I
Almeno:
Da minha idade tenra, em tudo estranha,
Vendo (como
acontece) afeiçoadas
Muitas ninfas
do rio e da montanha,
Com palavras
mimosas e forjadas,
Da solta liberdade e livre peito,
As trazia contentes e enganadas.
Écloga II
II
Oh! Quanto já que o Céu me desengana!
E eu sempre
porfio
Cada vez mais
na minha teima insana!
Tendo livre alvedrio;
Não fujo o
desvario;
E este que em
mim vejo,
Engana co’a esperança meu desejo.
Ode à Lua
III
Amada Circe
minha
(Posto que
minha não, contudo amada),
A quem um bem
que tinha
Da doce liberdade desejada
Pouco a pouco
entreguei,
E, se mais tenho, inda entregarei
Ode IV
Quem pode ser
no mundo tão quieto,
Ou quem terá tão livre o pensamento,
Quem tão
experimentado e tão discreto,
Tão fora,
enfim, de humano entendimento
Que, ou com
público efeito, ou com secreto,
Lhe não revolva
e espante o sentimento,
Deixando-lhe o
juízo quase incerto,
Ver e notar do
mundo o desconcerto?
(…)
Que, por livre que seja, não se espante?
(…)
Dir-me-eis que,
se este estranho desconcerto
Novamente no
mundo se mostrasse,
Que, por livre que fosse e mui esperto,
Não era de
espantar se me espantasse;
(…)
Ó inimigo
irmão, com cor de amigo!
Pera que me
tiraste (suspirava)
Da mais quieta vida e livre em tudo
Que nunca pôde ter nenhum sisudo?
Oitava I
Assim vós, Rei,
que fostes segurança
Da nossa liberdade, e que nos dais
De grandes bens
certíssima esperança:
Nos costumes e
aspeito que mostrais
Concebemos
segura confiança
Que Deus, a
quem servis e venerais,
Vos fará
vingador dos seus revéis.
E os prémios vos dará que mereceis.
Oitava III,
Sobre a seta que o Santo Padre mandou a el-Rei D. Sebastião, no ano do Senhor
de 1575
E se quiser
saber como se apura
Nũa alma
saudosa, não se enfade
De ler tão
longa e mísera escritura.
Soltava Eolo a rédea e a liberdade
Ao manso
Favónio brandamente,
E eu já a tinha solta à saudade.
Elegia I
VII
Se quero em
tanto mal desesperar-me,
Não posso,
porque Amor e Saudade
Nem licença me dão pera matar-me.
Elegia II
VIII
Que pois já de acertar estou tão fora,
Não me culpem
também se nisto errei.
Sequer este
refúgio só terei:
Falar e errar, sem culpa, livremente.
Triste quem de tão pouco está contente!
Com ter livre arbítrio, não mo deram,
Que eu conheci
mil vezes na ventura
O melhor, e o pior segui, forçado.
Canção X
CAMÕES, 500 anos
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