15.3.21

Exemplar

 

Não o levaram à escola nem procurou qualquer postigo para tomar café. Também não leu o jornal nem  viu televisão. De redes sociais, nada sabe.

Pousou num galho e ali ficou, confinado por vontade própria. Apesar da folhagem ainda ser escassa, tenciona passar ali a noite, apenas desejando que anoiteça e que amanhã seja um novo dia, tão sossegado como o de hoje.

Depois se verá, porque, embora pareça, nunca está sozinho. Para o bem e para o mal!

14.3.21

No meio das flores

 

Apesar do mal-estar, vale a pena ler o conto NOCTURNO EM BI BEMOL MAIOR de Hermann Hesse, inspirado em Chopin.

«A sala transforma-se. As paredes em redor afastam-se, as janelas ganham grandes arcos e os arcos altos e redondos enchem-se de copas de árvores e de luar. »

No meio das flores de março, a borboleta passa despercebida tal como a confluência da escrita e da música... em apenas 4 minutos e alguns segundos.



12.3.21

Bicar

 Não viemos do mar nem do ar, mas um destes dias vamos bicar. Por maior que seja o problema, o que preocupa é a bica…

Vamos lá bicar que o gota-a-gota pode secar! E tenham cuidado com o Rt!

11.3.21

No estendal...




Há coisas que não mudam. Temos de ser nós a mudá-las. Por exemplo, a roupa presa no estendal.

Há pessoas que não mudam. De nada serve ensiná-las... algumas ainda despertam a tempo; outras ficam presas no estendal. Por exemplo, o velho jarreta que ainda ameaça casar.

No estendal da vida, o vento bem pode soprar… A borboleta, essa, segue o seu curso.

9.3.21

O advérbio

 


As flores, naturalmente... os graffiti, artificialmente.

O advérbio pouco acrescenta e nada modifica. É desnecessário, mas resiste, alapado permanece. Se transformado, encalha na hipálage e ficamos às voltas, a saltar de lugar... à procura da sensação, do instantâneo, do movimento…

Com o tempo, o advérbio vai esmorecendo. Cristaliza, sobretudo se o autor perder a graça ou, pior, se a graça faltar ao leitor…

Naturalmente, as flores... os graffiti, desgraçadamente.

(No dia em que o presidente voltou a tomar posse, cerimoniosamente.)

7.3.21

O garfo

 

Este garfo não tem história, pelo menos que eu conheça. Já tem uns bons anos, não se sabe quantos. 

Não posso dizer que tenha assentado praça no quartel de Abrantes, mas tal bem poderia ter acontecido, pois tempos houve em que os praças tinham de se fazer acompanhar do talher, já que as mãos, ferramenta habitual, tinham sido proibidas de fazer chegar o rancho à boca...

Este garfo é resistente, mas pode incomodar, já que há quem considere que pode deixar cair a comida por entre os dentes.

Claro que o queixoso não faz a associação  entre o garfo e a forquilha, que a mim me desperta memórias de antanho. 

Nos campos, a forquilha levantava o feno e o mato, enquanto o Diabo espreitava a oportunidade... Sim, porque o Diabo continua à espreita…

O garfo é ferramenta antiga. Dom Manuel I já a utilizaria a espaços... era privilégio das Cortes! 

Este texto é certamente absurdo. De facto, escrevo-o para não reagir à tese da mente civilizadora, mas racista,  do Mefistófeles queirosiano. 

Pobre e inútil ironia!

5.3.21

Contra a desinformação

Zhang Zhan
  O combate silencioso                                                   

Parece que ninguém quer saber… Uns porque já deixaram de pensar; outros porque preferem os negócios e bajular os poderosos.