7.2.19

O caminho das pedras

«...também eu fui atirado à vida por insuficiente fé…» (Caruma, Caminhos…)

A frase é minha e exprime uma revisitação de um itinerário de certo modo involuntário…
Antes, o caminho da fé fora escolhido pela miséria do estado novo.
Depois, o caminho começou por ser o da teimosia inconsciente - a única certeza caridosa veio de quem percebeu que me faltava o entusiasmo do crente…
Finalmente a minha vida, o caminho que ninguém escrevera… nem escreverá por mais pedras que se levantem diante de mim, e têm sido muitas!

6.2.19

Ter fé

Vejo que ontem admiti que ainda me era possível ter fé. A verdade é que hoje verifico que caí em contradição, pois inúmeras foram as vezes em que confessei ceticismo, dúvida metódica e pirrónica… evitando, no entanto, o desespero…
Perante o protesto instintivo da horda matinal, soergo-me entre a tristeza e o desespero,  e naquele intervalo de angústia, compreendo que se não fosse a fé há muito teria desistido, não de Deus  nem do Homem, mas de mim…
Ter fé em quê ou quem? Nas pedras do caminho que evito maltratar, deixo-as ali a protestar… 

5.2.19

A suprema prova

Ideias houve que hoje são ininteligíveis, e já nem sei porque insisto, talvez porque ainda tenho fé na mensagem do provérbio 'agua mole em pedra dura tanto dá até que fura'...
No entanto, pensando bem, se recorrer ao ditado popular, dou início a uma preleção incompreensível. Parece que outro povo, que não este, soube, de forma lapidar, gravar na pedra a luta contra as tiranias, (sem entrar numa sala de aula), apenas talhando os breves dias nas palavras que a memória guardava e a voz transmitia…
Mesmo que a ideia surja transmudada em imagem, só por ser verbal, emudece… 

3.2.19

Uma língua de terra

Uma língua de terra estrangulada por dois braços de rio - castanha sem verde, ou será dos meus olhos?
Pouco acrescentam os meus olhos. 
Talvez um pouco de oiro, alheio, ao anoitecer. 
Talvez, ao alvorecer, o Sol me faça ver o verde que se empertiga na língua de uma terra que quer sobreviver ao abraço do rio…
Tudo o que penso ver difere do que os meus sentidos me poderiam dizer se os deixasse ir com o rio…

2.2.19

Sorte a dos corvos!

«Quando os homens falam do futuro, os corvos começam a rir.» (provérbio japonês)

Com tanta gente a vaticinar o dia de amanhã, convém estar atento às promessas e às profecias.
Cético, deixei de acreditar nos homens, mesmo que estes ainda sejam jovens… 
Nunca como hoje, o oportunismo foi tão evidente. Poucos são aqueles que procuram ter uma ação e uma visão ecuménicas, despojadas de particularismos…
Sorte a dos corvos!

(O queixume, no entanto, de nada serve. Há que suportá-lo estoicamente…)

1.2.19

E aqui morre a ironia...

«A ironia é um ponto de vista distanciado sobre o mundo…»  Jorge Fazenda Lourenço, in Colóquio Letras, nº 200, pág. 30

Não compreendo como é que o ponto de vista pode ser 'distanciado' a não ser que o observador seja uma espécie de atirador na carreira de tiro em que o alvo é o mundo. Nesse caso, o observador deixaria o mundo ou, talvez masoquista, disparasse sobre si próprio…
Eu vejo o ironista - à exceção do snob académico, aristocrático ou burguês - mergulhado no mundo, incapaz de pôr cobro à estupidez que o circunda, a sinalizar, um pouco como o sineiro que anuncia o passamento do conterrâneo…
O ironista esconde-se na casa mortuária na esperança de que a certidão de óbito tenha sido passada por um farsante desatento dos sinais de vida do moribundo…
O problema é que a exceção parece corresponder a um vasto grupo de figurões parasita do mundo. E aqui morre a ironia…

31.1.19

O gene que nos faltava!



O A25-BIS-DR2, é um Gene!  Uma sequência de aminoácidos, que só existe num único Povo: O LUSITANO.


Depois do messianismo e do sebastianismo com a ideia-chave de que somos o povo eleito para dar corpo à vontade divina, parece que, afinal, o nosso destino está inscrito no gene lusitano.
Desta vez, o argumento cultural surge embrulhado na evidência científica.
Só nos faltava mais esta 'descoberta'!