Quem quer vai, quem não quer manda.
Tento ignorar a moralidade do adágio, mas, qual refrão, não me sai da cabeça.
Incapaz de esperar, sinto que avanço desnecessariamente… mas continuo o caminho como se uma voz me ordenasse o rumo.
Há quem pense que cultivo a opacidade quando, de facto, procuro, em mim mesmo, um sentido… talvez mesmo uma missão. Esta ideia, que me foi inculcada na juventude, acaba por me infernizar os dias.
Corre-me no sangue um padrão que me segura ao chão.
O padrão, cultural ou apenas de pedra, traça-me uma rota em que me perco a cada instante, e continuo a ver-me lá longe, na foz do Zaire, sem entender o motivo.
Antevejo um imenso caudal, a coberto de uma sufocante e esplendorosa vegetação, e apesar do tinir das azagaias sombrias, subo o rio, à procura da nascente da minha infância.
Ao contrário dos rios de Saramago – O Almonda e o Tejo – que, de tempos a tempos, o cercavam na Azinhaga, o meu rio, o Zaire, deixava que eu o abraçasse, ficasse a vê-lo… a ir, a fluir…
E na minha cabeça, corre o Zaire que me sussurra: Quem quer vai, quem não quer manda.
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