Paineira em flor |
Talvez porque nascera no dia de finados - faz neste sábado 100 anos - Jorge de Sena terá sentido necessidade de contrariar a lamúria humana…
(Rezar por rezar que se reze pela vida para que esta seja menos estúpida e tétrica…)
De morte natural nunca ninguém morreu.
Não foi para morrer que nós nascemos,
não foi só para a morte que dos tempos
chega esse murmúrio cavo,
inconsolado, uivante, estertorado,
desde que anfíbios viemos a uma praia
e quadrúmanos nos erguemos. Não.
Não foi para morrermos que falámos,
que descobrimos a ternura e o fogo,
e a pintura, a escrita, a doce música.
Não foi para morrer que nós sonhámos
ser imortais, ter alma, reviver,
ou que sonhámos deuses que por nós
fossem mais imortais que sonharíamos.
Não foi. (…)
Jorge de Sena, De morte natural…, 1 de Abril de 1961, Sábado de Aleluia
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