Um olhar despreconceituado… ou talvez não. A verdade é tudo o que nós ignoramos.
29.4.10
Vítor Silva Tavares evoca Luiz Pacheco
27.4.10
O Gebo e a Sombra (peça de teatro)
27.4.10
O
Gebo e a Sombra (peça de teatro)
I - Raúl Brandão, um dos
homens da Seara Nova, 1923, procurou transmitir nas suas obras o ressentimento
provocado pela mudança brutal que ocorreu na sociedade portuguesa depois da
guerra (1914-1918): «Nunca se viram tão grandes fortunas – nunca se
enriqueceu, como agora, de um dia para o outro.» (Memórias, vol. III,
p.68.) Fizeram-se, de facto, fortunas. A Baixa de Lisboa foi ocupada por bancos
e casas de câmbio. A riqueza tornou-se ofensiva como nunca o fora antes, por
estar agora nas mãos de quem a não tivera desde sempre. Políticos e negociantes
vindos não se sabia de onde compravam rolls-royces e prédios nas Avenidas
Novas. Ao mesmo tempo que os novos-ricos enchiam os teatros, cafés e casas de
jogo, as velhas classes médias, colunas da respeitabilidade, sofriam nas garras
da inflação (Brandão, Memórias, vol. III, p. 87). (…) O pior, como notava
Brandão, eram as consequências éticas da nova nobreza: «Em que fundamentos
ou em que lei moral hei de assentar a minha vida se, no fundo, bem no fundo,
invejo os que triunfam?» (Memórias, vol. III, p.82.) Rui Ramos, A
Traição dos Intelectuais, História de Portugal, vol. VI (direcção de José
Mattoso), p. 551
Na peça de teatro GEBO E
A SOMBRA, Gebo, cobrador (e contabilista) honrado, cumpridor do seu
dever, mas pobre, esconde da mulher, Doroteia, que o filho João (a Sombra), o
rouba, isto é, rouba o patrão da Companhia Auxiliar, expondo-o para sempre à
chacota social. No entanto, assume o ato infame do filho, passando três anos na
cadeia. Perante as gritantes injustiças que vai testemunhando ao longo da vida,
GEBO, objeto de escárnio de quem serve, acaba por se interrogar sobre uma
questão que se torna nuclear: «O dever de um homem é ser justo e honrado ou
enriquecer?»
Cumprida a pena, Gebo
regressa a casa com o problema resolvido. Na prisão aprendera que «a gente só
não se arrepende do mal que faz neste mundo.»
No essencial, esta peça
não, apenas, nos ajuda a compreender o falhanço da 1ª República, como também o
que tem vindo acontecer desde que entrámos na União Europeia. Tal como há 100
anos, os atuais novos-ricos não querem saber nem de honra nem de justiça; só o
ENRIQUECIMENTO lhes interessa. Só a RIQUEZA os move.
II - «Primeiro a
nossa casa hipotecada e vendida naquele ano em que estive desempregado, 1893 -
data negra. Depois a desgraça do filho...» Raul Brandão, O
Gebo e a Sombra, Primeiro Ato.
A minha
interpretação de 27.04.2010 ignorou uma data que, hoje, considero
fulcral: 1893. (Esta data é negra porque corresponde à bancarrota
parcial de 1892-93. Neste último ano, a dívida pública atingiu 124,3% do
PIB. E só em 1902, foi possível renegociar e contrair novo empréstimo
amortizável a 99 anos - 1902-2001.)
Deste modo, a
situação de miséria vivida pela maioria da população acentuou-se enquanto uma
minoria, onzeneira, enriquecia a cada dia que passava - enriquecia com a
miséria dos outros. Esta circunstância é, assim, fundamental para compreender
"o teatro de ideias" de Raul Brandão.
