26.4.06

Mas o ancinho já não espera pelo Estio!

Tenha ele - o ancinho - a forma de pente ou de rede, pode-se dizer que ainda é familiar do gancho do Baltasar Sete-Sóis. E a caruma se nunca gostou de ganchos, muito menos gosta de ser penteada ou enleada porque essas meiguices anunciam quase sempre um auto-de-fé em que os hereges deste século, em vez de serem penitenciados ou queimados, vêem fechar a escola, o centro de saúde, a capela... e abrir uma autoestrada para, afinal, os desterrar para a capital. E quando, agrilhoados, lá chegam, não vêem mais a casa, a horta, o pombal...
Tal como a caruma, os novos hereges são um perigo: pensam que podem envelhecer à sombra hospitaleira do trabalho de uma vida. Mas não. Essa vida vale tanto como a palha da caruma e, por isso, acabarão, em nome de um misterioso desígnio, arrastados por um altivo ancinho, em forma de rede, de pente ou de gancho...
E nesse auto-de-fé da vida nem Blimunda Sete-Luas poderá desenlear a vontade do seu Baltasar Sete-Sóis! É como se... a caruma fosse autófaga, pelo menos sempre que o Estio se aproxima...
Mas o ancinho já não espera pelo Estio!
(Entretanto, começou a soprar uma aragem que deixou a caruma um pouco aborrecida por se ter lembrado do ancinho. Isto há palavras em que já não se pode confiar!)

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