5.3.20

Quem vê caras...

Lisboa, Rua Filipe Folque
Parece que há uma directiva que exige que certas fachadas sejam preservadas...
Um pouco por todo o lado, as obras vão decorrendo escondidas pelas fachadas...
Por mim, se a obra é nova e nobre, esta deveria assumir o rosto de quem a arquitectou...
Creio que esta decisão de manter a frontaria de certos edifícios, apesar de assegurar a ligação com o passado, esconde outros benefícios para quem investe, desenha e constrói... 
É possível que eu não tenha razão. No entanto, lá diz o povo "Quem vê caras não vê corações.»
Por estes dias de incerteza, dou comigo a observar os rostos e não consigo descortinar-lhes os segredos. Fechados, os rostos e os segredos.

4.3.20

A incerteza

À sorte e ao azar, há agora que acrescentar a incerteza…
Já não é tanto o Fado que preside à vida individual e coletiva…são mais as escolhas,  que fazemos e que nos habituámos a considerar seguras, que, num ápice, podem escancarar-nos a porta da dúvida e do medo.
Assim, passamos a suspeitar de tudo e de todos, avançamos sem saber se em cada esquina vamos encontrar um amigo ou o inimigo…
De qualquer modo, a incerteza sempre foi o caminho. 

1.3.20

Março, marçagão...

Entrámos em março, mês que, hoje, não confirma a tradição. Cumpre quanto ao inverno, mas esqueceu-se do verão...
O COVID-19 expande-se alheio às fronteiras, tal como os migrantes rompem o arame farpado, mesmo que novos muros os esperem, numa luta de morte...
O COVID-19 e as hordas de migrantes são a expressão de territórios de exploração intensiva de recursos... 
E nós? Nem o Medo nos faz repensar o caminho...
Março promete sol e vida, mas hoje não! 

29.2.20

Em ano bissexto

Nunca se sabe o que nos espera… o próprio espírito santo anda em dificuldades. O pai deixa-o marinar, mas baixinho, porque os desígnios divinos foram subvertidos pelo filho-homem...
A galeria dos rebeldes é extensa, de orfeu a sísifo sem esquecer prometeu… todos eles, no entanto, sofrem o divino castigo. Só não sei se o cumprem neste dia, em ano bissexto.
Eu cumpro-o, sem dúvida, embora devagarinho para não incomodar as aves que por aqui passam… até porque para o ano…

27.2.20

É um outro

Quem aqui escreve não sou eu, é um outro que, em certos dias, não sabe ao que anda. Vai andando, mas volta sempre atrás… parece que os grilhões são elásticos, mas só até um certo ponto…
O problema é que o eu já percebeu que o ponto não é assunto seu. É um outro quem o determina, mas não aquele que não sabe ao que anda… 
E esse outro é mais do que uma ideia, é o referente que vive em parte incerta, mas sempre para lá da linha invisível que poderia esclarecer esta desfiguração.
Em suma, sem encontrar o rosto, o eu vê-se desfigurado e é quanto lhe basta, por agora.

24.2.20

Os Crimes de Hamburgo

Não conheço o Francisco Carvalho. Recentemente, descobri que publicara um romance - Os crimes de Hamburgo (Outubro 2019, Coolbooks). Por coincidência, verifico que o autor nasceu em 1978, tal como o meu filho, sendo ambos advogados e que, além disso, a minha filha, um pouco mais nova, vive em Hamburgo, militando na defesa dos direitos humanos: dos curdos atirados para o exílio, aos refugiados em geral...
Eu próprio, em agosto último, visitei, durante alguns dias, a cosmopolita cidade de Hamburgo, tendo ficado com uma imagem de um lugar onde a diversidade humana é bem visível e diferenciada e o clima severo e imprevisível. 
Não tive tempo de tomar o pulso à riqueza e à miséria, mas percebi que as relações entre autóctones e estrangeiros não são fáceis e que há demasiado silêncio no palco e ajustes de contas nos bastidores.
Sobre o romance, que li numa semana, o que posso dizer é que está muito bem construído e que me confirmou todas as minhas suspeitas e me ajudou a compreender um pouco melhor a desconfiança alemã em relação aos estrangeiros, em particular de origem muçulmana, na sequência da Queda do Muro de Berlim, da desagregação da União Soviética, das guerras fratricidas da ex-Jugoslávia e do nacionalismo turco... sem esquecer os restantes emigrantes, vindos da Ásia, da África...

Sem açúcar...

Porto
Que me desculpem, sem açúcar não é sabor original, pelo menos, se está pressuposta a sua presença...
Imagine-se o vinho do Porto sem açúcar!
Este tipo de publicidade está na base da idiotia que grassa a cada esquina e que se caracteriza pela incapacidade de separar o excesso da sobriedade.
Sem sal e sem açúcar, deixamos que nos levem ao fim do caminho ou agimos como senhores em terra de escravos... 
Da temperança, o melhor é não falar!