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26.6.15

Versão de trabalho e versão definitiva nos exames nacionais

A certeza tornou-se fluída, quando se esperava que fosse clara e única.  Publicados os critérios de classificação e os cenários de resposta, devidamente certificados, deixaria de haver espaço para manipulação de resultados. Essa expetativa desapareceu: a massa fica a levedar durante uma semana e logo se vê se o pão deve ir ao forno ou se o melhor é acrescentar-lhe mais fermento e mais sal...
Hoje dei conta que o parágrafo já não é uma parte do texto, mas pode confundir-se com o próprio texto. Um pouco como se o homem fosse apenas cabeça ou a cabeça se tivesse apoderado da totalidade do corpo! 
O que até se compreende porque anda por aí muito boa gente que, desaparecida a cabeça, começou a pensar com os pés e com as mãos.
Eu por mim, cumpro rigorosamente os novos ajustes, pois não quero que, pelo menos, cem mil jovens, felizes, deixem de votar nas próximas eleições legislativas...

Finalmente, não posso deixar de notar que, quanto à interpretação do poema de Sophia Mello Breyner Andresen, na prova de Português do 12º Ano, nada foi emendado... 


21.6.15

A minha interpretação pode não ser despicienda

Ontem, a temperatura chegou aos quarenta e dois graus em Tomar.
Hoje, chegou o Verão!
A descida da temperatura vem no momento certo, pois estou a contas com a interpretação de um enunciado:

«Quer no espaço público quer no espaço privado, somos permanentemente sujeitos a estímulos sensoriais (visuais, auditivos, olfativos...), por exemplo, através de campanhas publicitárias. Se, por um lado, essa experiência pode ser considerada enriquecedora, pode, por outro lado, ser perspetivada de forma negativa.» Prova 639 / 1º fase.

- Qual é o antecedente dessa experiência? Sermos permanentemente sujeitos a estímulos sensoriais
Se tal interpretação estiver correta, então as campanhas publicitárias não passarão de um exemplo!

Enfim, as instruções não deveriam ser ambíguas. Até porque se solicita a defesa de um ponto de vista pessoal sobre a problemática apresentada, com recurso a dois argumentos, devidamente ilustrados com, pelo menos, um exemplo significativo.

- A publicidade deve ser tratada como argumento ou como exemplo? 

(As consequências da minha interpretação não são despiciendas...)

19.6.15

Que mais dizer?

A mão trémula assume o risco e tranca (a VERMELHO) todos os espaços em branco. A batalha dura horas, e lembra os torneios medievais organizados pelos senhores dos castelos para afirmação pessoal e deleite das favoritas... 
Que mais dizer?

*
O erro é uma evidência! Noutro contexto, já teria caído o Carmo e a Trindade. No caso, impera o silêncio da calma do meio-dia no deserto.

** 
A academia não arrisca pronunciar-se, vive em confraria. A academia não se compromete; afinal, as letras são, de há muito, subjetivas...

17.6.15

Na prova de exame 639 / 2015, a música do ser...

Na prova de exame 639 / 2015, surge uma pergunta que me parece mal formulada, pois pressupõe que, de algum modo, o ser pode humanizar a música - «Refira dois traços que contribuam para a humanização da música...»
Na minha interpretação, acontece precisamente o contrário: sem a música, as palavras revelam-se incapazes de libertar o homem do deserto em que habita; as palavras só se libertam se o ritmo interior as ligar.
A missão do ser alienado é, assim, arrancar ao silêncio os acordes capazes de o ligarem aos outros seres e ao cosmos, tarefa que pressupõe a ligação a um tempo primordial ainda não profanado pela palavra do ser...
Só quando a palavra brota do ritmo anterior interior é que a libertação do ser acontece:

A música do ser
Povoa este deserto
Com sua guitarra
Ou com harpas de areia

Palavras silabadas
Vêm uma a uma
Na voz da guitarra.

A música do ser
Interior ao silêncio
Cria seu próprio tempo
Que me dá morada

Palavras silabadas
Unidas uma a uma
Às paredes da casa

Por companheira tenho
A voz da guitarra

E no silêncio ouvinte
O canto me reúne
De muito longe venho
Pelo canto chamada.

E agora de mim
Não me separa nada
Quando oiço cantar
A música do ser
Nostalgia ordenada
Num silêncio de areia
Que não foi pisada.   

Sophia de Mello Breyner Andresen, Bach, Segóvia, Guitarra, in Geografia, 1967

O que seria do Poeta se prescindisse da guitarra? O que seria de Orfeu se deitasse fora a lira?
Aqui, neste deserto ibérico, o Poeta, à semelhança de outros poetas ibéricos, apenas trocou a lira pela guitarra...