17.9.24

ANY WHERE OUT OF THE WORLD

Para que conste, embora tal não tenha qualquer interesse em tempo de fogo contínuo em floresta abandonada, acabei de ler PETITS POÈMES EN PROSE, de Charles Baudelaire - autor que sempre me interessou, embora nem sempre o tenha compreendido...

De todos os momentos (ou movimentos) que chamaram a minha atenção, gostaria de destacar um sob o azul cinza que me tolda a visão:

«Il me semble que je serais toujours bien là où je suis pas, et cette question de déménagement en est une que je discute sans cesse avec mon âme.
«Dis-moi, mon âme, pauvre âme refroidie, que penserais-tu d'habiter Lisbonne? Il doit y faire chaud, et tu te regaillardirais comme un lézard. Cette ville est au bord de l'eau; on dit qu'elle est bâtie en marbre, et que le peuple y a une telle haine du végétal qu'il arrache tous les arbres. Voilà un paysage selon ton goût; un paysage fait avec la lumière et le minéral, et le liquide pour les réfléchir!»

Não creio que Baudelaire tenha passado por Lisboa, mas parece que estava bem informado sobre os costumes, em particular, sobre a relação que os portugueses mantêm com o mundo vegetal. 

Areia, poeira e cinzas.

13.9.24

Quem te avisa...


teu amigo é... E ainda há quem continue a beijar-lhe a mão...e não queira perceber que há certas criaturas que nunca foram nem serão confiáveis...

Por isso lembro:


10.10.15

Ainda Marcelo, a sereia

Melhor seria que Marcelo Rebelo de Sousa tivesse explicado o que é que Portugal lhe deu e que, na verdade, não deu a muitos outros portugueses...
Este Marcelo urbano, que insiste nas raízes provincianas, apresenta-se como "vítima" da perda do Império, que lhe levou a família ao Brasil, na condição de emigrante... Há neste seu Portugal uma certa tendência para confundir o exílio político com a emigração!
O Portugal de Marcelo começa a ganhar uma substância que não é a minha. E essa substância acabará por deixar de se expor nas entrelinhas para surgir num movimento político que irá colocar-se à direita da atual Coligação PSD - CDS...
A campanha dos afectos já fora ensaiada com Marcelo Caetano como antídoto para ocupar o lugar do pai tirano e austero que governara o país durante quatro décadas. 
Agora a sereia pensa que o caminho falhado por Caetano pode ser reintroduzido para substituir o esfíngico Cavaco.

8.9.24

Essa estrada, ao volante...

Acabei de ler O Mistério da Estrada de Sintra, de Eça de Queirós e de Ramalho Ortigão, folhetim terminado a 27 de Setembro de 1870.
Dizem-me que devo considerar este mistério como o primeiro romance policial português. Quem sou eu para dizer algo de diferente? 
Durante a leitura, pressenti que Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire não andariam longe... e sobretudo, pensei que os autores desta obra seriam leitores compulsivos de tudo o que de 'romântico' e de' realista' ia sendo escrito por terras de França..., prontos a farpear costumes de que eles próprios nunca se libertariam por inteiro...
... e lá no fundo, voltou-me à memória a ideia de que toda a vida li o que me foi imposto sem qualquer critério... a não ser o de 'obra prima', o que acaba por ocultar a matriz da maioria das obras. Flutuantes,  estrelas de um universo à deriva...
Talvez seja por isso que cada vez mais se aposta no gratuito e no absurdo.

(Ficou-me o Carlos Fradique Mendes que eu imaginara surgido de outras águas, ou seria de um vulcão?

1.9.24

O despesismo autárquico

 

Mais uma empreitada! Barata, como se pode ver...
Não há dinheiro para o SNS, para desassorear os rios, mas não falta para encher os bolsos dos do costume...
Pode ser que daqui a três anos ainda lá continuem os candeeiros que já começam a bordejar... 
De qualquer modo, não saímos do ilusionismo pequeno burguês que vai engordando umas tantas tainhas ribeirinhas...

27.8.24

A condição do tempo


Este blogue teve, outrora, a pretensão de se inscrever no tempo, sem dele dar conta, ocupando-se, pretensiosamente, da duração...
Por incompetência ou por esquecimento, a descontinuidade instalou-se e o fio quebrou, ou os acontecimentos fúteis foram ganhando relevo e, ao mesmo tempo, perderam significado...
Sobrou, a necessidade de preencher a frágil linha do tempo... 

Esse preenchimento levou-me à leitura tardia de GUERRA e PAZ... e agora que já vou no Apêndice,  cito a propósito:
... ao passo que o homem atua sempre no tempo e é arrastado pelo curso das coisas. Restabelecendo esta primeira condição, tão desprezada - a condição do tempo - vemos que a mínima ação não pode ser executada sem outra anterior, que a tornou possível.

25.8.24

Longe do mar...

Embora não pensar nisso possa ser anestesiante, a verdade é que a leitura de A Guerra e Paz, de Tolstoi, me obriga a pensar na cobardia dos napoleões deste tempo que invadem, ocupam, arrasam terra alheia, como se estivessem a fazer um favor a alguém... e, sobretudo, obriga-me a pensar na má-fé de historiadores, comentadores que se deixam inebriar por palavras incapazes de explicar o que quer que seja, pois a realidade não obedece a planeamentos por mais racionais que possam parecer... O melhor é ler o romance, pois ele explica bem a voragem a que todo o ser humano é submetido durante a sua curta ou longa vida.
E já agora, desconfio que o Putin nunca leu Tolstoi... e sonha com Napoleão, o pequeno...

19.8.24

O melhor é não pensar nisso

 

mas eles estão por todo o lado... não fossem os rios e as montanhas, a questão nem se punha.
No entanto, não é o relevo que impõe limites, muralhas de todo o tipo. Na Natureza, não há canhões. Foi o homem que os inventou para solidificar o seu poder.
Por agora, vou soltar o barco e deixar-me ir nas páginas de Guerra e Paz, pois começo a acreditar que Tolstói escreveu tudo o que havia a dizer sobre os jogos de poder, bélicos e todos os outros...