«Toda a literatura é um plano de evasão. Ele faz ferver todas as cabeças e aguçar todas as inteligências. (…) O aluno tem que apostatar do mestre, senão não será digno dele.»Agustina Bessa-Luís, Da educação, DN, 8.02.1992
Há anos que um texto de Agustina Bessa-Luís me obsidia. Quando menos espero, uma página amarelecida pelo tempo coloca-se sob o meu olhar e lá a volto a ler o artigo sobre a Educação. E esta leitura faz-me sempre questionar sobre a importância da literatura na formação do cidadão e, sobretudo, sobre o modo como ainda se aborda a literatura nas famílias e nas escolas. Já pensei em libertar-me deste pedaço de papel, mas não consigo. É como se ao rasgá-lo me rasgasse também a mim.
Eu que sou licenciado em Literatura Portuguesa e mestre em Literaturas várias, embora passe a maior parte do tempo no desemprego deste ofício, não posso deixar de pensar que, ao transformarmos a literatura numa minudência, que bem que soa esta palavra!, mas infelizmente não é a adequada, pois não quero pensar que a literatura é uma minúcia, mas, sim, que foi marginalizada, desvirtuando-a da sua verdadeira função: substituir as pessoas reais.
E esta função é tanto mais urgente quanto «as pessoas reais estão muito distantes e não se encontram disponíveis, tanto para ser imitadas como para ser admiradas.» citação ligeiramente alterada – do pretério imperfeito de Agustina para o nosso presente.
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