De um lado, vemos o Gebo,
honrado e cumpridor do dever, mas pobre e desprezado; do outro lado, o filho, o
João ladrão, mas revoltado, para quem é preferível «antes morrer do que
viver sepultado». A viver na rua (ou na prisão) durante 8
anos (1893-1901), João vai descobrindo que «há criminosos que têm alma e
homens honrados que a não têm.» E acaba por ser ele que enuncia
uma ideia, mais do que nunca, adequada aos anos que vivemos: UNS SÃO UNS
TRAPOS, OUTROS REVOLTAM-SE.
No essencial, a família
representa os "trapos" e João, "o revoltado". Mais do
que um delinquente, João desestabiliza as consciências, a começar pela do pai,
que resolve, depois de roubado e desonrado pelo filho, aliar-se-lhe, respondendo
à pergunta de Sofia: «Neste mundo atroz, neste mundo onde não há a
esperar piedade nem justiça, só os desgraçados é que têm de cumprir o seu
dever?»
Em conclusão, nesta peça,
o autor aplica o seu conceito de teatro: este «deveria debater um grande
problema social ou psicológico, e interessar o público com "peças
sintéticas" que fossem "populares e humanas".»
25.4.10
Luiz Pacheco no dia 25 de Abril de 1974
19.4.10
Art Research de Jorge Castanho…
No 58 B da Rua dos Navegantes (Lisboa) é, agora, possível ver, em suporte material, a Fábrica de Anatomias que o Jorge vem disponibilizando online desde Setembro de 2008. Numa visão clássica mitigada, o primitivo (o mitológico) acorda em mim o movimento dos fantasmas que, outrora, habitavam as minhas horas… É com surpresa que acolho a paciência e o rigor do artista que ousa entrar em espaços que eu preferi desertar…
Espero que o Jorge não leve estas palavras a sério, porque, como ele ontem me disse, quem escreve vê sempre as coisas de um modo diverso… O escolho, no meu caso, está de tal modo escondido que as coisas se me escapam antes que as possa reter. E, ao contrário, o Jorge fixa a “res”, mesmo que ela insista em transfigurar-se…
18.4.10
Robert Longo, Freud's Desk and Chair, Study Room
Confesso que a exposição ‘Robert Longo - Uma Retrospectiva’, no Museu Colecção Berardo, me impressionou ao ponto de procurar mais informação sobre o artista norte-americano, nascido em 1953. E encontrei o sombrio gabinete onde Freud secava as almas dos seus pacientes. A secretária é me familiar; a cadeira lembra-me uma sentença de morte : http://www.artnet.com/awc/robert-longo.html
Ao lado, o gigantismo e o colorido de Joana Vasconcelos surpreendem. Mas só isso! Um pouco, como se estivesse de regresso ao séc.XVII: o deslumbramento é efémero…
17.4.10
Eyjafjallajokull…
14.4.10
Santos do pé-da-porta
[1] - Editada pelo autor e por Luiz Pacheco
[2] - Quando vi Beckett, achei que era tudo o que me faltava para saber o que era o teatro (…) A sua influência na minha escrita é inegável. Ver Entrevista ao Expresso, 6 de Dezembro de 1997.
[3] - Um dramaturgo de mulheres?
12.4.10
A caça e a retórica da masculinidade…
«Essas pessoas não sabem o que é o marialvismo. Eu sou um antimiguelista profundo. O marialvismo vem de D. Miguel. (…) Há muita gente profundamente antimarialva que gosta de touros e que gosta de caça. De resto, eu acho que tudo nasceu da caça. Tudo. A começar pela poesia. Tudo nasceu da caça.» (Revista Ler, Abril 2010, pág. 36.)
