2.3.07

Mas não!

Três vozes simultâneas: - Precisamos de falar consigo. Perante a insistência, procuro isolar aquelas vozes do arruído circundante. Mas não! O problema é de todos e, por isso todos querem falar.
Entramos na sala. Espero que a ansiedade verbal dê lugar ao silêncio para que o diálogo possa começar. Uma expectativa frustrada: oiço várias vozes sobrepostas que propõem uma solução precipitada para um problema mal equacionado; oiço uma sinfonia de desânimo - os interlocutores não dão a devida importância à questão; afinal, ainda não sabem ( ou preferem não saber?) que passos devem dar...
De repente, vejo-me, ali, em frente de uma horda que procura vingança para todos os fracassos passados ou anunciados. Já não me ouvem: as palavras enovelam-se e estilhaçam-se contra as vidraças e atordoam-me ao ponto de me obrigarem a mudar de tema...
E tento explicar-lhes a natureza revolucionária do romantismo, procuro que compreendam que o excesso de arruído o reduziu a uma expressão artificial de sentimentos, de afectos, de emoções... fruídos em cenários de ostentação hipócrita e reaccionária.
Esperava que entendessem o significado da revolução romântica: acabar com os súbditos, abrindo o caminho da cidania.
Mas não! os românticos estavam apenas preocupados em acabar com a tirania, em acabar com os déspotas...cegos para os tiranetes que germinavam sob a poeira lunar.
E os tiranetes não páram de se multiplicar, abafando o silêncio apolínio da dor incandescente.

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