18.11.15

Atos nefandos

O problema dos atos é que, aos olhos de quem os pratica, eles estão sempre justificados. O resto é juízo do outro, da comunidade. Esta pode aceitá-los ou rejeitá-los, reprimi-los conforme os seus interesses, os seus valores...
Deste modo, há que procurar compreender a génese das pulsões de morte e não aceitá-las, rejeitá-las, exaltá-las ou condená-las...e, sobretudo, há que evitar que as condições propícias à sua eclosão se disseminem.
Os atos nefandos, infelizmente, para além do executante e do eventual mandante, resultam de circunstâncias a que a comunidade não pode eximir-se. 

(Este comentário tem o objetivo de contrariar a tese de quem pensa que é possível erradicar o mal, como se este fosse uma entidade estática de natureza individual.)

17.11.15

Sou apenas um alcatruz

Por vezes, convenço-me que o Acaso determina os acontecimentos. O certo é que sempre tive relutância em aceitar que o Fado pudesse anular o livre-arbítrio, fazendo de mim um autómato iludido ou paranoico.

O facto é que, nestes últimos anos, tudo o que me acontece surge como se eu apenas executasse um guião de que não me posso furtar.
Cada dia parece diferente do anterior, no entanto o tempo de escolha vai-se diluindo de tal modo que apenas resta a obrigação de servir...

E nem o Acaso surge para me provar que a roda da Fortuna cai por um segundo para o meu lado - sou apenas um alcatruz, de raiz árabe...

16.11.15

Não, não vou por aí!

«Aquele que se mata faz morrer a sua vida, mas também mata a sua morte, ele anula o tempo situando a sua morte agora.»Patrick Baudry, Abordagem do Suicidário, in O Não-Verbal em Questão, Revista de Comunicação e Linguagens, nº 17/18.

O suicida é aquele que não quer morrer, que recusa que a morte seja uma inevitabilidade determinada pela desigualdade e pela segregação... O suicídio, mais do uma questão individual, é um problema cuja génese é social.

Como tal, repugna-me o discurso de que o suicida é um fanático instrumentalizado - um ser demoníaco que não hesita em arrastar consigo dezenas, centenas ou milhares de cidadãos anónimos... numa lógica maniqueísta...

Como se a solução estivesse na eliminação sucessiva dos bombistas suicidas, e não na eliminação dos factores que conduzem à desigualdade económica, social, política...

O argumento religioso só serve para encobrir uma abordagem errada desta problemática suicidária.

Je ne suis pas François Hollande!

Lembrando José Régio: 

«Não, não vou por aí! Só vou por onde 
Me levam meus próprios passos... 

Se ao que busco saber nenhum de vós responde 
Por que me repetis: "vem por aqui!"?»

Cântico Negro, in Poemas de Deus e do Diabo



15.11.15

Depois... mais cinza!

Par LIBERATION, avec AFP — 15 novembre 2015 à 21:53

Les chasseurs français ont largué dimanche 20 bombes à Raqqa, ciblant un poste de commandement et un camp d’entraînement de l'Etat islamique.

Depois... mais cinza! 
A França não resistiu à tentação. Avançou para a retaliação, escolhendo o caminho mais fácil com o objetivo de eliminar o inimigo externo.
Falta, no entanto, saber como é que vai eliminar o inimigo interno.

A França, como a civilização ocidental, age em nome da Liberdade, mas descura o princípio da Igualdade.

Por algum tempo, a França continuará a ser o alvo da Solidariedade daqueles que desprezam a Igualdade, mas mesmo essa fraternidade será efémera.

14.11.15

Ponto final

Caruma entrou em combustão. Por algum tempo, será cinza.

Depois...

A imaginação destruidora (cábula para um jovem desorientado)

Ontem, alguns indivíduos acrescentaram à "cábula para um jovem desorientado" uma terceira ideia - a imaginação destruidora.
Uma imaginação que serve um princípio que poderíamos pensar que fosse absurdo, doentio, mas que, de facto, serve uma causa cujos protagonistas consideram criativa. Por exemplo, a construção de um "estado islâmico" ou a refundação de califados há muito extintos...
Em Paris, ontem,  a imaginação deu à MORTE tal protagonismo que, hoje, o MEDO campeia, pondo em primeiro plano solidariedades proibidas e ruinosas. 
Do Irão à Turquia, passando por Israel, pela Rússia, pela China e pelos países ditos democráticos, mas que se alimentam da indústria do armamento, todos proclamam o seu apego à Liberdade..., fazendo rigorosamente o contrário.

13.11.15

Cábula para um jovem desorientado

Tema: A imaginação

Introdução (2 ideias, 1 parágrafo)

A - A imaginação como processo de fuga, de libertação de situações constrangedoras.
B - A imaginação como processo criativo.

Desenvolvimento (2 situações, dois parágrafos)

Situação primeira: explicitação de casos em que o indivíduo recorre à imaginação para se evadir - imaginação estéril e primária. Exemplos: sala de aula; vida familiar, social e política...
Situação segunda: explicitação de casos em que o indivíduo recorre à imaginação para criar alternativas (ideias, ferramentas, artefactos...) - imaginação artística, científica, tecnológica... Exemplos de acordo com o plano de estudos do jovem desorientado...

(Metodologia: na primeira situação, o indivíduo recorre à experiência; na segunda recorre à investigação, à indagação.)

Conclusão (1 parágrafo)

O escrevente confirma se o desenvolvimento do tema cumpre o estabelecido na introdução e, sobretudo, se contribui para uma melhor compreensão do processo imaginativo.