24.6.14
Se para tudo há um limite...
Em casa, tudo do avesso - até a roupa foi feita refém! No pátio do prédio, um arranque simultâneo só não terminou em acidente por uma unha negra.
Na Unidade de Saúde de Moscavide, a entrega de análises clínicas só com consulta! Ficou marcada para daqui oito dias, independentemente da urgência...
A cidade tem ruas onde não é possível fazer entrar qualquer veículo de mudanças, até porque há quem bloqueie a única entrada. Na mesma travessa, as escadas de acesso aos andares são íngremes. São tão inclinadas que nem à força de braços se consegue fazer subir o mobiliário...
Travessa dos Pescadores! Fiquei com com a sensação de que o melhor seria ter à mão uma catapulta ou, em alternativa, um cadafalso. Só para mim!
Entretanto, o cansaço vai fazendo o seu caminho: ataca, em simultâneo, os rins e a cabeça, isto sem falar das pernas, dos joelhos, dos pés.
O corpo virou rotunda, enrola-se sobre si próprio, misturando as saídas... e ainda faltam quatro horas de circunlóquios. São horas pesadas, adiadas, que, em certos momentos, parecem trazer consigo um inevitável desfalecimento...
Se para tudo há um limite, não sei do que espero...
23.6.14
O IAVE erra porque persiste no erro
Na dúvida, a questão 2.3 deve ser excluída (Exame 639). Neste tipo de pergunta, a ambiguidade é inaceitável.
O IAVE erra ao prolongar a polémica porque:
a) descontextualizou o enunciado (o leitor desconhece a sequência do texto ensaístico);
b) recorre a especialistas independentes, pressupondo que existem especialistas ajuramentados;
c) confunde a verdade com a opinião;
d) insiste em verificar conhecimentos de natureza pragmática com recurso a um tipo de exercício inadequado.
22.6.14
A Madona, de Natália Correia
O título deve a sua origem ao estatuto social da protagonista, Branca. Madona (do latim, mea domina), figura senhorial que, como norma de vida, quer submeter o homem: « Eu acabava de fazer uma descoberta que satisfazia o que quer que fosse que emprestava à minha alma soturna beleza de uma flor carnívora. Torturar um homem! Reduzir a cinzas a sua força bruta! Uma gruta cuja escuridão ia explorar.»
Esse programa é cumprido na exploração mental e física de Miguel, do Anjo e de Manuel - que acabará por se suicidar. Este suicídio é, por outro lado, a expressão da (im) potência da ruralidade portuguesa. Branca reduz Manuel a um objeto bestial, incapaz de compreender que a domina é estatutariamente mais forte que o vil servo...
A autora, neste romance, evita a contextualização histórica e geográfica, apesar de criar um lugar bem português - Briandos. Um lugar onde as ménades (bacantes) e as erínias (fúrias) se procuram libertar das grilhetas masculinas, à semelhança do que vai acontecendo um pouco por todos os lugares europeus percorridos por Branca...
E tudo decorre, sob a forma de evasão do torrão natal, até que Ereshkigal (divindade suméria, rainha da terra do não retorno) dite a sua lei.
Sob os fumos de Maio de 68, Natália Correia pratica uma escrita densa, elaborada, barroca, surrealista, intimista, feminista, em que as personagens se encontram ora em fase de construção ora em fase de demolição identitária pessoal e cultural. E, sobretudo, esta escrita foge à ideologia explicita, deixando- nos navegar em turbulentas águas míticas que nos levam dos mitos cristãos aos sumérios, com passagem obrigatória pelos greco-romanos... A sua escrita é simultaneamente crua e suculenta...
Autor: MCG
Autor: MCG
21.6.14
Preciso de sossego
Preciso de sossego. Há anos ainda cheguei a pensar que ele chegaria antes de morrer. Hoje, sei que ele já só é possível na morte.
Outrora, aprendi que o sossego era um estado interior. E até podia parecer verdade, mas, à época, as paredes chegavam a ter um metro de espessura e o silêncio só abria em ruído com hora marcada. Hora efémera!
Agora, instalo vidros duplos que insonorizam a morada, só que o ruído é um estado interior…
A informação é antevisão, é proclamação, é repetição, é aclamação, é negação. A informação passou a controlar todos os meus passos: sei o que não me interessa; sei o que me desestabiliza; sei, de véspera, ou inopinadamente, que continuo a ser bengala ou bordão; sei que não tenho tempo para acabar o que comecei… e por isso vou continuar a ler, devagar, A Madona, de Natália Correia, ciente de que chegado ao fim, talvez ainda tenha tempo para voltar ao princípio, sem, contudo, regressar a uns anos 60 que nada tinham a ver com o que eu era nesse tempo…
É, assim, o país, entre tempos e a vários tempos!
(E eu com saudades do silêncio...)
20.6.14
Apenas tempo ou um pouco mais…
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As fotos desaparecidas revelavam e escondiam… as palavras, neste caso, são apenas um complemento, talvez uma última prova de vida neste mundo palavroso.
Na primeira, o contraste revela o estado da governação. Deixo as palavras para o observador.
A segunda esconde vários dramas: o idoso doente e ignorado, o emprego precário, a imigração prostituída e alcoolizada, a juventude alienada pela ociosidade e pela droga… Tudo suavemente emoldurado pelo poder autárquico…
Há, também, por trás, um presidente do município que gosta de marchas, de magustos… loquaz, mas que cala demasiado, talvez por falta de tempo para se sentar num banco de jardim… longe dos holofotes…
19.6.14
Gente irritante
Duvido que, apesar dos títulos académicos, esta gente irritante saiba ler e escrever... No entanto, reconheço-lhe o mérito de saber acolitar qualquer poder emergente e de saber escolher o lugar que mais lhe convém.
Na verdade, esta minha irritação tem origem num pequeno enunciado: O exame de Português do 12º ano de escolaridade (obrigatória!?) serve para avaliar se o aluno sabe ler e escrever.
E eu que pensava que esse era o objetivo do exame de Português da quarta classe de há 50 anos! Se fosse hoje, eu teria entrado diretamente em qualquer Faculdade...
18.6.14
Exame de Português 12º Ano
ONTEM
«Castiguem-se lá os negros e os vilões para que não se perca o valor do exemplo, mas honre-se a gente de bem e de bens, não lhe exigindo que pague as dívidas contraídas, que renuncie à vingança, que emende o ódio, e, correndo os pleitos, por não se poderem evitar de todo, venham a rabulice, a trapaça, a apelação, a praxe, os ambages, para que vença tarde quem por justa justiça deveria vencer cedo, para que tarde perca quem deveria perder logo. É que entretanto vão-se mugindo as tetas do bom leite, que é o dinheiro, requeijão precioso, supremo queijo, manjar de meirinho e de solicitador, de advogado e inquiridor, de testemunha e julgador, se falta algum é porque o esqueceu o padre António Vieira e agora não lembra.»
Bem sei que o exame não visa medir a inteligência do examinando, mesmo assim, se começássemos por verificar a ligação de Saramago com Vieira (a intertextualidade), o que é que encontraríamos?
E se o tema da dissertação fosse a "justiça" neste sorumbático país?
Talvez seja pedir demais...
HOJE
Saramago e Vieira.
Não vale a pena ter lido o romance e o sermão! Intertextualidade nem cheirá-la! Em vez da "Justiça", a "Ambição" fundamentada no palpite... Quanto aos restantes conteúdos declarativos, sumiram... A Gramática está reduzida à rasteira...
Considerando o programa em vigor, bom seria que alguém esclarecesse quais são os objetivos da Prova de exame, 1ª fase, código 639...
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