18.9.12

Sala de aula II

«Em 1520, D. Manuel I criou a feitoria de Arzila.»

Mas, afinal, o que seria uma feitoria? Qual a sua importância à época? E hoje, em tempo de crise, será que ainda apostamos nas feitorias? - Silêncio total!
A necessidade de criação de feitorias, associadas a praças fortes, resultava da consciência de que o território continental era incapaz de alimentar a população. Da conquista de Ceuta (1415) ao retorno de África (1974/75) completou-se um ciclo. 
Um ciclo que pouco interessaria a D. Afonso V, pois o mediterrâneo mais não era que um arroio fácil de atravessar. No entanto, as sereias oceânicas para o abysmus convidavam... E Arzila estava tão perto! Era só colocar lá uma feitoria, pensou D. Manuel I! E assim fez, provando a sua sagacidade.
No dia dois, o discurso torna-se devaneio!

Voltando às palavras, aos dias, aos artistas e às obras, vou pensando se valerá a pena explicar que Almeida Garrett, ao querer civilizar o país, entendeu que o melhor caminho seria trazer para o palco Gil Vicente, o fundador do teatro português. E assim o fez, ao escrever e fazer representar UM AUTO DE GIL VICENTE!
E agora como é que re(construo) a ponte? Mas quem é que está interessado em pontes, com cronologia, estruturas, modelos e temas à mistura?
Se começo pela revisão, o Gil Vicente ter-se-á perdido definitivamente. Ninguém sabe que obra leu no ano anterior! O Monólogo do Vaqueiro? O Auto da Barca do Inferno? A Farsa Inês Pereira? 
Seria a história daquela jovem que só queria ser feliz, que só queria o prazer? E que, todavia, descobriu; à sua custa, que nem sempre a felicidade se consegue, fechando os ouvidos, e seguindo pelo caminho mais imediato! Uma jovem, a quem nem mistérios nem milagres bíblicos despertavam qualquer emoção, ao contrário do ermitão ou do goliardo!
Um autor medieval, cultivador da medida velha, mas capaz de pôr a vida em palco, esse Gil Vicente que tanto entusiasmou Garrett!
(E a campainha que nem toca e o professor que parece rezar uma ladainha... Finalmente, podemos sair!)  


17.9.12

Sala de estudo - I

A leitura do dia: Um Velho em Arzila, de Manuel Alegre, edições expresso, 2003
  • Ponto de partida para o universo da intertextualidade. De Camões a Manuel Alegre.
  • A História de Arzila
  • Tapeçarias de Pastrana

A estrutura do conto

Leituras imediatas:
Um Auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett
Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco

Outras leituras:
Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, de Antero de Quental
Portugal Contemporâneo, de Oliveira Martins
Só, de António Nobre
Finis Patriae, de Guerra Junqueiro

ESCREVER
... um conto
... uma carta de Mariana a Simão



16.9.12

A onda inorgânica


Nas redes sociais, os amigos são às centenas e, por vezes, aos milhares. A vida privada torna-se pública! Um simples slogan pode trazer à rua centenas de milhares de pessoas, gritando as mesmas palavras de ordem, expondo as mesmas emoções e, sobretudo, pode descentralizar os protestos e ao mesmo tempo sobrepô-los numa imagem de dimensões oceânicas.
Ondas de rejeição, por enquanto, inorgânicas e tranquilas, jorram a cada segundo desses amigos, infelizmente, virtuais. 
Bom seria que as redes sociais pudessem ajudar a encontrar emprego, a aumentar as competências de cada "amigo", porque a alternativa está à vista: a onda inorgânica acabará por ser aproveitada para gerar um  movimento de morte, cujos sobreviventes mais não farão que distribuir entre si o saque.
E esses voltarão a ser felizes por algum tempo... 

15.9.12

O alvo errado

Enquanto o povo, indignado, se manifesta nas principais cidades do país, mais de 35 grão-mestres das maçonarias regulares de vários países estão em Portugal.
O primeiro revela o seu objetivo, os segundos escondem-no. O primeiro luta contra a precariedade, os segundos vivem da precariedade do primeiro.
À TROIKA, o povo pouco importa! A TROIKA defende os interesses dos credores. E a TROIKA não se encontra no 57, Avenida da República, Lisboa

A esta hora, a nossa atenção centra-se no movimento dos indignados, mas quem nos governa são, entre outras sociedades mais ou menos secretas, os 35 grão-mestres das maçonarias regulares..., por muito que a maçonaria insista que se rege pelo valor da fraternidade.

Há séculos que escolhemos o alvo errado. Porquê?
E o caminho começa por aprender a viver sem necessitar de credores. E continua por julgar quem não nos revela a verdadeira origem e extensão da dívida. E termina pela assunção dos erros.

