8.6.24

Falar e errar, sem culpa, livremente... com olhos e boca

 

I

Almeno:

Da  minha idade tenra, em tudo estranha,

Vendo (como acontece) afeiçoadas

Muitas ninfas do rio e da montanha,

Com palavras mimosas e forjadas,

Da solta liberdade e livre peito,

As trazia contentes e enganadas.

Écloga II

 

II

Oh! Quanto já que o Céu me desengana!

E eu sempre porfio

Cada vez mais na minha teima insana!

Tendo livre alvedrio;

Não fujo o desvario;

E este que em mim vejo,

Engana co’a esperança meu desejo.

Ode à Lua

III

Amada Circe minha

(Posto que minha não, contudo amada),

A quem um bem que tinha

Da doce liberdade desejada

Pouco a pouco entreguei,

E, se mais tenho, inda entregarei

Ode IV

 IV

Quem pode ser no mundo tão quieto,

Ou quem terá tão livre o pensamento,

Quem tão experimentado e tão discreto,

Tão fora, enfim, de humano entendimento

Que, ou com público efeito, ou com secreto,

Lhe não revolva e espante o sentimento,

Deixando-lhe o juízo quase incerto,

Ver e notar do mundo o desconcerto?

(…)

Que, por livre que seja, não se espante?

(…)

Dir-me-eis que, se este estranho desconcerto

Novamente no mundo se mostrasse,

Que, por livre que fosse e mui esperto,

Não era de espantar se me espantasse;

(…)

Ó inimigo irmão, com cor de amigo!

Pera que me tiraste (suspirava)

Da mais quieta vida e livre em tudo

Que nunca pôde ter nenhum sisudo?

Oitava I

 V

Assim vós, Rei, que fostes segurança

Da nossa liberdade, e que nos dais

De grandes bens certíssima esperança:

Nos costumes e aspeito que mostrais

Concebemos segura confiança

Que Deus, a quem servis e venerais,

Vos fará vingador dos seus revéis.

E os prémios vos dará que mereceis.

Oitava III, Sobre a seta que o Santo Padre mandou a el-Rei D. Sebastião, no ano do Senhor de 1575

 VI

E se quiser saber como se apura

Nũa alma saudosa, não se enfade

De ler tão longa e mísera escritura.

Soltava Eolo a rédea e a liberdade

Ao manso Favónio brandamente,

E eu já a tinha solta à saudade.

Elegia I

VII

Se quero em tanto mal desesperar-me,

Não posso, porque Amor e Saudade

Nem licença me dão pera matar-me.

Elegia II

 

VIII

Que pois já de acertar estou tão fora,

Não me culpem também se nisto errei.

Sequer este refúgio só terei:

Falar e errar, sem culpa, livremente.

Triste quem de tão pouco está contente!

Com ter livre arbítrio, não mo deram,

Que eu conheci mil vezes na ventura

O melhor, e o pior segui, forçado.

Canção X

CAMÕES, 500 anos

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