25.6.19

O veludo da fava

Não tenho paciência para descascar favas e quando o faço é porque um súbito e raro apetite me invade - no máximo, duas vezes por ano e basta… Mesmo que as favas sejam verdes, recordo sempre a brotoeja que associo a tulhas de fava seca - uma comichão miserável invade-me o corpo, esganando-me com as minhas próprias mãos… Quem me mandou a mim entrar para onde não fora convidado!
(Lá está! Acabo de ser vítima da inevitável repetição.) 
E até na «ilha ao sul de tudo», encontro o «veludo» da fava que, por estes dias, me irrita o couro cabeludo…

24.6.19

A cacofonia

Dá vontade de desistir, mas do quê se não há propósito?
Lemos e voltamos a ler e alguma coisa destoa, mas o quê?
Talvez a coisa e, sobretudo, a palavra repetida. Há sempre uma palavra repetida, há sempre uma mosca e outra mosca. Nem com vinagre se evita a falha… 
Dá vontade de desistir, mas do quê se não há mais-valia?

Mais valia ter ido ao neurologista, mas já é tarde! E se lá tivesse ido, ele não me teria evitado a cacofonia… 

23.6.19

Entrado o Verão

Entrado o Verão, acabei por ir assistir, na Igreja de São Roque, à apresentação da PAIXÃO SEGUNDO SÃO JOÃO, de Johann Sebastian Bach, na versão da Escola Artística de Música do Conservatório Nacional.
O espetáculo foi soberbo, muito acarinhado pelo público que encheu o templo barroco, e em perfeita conformidade com o referido estilo.
Embora na performance deva destacar o coletivo, não quero deixar de mencionar a novíssima soprano Ema de Sá, que revelou segurança e confiança, o que certamente resultará da grande capacidade de trabalho - não só do engenho, mas, sobretudo, da arte, como diria o Poeta.
(…)
Felizmente, hoje chove!

20.6.19

Ao contrário da cigarra

Não faz calor, no entanto, por estes dias, seco… tanta é a burrice e o despudor.
E em tempo de seca, ao contrário da cigarra, calo-me.

18.6.19

A anáfora no exame nacional de Português

La anáfora es una figura literaria y, como tal, tiene unas funciones concretas. Si bien este recurso literario necesita de la creatividad del autor o del poeta para significar una u otra cosa, hay algunos empleos en los que se observa con mayor frecuencia.
La anáfora puede emplearse para otorgar una mayor importancia o notoriedad a un aspecto del que se está hablando que puede ser un lugar, un tiempo, un sujeto, un sentimiento… Esta figura literaria es muy recurrente en tanto que ofrece dinamismo y velocidad (en ocasiones) a los versos o al texto en cuestión. Es también un recurso que ofrece ritmo y melodía en un poema o en la prosa. Además de centrar la atención en la palabra o palabras que se repiten ayudan al lector a familiarizarse con el texto creando mayor atracción y facilidad para comprender

Querer reduzir a anáfora ao(s) sentido(s) é abusivo. Revela insensatez, sobretudo quando o poeta se chama Fernando Pessoa.

17.6.19

O senhor Professor

«Irás ao Paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência
Este país te mata lentamente»
Sophia Andresen

O senhor Professor, patrono dos professores, anda incomodado com os professores. Recebeu-os no seu palácio, mostrou compreensão e pediu-lhes tempo - anos, meses e dias - e, sobretudo rogou que fossem pacientes…
O senhor Professor tem obrigação de saber que entre os professores há muita desigualdade e que para a combater não bastam umas tantas selfies e paciência, muita.
O senhor Professor deveria saber que, para além dos professores, quem perde é o País de que se orgulha de ser Presidente.

16.6.19

Ligações perigosas

«Sem espírito crítico e sem ler as obras, isso de história da literatura é cousa escabrosa de se executar.» António Sérgio, Ensaios III, pág. 192.

A ideia, à época, fazia todo o sentido. 
Sérgio rejeitava o biografismo, a psicocrítica mais ou menos freudiana, a sociocrítica, pois ao crítico literário e ao estudioso o que deveria interessar era a obra - ler na obra o que ela acrescenta…
Entretanto, os tempos mudaram. O facilitismo instalou-se e o que agora está na moda é estabelecer 'ligações' entre textos, que se me afiguram de enorme risco - intertextualidades.
E porquê? Porque, simplesmente, raros são os que leem.

Terça-feira será dia de detetar ligações, de inferir estados de ânimo, de exprimir opinião. A dissertação já terá ficado para trás… e a argumentação, envergonhada, cairá sob exemplos estafados de futuros por achar.
Nem o eclético borboleteio impressionista se fará sentir… Até lá só ingurgitação!