«Já fora do terreno, apercebi-me de que o tema do marialvismo surge como recurso retórico central em três outros universos discursivos e/ou performativos: no fado, recentemente construído como “forma musical nacional” mas na realidade surgido nas classes populares de Lisboa e apropriado pela aristocracia; na tourada e no mundo tauromáquico; e em discursos de mitologia política sobre a “alma nacional”, em tomo do tema do Sebastianismo e da Saudade.Em todos estes campos, um traço comum: encontram-se par a par dois extremos da hierarquia social: na tourada, a aristocracia dos cavaleiros e a plebe dos forcados; no
fado, a aristocracia boémia atraída pelo exótico e o lumpen proletariado urbano; no saudosismo-sebastianismo, as figuras mitológicas de reis divinamente inspirados lado a lado com uma Nação composta de camponeses. A figura do Marialva, a do fadista, a do rei providencial, a do cavaleiro, são protótipos de masculinidade: compõem-se, mais do que por oposição ao feminino, por oposição a uma “falta” de masculinidade na burguesia, na intelectualidade, na modernidade; e discursam sobre contradições dinâmicas da masculinidade ideal: entre a valentia e o deboche, entre a nobreza e a pulsão dos instintos.» (Miguel Vale de Almeida, Marialvismo)
O escritor (José Cardoso Pires) define-o mais lapidarmente: o marialva é um indivíduo interessado num tipo de economia e política assentes no irracionalismo. (Miguel Vale de Almeida, Marialvismo)
Por mais que o Escritor pense que é um antimarialva convicto, talvez valha a pena reler e repensar a obra de Manuel Alegre, pois o homem que já tem uma cátedra na Universidade de Pádua não descura a hipótese de ter outra em Belém.
10.4.10
Sem muralhas…
Durante séculos, empenhámo-nos em construir muralhas. Criámos um espaço público. A “praça” (a plazza; a ágora) era o centro da vida pública. Ricos e pobres, descíamos ao “centro” e partilhávamos o que queríamos tornar público. Lá, tomávamos conhecimento do que se passava no mundo.
Do outro lado da muralha, residia o privado, individual e institucional. Indivíduos e instituições apregoavam o direito à vida privada, à intimidade, ao sigilo, à confidencialidade, ao segredo de estado.
Hoje, a muralha abriu uma fenda de tal ordem que nem os indivíduos nem as as instituições resistirão à voracidade da rua.
A Igreja começa a ver na rua aquilo que tanto trabalho deu a preservar. O Estado é pasto da arraia-miúda. A Escola, ao querer sair à rua, acabará por sacrificar os pilares que a suportavam.
8.4.10
Borras…
6.4.10
O ensino das línguas estrangeiras
3º Ciclo | Secundário | |
Inglês | 288294 | 120257 |
Francês | 228095 | 15171 |
Espanhol | 37607 | 14450 |
Alemão | 1712 | 2528 |
4.4.10
No cante, o miúdo aprende a construir a muralha…
O Aqueduto, o verdadeiro, vê passar a sua réplica e, impávido, procura outros horizontes, talvez, saídos do cante alentejano. O cante movimenta-se como muralha dando voz à alma colectiva.
3.4.10
O miúdo que pregava pregos numa tábua...
2.4.10
O Museu do Relógio em Serpa…
Serpa é uma encruzilhada de memórias (de tempos). E para quem negligencie a passagem das horas, nada melhor que entrar no Museu do Relógio de António Tavares D’Almeida. Este museu, privado, é único na Península Ibérica e abriga 1800 peças. Algumas são únicas e capazes de nos recordar como os poderosos queriam marcar a megalomania do respectivo tempo.
1.4.10
Serpa… outra cal, outra luz…
De Lisboa a Serpa são 199 km. Metade da distância é olival a perder de vista… aposta de espanhóis e de portugueses que recebem da União Europeia milhões e milhões de euros! Agora que se publicam os prémios recebidos pelos gestores das principais empresas e, também, intermináveis listas dos devedores ao fisco, bom seria se soubéssemos quem são os novos senhores do Alentejo e, sobretudo, qual é o seu contributo para o tesouro nacional.
À margem, ou talvez não, o parque de campismo encontra-se cheio de holandeses, alemães e ingleses que nos procuram não só pelo sol e pela tranquilidade da planície, mas, também, porque o preço da estadia é convidativo.