10.9.07

O Sorriso do Lagarto, 1989

De João Ubaldo Ribeiro, nascido em 1941, na ilha de Itaparica (Bahia, Brasil), o romance " O Sorriso do Lagarto" descreve-nos um universo brasileiro desconcertante. Neste romance, a transgressão é a regra: a linguagem de homens e mulheres é libertina; a sexualidade é ambivalente; a amizade é traiçoeira; a política é corrupta; a justiça é cega; a religião é dogmática; a feitiçaria é oportunista; a ciência é irresponsável.

As personagens brasileiras dão corpo à transgressão, anunciando um presente e um futuro que pouco tem a ver com a ética ocidental. O homem, apesar de civilizado, despe-se das luzes, e volta a dar corpo aos instintos mais baixos, mas não regressa à barbárie. Tudo parece normalizado. Tudo fica impune. O herói, ainda, é aquele que se distingue pelas suas acções, só que estas situam-se no vasto território da delinquência.

Quanto à linguagem de João Ubaldo Ribeiro, pode-se dizer que é esplêndida, impudica, cirúrgica e narcísica: nela reflecte-se a exuberância do Brasil, feito de perversão, de hibridismo, de ritmo e morte.

 

«Era um grande lagarto esverdeado e iridescente, que pôs a cabeça para fora de uma touceira de margaridas e o encarou, mostrando e recolhendo a língua repetidamente. O lagarto de João Pedroso, o lagarto que sorria, o lagarto que ainda ia sorrir mais? Não era possível que um lagarto sorrisse, mas a verdade é que, depois de se aproximar mais um pouco, sentiu que realmente havia algo de um sorriso em torno do bicho e não sorria para ele, mas como que sorria dele.»

op. cit, pág. 362, editora Nova Fronteira

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