E por muito que nos custe os responsáveis são muito mais do que aqueles que vamos apontando a dedo.



11.9.12

Azuis


Entre o palácio e os pastéis de Belém mora o azul. Olho à direita, ao centro e à esquerda, e noto uma pequena nuance (matiz). Ao analisar a diferença, percebo que o azul mais apelativo ocupa o lugar principal. O azul da direita e da esquerda reconhece a centralidade, parecendo prestar vassalagem à presença estrangeira.
Se quiser ser rigoroso, ainda devo registar que o azul também se mostra na varanda superior, mas sem a mesma força que o do rés-de-chão.
E tudo sobre um fundo cor-de-rosa, em que talvez seja possível circular internamente entre a CGD,  o Deustche Bank e a CGD.
No fundo, esta digressão não interessa a ninguém, apesar de todo este azul poder significar  que a vassalagem se expressa por insignificantes matizes. 
Quanto ao inquilino do palácio, não sei se ele aprecia o azul, e até posso supor que o azul mais carregado ali foi colocado para lhe lembrar a nulidade do seu poder.
Confesso, no entanto, que, hoje, escrevo sobre o azul para evitar falar dos dois temas que se me foram impondo ao longo do dia: a) os inadaptados, os degenerados, os hipersensíveis (Nobre, Pessanha, Espanca, Mário Sá-Carneiro, Pessoa); as medidas da TROIKA liturgicamente apresentadas pelo sátrapa Gaspar.

8.9.12

A agência da morte


No olho, surge o fruto. A flor já desapareceu e, em termos de futuro, nada parece acontecer. Fica apenas o efeito raramente apreciado por quem por perto passa.
Ontem, sob a anestesia do futebol, o primeiro ministro anunciou ao país que continua a dizer a verdade e que preza a transparência mesmo que o fruto das suas palavras traga o desespero e a morte. Há pelo menos uma agência que ele poderia criar: a agência da morte.
Essa agência deveria publicar semanalmente um boletim que nos dissesse quantos portugueses morreram na semana anterior e quais as causas desse esperado (inesperado) desaparecimento. Esta agência teria a virtude de gerar algum emprego e, de imediato, abrir concurso para substituir os falecidos. Asseguro que ela criaria mais emprego que a redução da taxa social única às empresas.
Entretanto, gostei de ouvir o senhor primeiro ministro afirmar que as medidas tomadas resultaram de um acordo, embora não tenha dito com quem. Um jovem turco da coligação terá dado a entender que o acordo fora alcançado entre os parceiros do governo, mas eu suspeito que não houve acordo nenhum. As medidas terão sido impostas pela TROIKA! Sem elas, a palmeira secava!
Para quem já viu um coelho ser enfeitiçado por uma cobra num terreno relvado ou árido, as palavras do senhor primeiro ministro não me surpreendem. O que me surpreende é que tanta gente inteligente lhe dê ouvidos e o absolva, sobretudo quando insistem em que todo mal foi feito até abril de 2011.

6.9.12

Os efeitos das aplicações informáticas

Ontem, alguém que diariamente se confronta com os efeitos das novas aplicações informáticas, dos novos códigos, das novas decisões, perguntava-me se ninguém protesta, se ninguém se opõe... e prometia-me escrever um livro a denunciar como vamos sendo despojados dos direitos mais elementares.
Passadas algumas horas, dei comigo a pensar que Aquilino Ribeiro mostra na sua obra como os povos das serras e do interior iam perdendo o direito à partilha de baldios, logradouros e até dos adros das igrejas. Aqueles povos foram perdendo o espírito comunitário e, com o tempo, foram atirados para o isolamento. Hoje, as escolas, as capelas, as fontes, tudo fecha e as crianças são enviadas para longe, tal como os pais são convidados a partir para o estrangeiro...
Para os que insistem em ficar, o futuro passou a estar à distância de um clic de validação. Se o cidadão falhar fica fora do concurso sem apelo nem agravo. Se quiser reclamar, os burocratas encarregam-se de informaticamente tornar o processo tão complexo que mais vale desistir... Por outro lado, as leis mudam ao ritmo dos cata-ventos e ainda por cima geram códigos obscuros que são aplicados discricionariamente, atrasando a decisão, de modo que uns arguidos apodreçam nas cadeias e outrem usufruam de eterna liberdade.
Num tempo em que o pastel de nata vendido no bar de uma escola passou a ser vigiado (ai dele se ultrapassa os 80 (?) gramas!) outros fazem e desfazem sem prestar contas a ninguém, pondo em causa a saúde, a segurança e a paz de espírito de quem se habituou a cumprir e, sobretudo, a servir a comunidade...
Não sei se fale, se cale!