16.11.15

Não, não vou por aí!

«Aquele que se mata faz morrer a sua vida, mas também mata a sua morte, ele anula o tempo situando a sua morte agora.»Patrick Baudry, Abordagem do Suicidário, in O Não-Verbal em Questão, Revista de Comunicação e Linguagens, nº 17/18.

O suicida é aquele que não quer morrer, que recusa que a morte seja uma inevitabilidade determinada pela desigualdade e pela segregação... O suicídio, mais do uma questão individual, é um problema cuja génese é social.

Como tal, repugna-me o discurso de que o suicida é um fanático instrumentalizado - um ser demoníaco que não hesita em arrastar consigo dezenas, centenas ou milhares de cidadãos anónimos... numa lógica maniqueísta...

Como se a solução estivesse na eliminação sucessiva dos bombistas suicidas, e não na eliminação dos factores que conduzem à desigualdade económica, social, política...

O argumento religioso só serve para encobrir uma abordagem errada desta problemática suicidária.

Je ne suis pas François Hollande!

Lembrando José Régio: 

«Não, não vou por aí! Só vou por onde 
Me levam meus próprios passos... 

Se ao que busco saber nenhum de vós responde 
Por que me repetis: "vem por aqui!"?»

Cântico Negro, in Poemas de Deus e do Diabo



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