O presidente da nossa apagada república, sempre que fala, deixa-me aborrecido e triste. Hoje, porém, senti-me envergonhado ao ouvi-lo referir-se às opções e à situação da Grécia.
Lembrei-me, entretanto, da sabedoria de Aristófanes e de Safo, na bela tradução de David Mourão-Ferreira:
Ó homens, cuja natureza é obscura,
ó homens semelhantes à raça das folhas,
ó gente impotente, feita de lama,
irmã gémea da sombra,
ó seres efémeros e sem asas,
ó mortais infortunados,
ó homens vagos como os sonhos
- volvei para nós a vossa atenção,
para nós que somos imortais e vivemos nos ares,
que nunca envelhecemos, que pairamos no éter
com pensamentos eternos
e colocamos, em tudo,
o segredo da perene juventude!
Aristófanes, As aves, trad. David Mourão-Ferreira
Quando arrefece o coração das pombas,
desfalecem, na sombra, as suas asas...
Safo, fragmento 42, trad. David Mourão-Ferreira