23.1.13

O regresso aos mercados

Como a batalha verbal já está no terreno, vou aproveitar para deixar aqui o meu critério para avaliar o alcance da operação e este consubstancia-se numa pergunta primária: - No final da operação, a dívida dos portugueses aumentou ou diminuiu?
No que me diz respeito, todos os dados de que disponho me indicam que a minha dívida ficou maior. Mas, provavelmente, a responsabilidade é minha, pois não sou nem banqueiro nem credor nem político nem sábio!
 
Em rodapé, não posso deixar de estar preocupado com a ética dos sábios que elaboraram o último relatório do FMI sobre as medidas que Portugal deve aplicar para cortar permanentemente 4 mil milhoes de euros.
«Carlos Mulas, director de la Fundación Ideas, tiene registrados el nombre y el logo de una falsa columnista llamada Amy Martin. Cobraba hasta 3.000 euros por cada artículo que sólo se publicaban en la web.»
«El creador de Amy Martin aseguraba que para combatir la corrupción la clave era 'reducir los espacios' de oportunidad para que se produzca»
 
 

22.1.13

Como diria o japonês

O regresso aos mercados, acertado entre banqueiros e credores, está a gerar uma onda vergonhosa de aplausos e de vaias.
Onde uns enxergam sucesso, outros enxergam impotência. Uns e outros, no entanto, ganham com o aumento do endividamento. Já lá vão 200 mil milhões de euros! Ou será mais? Como amortizar tanto dislate?

Como diria o japonês, isto só lá vai se deixarmos morrer os velhos! Segundo a notícia, o limite de idade começa aos 60 anos, apesar dos esquecidos protestos de Vitorino Nemésio:
(...)
- «É bom não pôr limites à Misericórdia divina»
Disse um Papa velhinho
A quem exígua prece
                                 Votava uns anos mais
Como é próprio da Caixa de Descontos
         Dos pequenos mortais.
(...)
18.7.1971

21.1.13

Acabar sinónimo de integrar?

Político em ascensão: 'Quando eu disse "acabar" com a ADSE estava a querer dizer "integrar"... Um raciocínio coerente, pois quando a morte chega e acaba com o ser, ela mais não faz do que integrá-lo no cosmos. 
Na verdade, o temporal deste fim de semana apenas quis  acabar com os privilégios de  uns milhares de árvores de grande porte, que insistiam, contra ventos e marés, em altear-se nos areais de Leiria, nas serras de Sintra e do Buçaco... Havia mesmo um cedro que resistia há 370 anos!
O temporal nivela, torna igual o que é diferente e cresce à custa dos suculentos cactos que irrompem das encostas plebeias. 
Já andávamos esquecidos que no dicionário prático da língua portuguesa, "integrar" significou quase sempre "tomar pela força", sem com isso acabar com as nativas. Pelo contrário, paladinos da integração (da miscigenação), demos novos brasis ao mundo.

   

20.1.13

Vassouraria da Esperança

Ontem, referia que, sem complacência, o governo corta a torto e a direito e nós, complacentes, deixamos fazer. Pensava eu que esta resignação se ficaria a dever a falta de ferramenta democrática, quando, subitamente, dou de caras com a Vassouraria da Esperança (em tempos, propriedade do pai do Raul Solnado!). Fechada como milhares de outros pequenos estabelecimentos!?

Mas não! O atual proprietário teve o bom senso de mudar a Vassouraria para a Rua da Memória. Haja esperança! A memória acabará por nos ajudar a separar o trigo do joio e a varrer os cavacos, os relvas, os gaspares, os salgados, os loureiros, os coelhos e os selassiés deste mundo, sem ofensa para todos aqueles que continuam a merecer maiúscula…

19.1.13

Sem complacência

O Senhor Selassié diz ao governo português que «não é tempo de complacência». E talvez tenha razão! Os 82 mil milhões são para ser devolvidos com juros leoninos, sem cairmos na tentação de imitar os Gregos!
Por isso, sem complacência, o governo condena as empresas à falência, os empregados ao desemprego e à fome, corta nos vencimentos e nas pensões. Sem complacência, esvazia as universidades e os hospitais, e prepara-se para cortar 100.000 funcionários públicos - desde 2005, já saíram 166.000, e a Caixa Geral de Aposentações tem 34.000 em lista de espera!
Toda esta gente que sai da fábrica, da empresa, do hospital (no caso de ter tido a sorte de ter entrado e de ter sido bem tratada!), da universidade, da repartição, é atirada para uma terra de ninguém, à espera que a morte a liberte...
Sem complacência, o governo, às ordens do senhor Selassié, prepara-se para anunciar, em fevereiro, mais um conjunto de cortes, e, nós, complacentes, deixamos. Parecemos os judeus ordeiros a caminho do forno crematório alemão! 
A diferença é que os judeus eram uma minoria... e nós somos a maioria!

18.1.13

A eira

A memória era feita de tabuleiros ao sol de verão. Secavam-se as uvas e os figos! Por vezes, era o milho que esperava que o descamisassem…

Entretanto, a eira iniciou o retorno à origem… tal como a memória! Tudo naturalmente, com ou sem flores de alecrim.


17.1.13

Deus lhe pague

Não sei se é impressão minha, mas continuo a ver muitos jovens alheados dos problemas que assolam a maioria dos portugueses. Acreditam que o dia de amanhã lhes sorrirá como até aqui!
Claro, há sempre exceções! Ainda, hoje, uma jovem aluna apresentou oralmente a peça de teatro DEUS LHE PAGUE, de Joracy Camargo, mostrando, de forma singela, a sua surpresa face ao modo como o dramaturgo desmonta os preconceitos que ofuscam as ideias que devem mobilizar a atenção de cada um de nós. 
 
Mendigo: Na sua opinião. O que o povo quer é a coisa mais simples deste mundo.
Péricles: Qual é?
Mendigo: A supressão de uma palavra do dicionário.
Péricles: Qual?
Mendigo: Miséria!
Péricles: Só isso?
Mendigo:
 

Não basta suprimir a palavra do dicionário! Vamos ter que fazer mais alguma coisa. Nem que seja aprender com Joracy Camargo.
(Aqui fica uma sugestão de leitura, lusófona, e bem adequada ao momento que atravessamos!)