7.10.16

O leitor, a literatura e a política

Como leitor, deixei de obedecer a um plano de leitura.
Agora, estou a ler "Tristes Trópicos", de Claude Lévi-Strauss, uma obra quase da minha idade. Estarei atrasado, mas de nada serve apressar-me, até porque noutros tempos li imensos livros que já esqueci...
De junho para cá, li dois romances de Stendhal, um autor fascinante - Le Rouge et Le Noir e Lucien Leuwen.
Stendhal retrata de forma impiedosa a França  dos finais do séc. XVIII e as primeiras décadas do século XIX, sobretudo, a vida na capital e na província - universos distintos - mas conduzidos por único valor: o dinheiro. Claro que o amor, nas suas múltiplas máscaras, está sempre presente, porém, sobretudo, em Lucien Leuwen, não escapa às manobras ( nem sempre do protagonista) que conduzem à busca de uma melhor posição social e ao enriquecimento...
Todos querem enriquecer! Banqueiros, Ministros, Deputados, Presidentes de Câmara, Prefeitos... e, como tal, tudo fazem para eliminar quem quer que se lhes atravesse no caminho...
Ler Stendhal é conhecer um pouco melhor os bastidores da atual política portuguesa, inscrita no paradigma resultante do 25 de Abril. Bem sei que a ideia não é simpática, mas realistas e republicanos pós-revolução francesa comungavam do mesmo objetivo..
Numa perspetiva de história literária, vale a pena cotejar Stendhal com Almeida Garrett. Nenhum deles tinha ilusões quanto ao sentido da mudança..., pelo menos, para este leitor.

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