Albert Camus, La création absurde

O pensamento absurdo caracteriza-se, a meu ver, pela capacidade de formular perguntas que jamais obterão resposta, o que poderia conduzir ao desespero total e suicida, tendo em conta os limites da condição humana.
No entanto, aquilo que Camus propõe, ao defender o pensamento absurdo, é que o homem se revolte contra essa condição através da ação criativa - a única verdadeiramente libertadora - que, no entanto, exige paciência, perseverança e lucidez… E são estas qualidades que a todo o instante vislumbro nos criadores com que me vou cruzando ao longo dos dias, apesar da dificuldade em acompanhá-los…

8.7.18

Maria José Ferreira no MU.SA, Sintra

Para evitar apreciar o que certamente está para além do que vi hoje, em Sintra, no MU.SA - "35 ANOS DE PINTURA" de Maria José Ferreira -, proponho ao visitante deste blogue que ignore os meus "ditos" e visite o seguinte site: http://mariajoseferreira.pt/
O que eu vi na sala Claraboia, foi um mundo construído sobre uma nostalgia matriarcal africana, envolvido numa geometria falsamente surreal, pois há sempre uma linha invisível que assegura o volume dos corpos, e em que a cor deslumbra porque cria a sensação de que a solidez se pode desmaterializar a qualquer momento… 
Há por ali um ponto de equilíbrio desconcertante, genesíaco… algo, apesar de tudo, maternal.
(Peço desculpa se o que acabo de escrever não passa de desconchavo, mas é sentido.)

7.7.18

Trata-se de sobreviver

Neste interminável ficheiro de autores e respetivas obras, surge-me  o amigo e poeta Silva Carvalho. 
Desta vez, folheio o livro "Ao Acaso" (1986), suspendo o registo, e vou lendo algumas das 300 oitavas, pensando que o Poeta merecia melhor sorte, isto é, merece ser lido e discutido…
e de súbito fixo-me em três versos:

      Trata-se de sobreviver, não de sentir ida
      a memória por algum desejo ou desperdício.
      Sentir, sabe-o bem, é o maior e árduo vício.

Afinal, é isso: trata-se de sobreviver, liberto da (in)voluntária memória - duplo fardo, na ausência e na presença - e, sobretudo, de evitar o sentir, porque este prende, aliena, queima a energia que ainda resta...

6.7.18

Uma classe esgotada

exaustão emocionalMais de 60% dos professores portugueses sofrem de exaustão emocional, provocada por causas como a excessiva burocracia e a indisciplina dos alunos, revela um estudo nacional com base em mais de 15 mil respostas de docentes.

Estou há tanto tempo no sistema que a conclusão não me surpreende em nada. Basta entrar numa sala de professores e ouvi-los…
Na verdade, as causas do cansaço são antigas. A diferença entre o passado e o presente reside no modo como na última década a classe política desclassificou os professores… e mais não é preciso dizer: todos sabem porquê e como… 
Uma classe política medíocre e, em muitos casos, analfabeta - culpa dos professores que os deixaram transitar...

5.7.18

Pensar aqui, para quê?

«Penser, c'est avant tout vouloir créer un monde (ou limiter le sien, ce qui revient au même).»                        Albert Camus, La Création Absurde 

Criar um mundo aqui, para quê? 
O que sei é que o simples registo daqueles que encontrei é inviável, primeiramente porque a memória pessoal se foi debilitando, talvez porque no momento certo faltou o tempo; depois porque o outro pode não sentir qualquer necessidade de integrar o mundo a preservar…
Ainda se escrevesse um romance, poderia limitar esse mundo às relações de antipatia e de simpatia, mas se no momento certo faltou o tempo, a única saída seria dificílima porque as personagens nunca chegariam a ter relevo, consistência, uma ideia - não passariam de traços inconsistentes, absurdos…
Pensar aqui, para quê?
Apenas, para dizer ao Tempo que estamos aqui  e que, apesar de sós,  não estamos sozinhos na sua companhia...