25.3.07

No Lazareto...

O Rafael Bordalo Pinheiro atirou-me para um impasse: os papagaios voam no ar; os comendadores voam na terra.
Tudo parece de acordo com a regra natural. No entanto, a ideia de ver os comendadores a voar deixa-me inquieto.
É um pouco como aqueles governantes que exigem ter direito à opinião. Sempre pensei que a opinião era um direito dos governados. Estes pronunciam-se, de acordo com as suas expectativas (os seus pre-conceitos), sobre a decisão dos governantes. A opinião é por definição tendenciosa, subjectiva... A opinião é inimiga do governo, gera, em si própria, a anarquia.
Os governantes, tal como os comendadores, não deveriam voar. Só lhes é permitido errar ou acertar. Jamais se deveriam escudar na opinião. Devem ouvi-la para decidir. Mas não devem decidir a favor da opinião.
Aqui, na terra da opinião, sinto-me atirado para o lazareto... se é que ele ainda existe.

1 comentário:

  1. Passado o tempo de não ter opinião, corre-se o risco de a opinião se banalizar. Será porventura o mal dos excessos, como se uma trintena de vinte e cinco de abris fosse demasiado tempo para a memória...
    A liberdade, no que ela tem de mais sagrado - a livre expressão -, flui como areia fina por entre os dedos, não por ela não existir, a liberdade, mas por existir sem expressão.
    A opinião jorra agora por tudo e por nada, e a que hoje se tem deixa amanhã de se ter, por se ter outra, igualmente válida, mudando a conjuntura, mas sempre com idêntica convicção e com voz de mando.
    A opinião tem-se e faz-se e vende-se, cada vez mais, e quem a não tem ilude-se, ou acomoda-se, e discretamente recolhe aos sanatórios da iliteracia, aos lazaretos da modernidade, e espera pacientemente pelo milagre do dia seguinte.
    Até melhor opinião!

    ResponderEliminar