9.8.21

A mão de Deus

«A riqueza só é condenável enquanto tentação do ócio e do gozo pecaminoso da vida.»
« Com efeito, se o puritano vê em todos os aspetos da vida a mão de Deus, quando se lhe depara uma oportunidade de lucro é porque Deus lá terá as suas razões para isso. O dever do cristão crente é corresponder a essa vontade e tirar proveito da situação.»
Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, ed. Presença, pág. 128.

Já é tarde para voltar atrás! Quando nasci, mergulharam-me na pia batismal dos católicos... e todas as portas que fui atravessando desaguavam num Céu casto e repleto de benfeitorias... Ninguém me segredou que noutras regiões, em nome de Deus, se poderia beneficiar de um outro tipo de vocação (Beruf) bem mais terrena e por mais estranho que possa parecer o papel da vontade humana era nulo. Tudo dependia da Graça de Deus.

Deste modo, nem me posso considerar desgraçado. A não ser que se considere a hora e o lugar do nascimento errados. Como esse argumento era insuficiente, mergulhei na dúvida, sem ter percebido que, talvez, tivesse vocação...
Poderia ter seguido, por exemplo, o caminho dos salgados, dos vieiras, dos berardos, dos silvas, dos costas, dos mexias, dos rendeiros, dos sousas e outros que tais que souberam aproveitar as oportunidades, porque Deus lá teria as suas razões...
Em síntese,  Max Weber, apesar de já ser tarde, acaba de me explicar o ar desempoeirado dos capitalistas portugueses...
... não fosse a tentação do ócio e do gozo pecaminoso da vida...

Sem comentários:

Enviar um comentário