7.10.16

O leitor, a literatura e a política

Como leitor, deixei de obedecer a um plano de leitura.
Agora, estou a ler "Tristes Trópicos", de Claude Lévi-Strauss, uma obra quase da minha idade. Estarei atrasado, mas de nada serve apressar-me, até porque noutros tempos li imensos livros que já esqueci...
De junho para cá, li dois romances de Stendhal, um autor fascinante - Le Rouge et Le Noir e Lucien Leuwen.
Stendhal retrata de forma impiedosa a França  dos finais do séc. XVIII e as primeiras décadas do século XIX, sobretudo, a vida na capital e na província - universos distintos - mas conduzidos por único valor: o dinheiro. Claro que o amor, nas suas múltiplas máscaras, está sempre presente, porém, sobretudo, em Lucien Leuwen, não escapa às manobras ( nem sempre do protagonista) que conduzem à busca de uma melhor posição social e ao enriquecimento...
Todos querem enriquecer! Banqueiros, Ministros, Deputados, Presidentes de Câmara, Prefeitos... e, como tal, tudo fazem para eliminar quem quer que se lhes atravesse no caminho...
Ler Stendhal é conhecer um pouco melhor os bastidores da atual política portuguesa, inscrita no paradigma resultante do 25 de Abril. Bem sei que a ideia não é simpática, mas realistas e republicanos pós-revolução francesa comungavam do mesmo objetivo..
Numa perspetiva de história literária, vale a pena cotejar Stendhal com Almeida Garrett. Nenhum deles tinha ilusões quanto ao sentido da mudança..., pelo menos, para este leitor.

6.10.16

Não temos perdão!

Perdão fiscal?
Será efeito da escolha de António Guterres para Secretário-geral das Nações Unidas?
Ou antecipação da inevitável amnistia para assinalar a vinda do Papa a Portugal, em 2017, para celebrar os 100 anos das Aparições de Fátima?

Não temos perdão!
Como nem Guterres nem o Papa Francisco conseguirão o milagre de nos libertar da dívida, vamos continuar de mão estendida por tempo indeterminado...

5.10.16

O António Guterres que se cuide!

A rapaziada republicana está eufórica!
O pior é que ela acredita que a escolha do António Guterres para Secretário-geral das Nações Unidas foi obra sua...
Eu, por mim, estou convencido que os dois votos de desencorajamento são daqueles países que não compreendem por que motivo os partidos políticos portugueses devem continuar isentos de pagar o IMI.
O António Guterres que se cuide! O número de amigos está a aumentar a olhos vistos, começando pelos bancos da escola...

A rapaziada republicana

Definição: estigmatizar - marcar com ferrete, por pena infamante; acoimar, tachar. (Médio Dicionário Aurélio)

A propósito da cobrança de IMI, o republicano Montenegro disse ao DN: "Nós não compreendemos que se queira agora estigmatizar os partidos."

E parece que o cavalheiro anda em boa companhia. Os republicanos PSD, PS e PCP pensam do mesmo modo.
No dia em que se celebra a implantação da República, a rapaziada republicana quer conservar os velhos hábitos do Antigo Regime - de fora, ficam a Igreja, os Partidos, o Estado, as Fundações... 
Afinal, quem é que merece ser acoimado? De certo, o povo. Esse, sim, continuará a pagar o IMI e todas as taxas que o Governo e o Parlamento bem quiserem, até porque há quem tenha posto a circular que o ministro da Fazenda nos vai cobrar mais de 17 mil milhões até 31 de dezembro de 2016. Só para cumprir promessas!



4.10.16

Tal como as línguas, o saber é dinâmico

A investigação nas áreas do conhecimento cresceu de tal forma que o saber pressupõe cada vez menos certezas e, principalmente, exige uma abordagem cada vez mais relativizada, porque, apesar da overdose informativa, há sempre dados que escapam ao sábio...
É até questionável se ainda existem sábios, apesar dos governos, por vezes, apostarem em comités de sábios para, supostamente, se aconselharem aos olhos da opinião pública.
Como tal, não faz sentido a memorização de saberes, a não ser que se queira construir um modelo de sociedade ( e de conhecimento) assente em dogmas... Claro que é possível ( e vantajoso) adquirir certos automatismos, como, por exemplo, exercitar o cálculo mental e interiorizar os jogos de linguagem.
O saber pressupõe o manejo de ferramentas que vão mudando de época para época, mas não se esgota nelas. Surge frequentemente o argumento "de que os portugueses sabem de mais" e que o nosso futuro está na aposta no ensino profissional. Recentemente, um ministro defendeu 50% de cursos profissionais nas escolas portuguesas... Por detrás, habita a ideia de que nos basta memorizar uns tantos saberes sobre nós e os outros, e que o fundamental é lançar mãos à obra.
Ora, no mundo em que vivemos, as obras, velhas ou novas, exigem cada vez mais investigação que alavanque os saberes. Tal como as línguas, o saber é dinâmico. 

3.10.16

Sortes distintas para o prevaricador

Asfixiamos! A pressão, em certas épocas do ano, aumenta exponencialmente. Agora é a discussão do orçamento! Agora é o reinício do ano escolar!
Quer-se que o orçamento satisfaça os interesses das clientelas partidárias e, em simultâneo, seja capaz de agregar cada vez mais neófitos. Pouco interessa se há ou não recursos próprios, porque a expectativa vive do financiamento externo e julga razoável que o crédito possa ser ilimitado... e, sobretudo, que a amortização seja adiada indeterminadamente...
Quer-se que a escola seja um espaço acolhedor, com boa comida e festança, sobretudo, muita harmonia. Para tal, gizam-se atividades sem fim, integradoras e transversais, mesmo se os conteúdos essenciais ficam por assimilar por falta de tempo e de monitorização.
Com a pressão a aumentar, as taxas de juro não param de cantar. Só na escola, se a pressão aumenta, a solução é fácil, pois basta um ou dois processos disciplinares, e manda-se o prevaricador bugiar...


1.10.16

À sua maneira!

A maioria dos alunos frequenta o 10º ano pela primeira vez. Solicitei-lhes, à laia de diagnóstico, que escrevessem sobre o tema "As minhas Escolas".
E fizeram-no de forma responsável. Nem todos se lembravam do nome das escolas; outros, preferiram omiti-lo ou terão pensado que essa informação não era relevante...
Até ao momento, já registei o nome de 45 escolas da Grande Lisboa. De algumas, é possível colher dados rigorosos sobre o espaço físico, mas, na maioria, o que, sobretudo, aflora é a avaliação centrada na relação entre alunos, na existência de espaços favoráveis ao divertimento e, por vezes, no clima de bullying que se abatia sobre rapazes e raparigas, sem omitirem que a violência do meio entrava portas dentro e tornava o ambiente muito pesado.
No geral, estes alunos iniciaram o percurso escolar em espaços acanhados, mas simpáticos, para depois transitarem para espaços mais vastos, nem sempre acolhedores. Cada um fez o seu caminho com maior ou menor dificuldade, gratos a funcionários e a professores, mas nem a todos... indo ao ponto de dar conta de situações abusivas da parte dos adultos... Nem todos revelam ter grande consideração pela "escola", mas acabam por reconhecer que sem ela estiveram a hipotecar o futuro.
De qualquer modo, ainda não perderam a esperança de serem felizes no presente e no futuro. À sua maneira!