9.11.24

Se passar por Torres Novas

 


... procure o rio Almonda, siga-lhe o curso e logo encontrará o que sobrou dos moinhos e lagares do Caldeirão, de que já havia registo no século XV...



5.11.24

Memórias inacabadas

Um pouco mais cedo

Para ti, que lutaste sempre,
Que nunca pensaste que o teu fim estava ali, naquele lençol branco, 
asséptico.
Que nem sequer esperaste pela meia-noite!
Foste embora um pouco mais cedo...

A morte é sorrateira, apressa-se invisível,
Esconde-se dos sentidos, destrói numa euforia devastadora.

Em certos casos, no entanto, a morte é mais leve do que a vida.
Anoitece apenas.
A vida, essa, pesa desmesuradamente.
Absurdamente.

(12/12/2005)

Aproxima-se

Cercam-me os fios dos teus cabelos
nocturnos silenciosos
Despontam em números proibitivos
os teus ávidos dedos

Parecem querer aproximar-se no mar largo
que fica para além do Sol

(22/1/2006)

Passei por lá e não te vi!
Refletia só a modesta jarra
Sombra ténue da tua presença.

Passei por lá e só ouvi
Sob a capa da terra
O eterno incómodo
dum involuntário queixume.

Passei por lá e não senti
a força da tua mão
E saí a procurar flores
esquecidas da tua presença.

Passei por lá e só vi
o olhar vazio
do corvo faminto.

(2/3/2006)

Se tu soubesses
O lugar donde partiste
tinhas ficado um pouco mais

Se tu soubesses
As máscaras que nos cercam
tinhas ficado um pouco mais

Se tu soubesses que as máscaras
ensaiam uma dança metálica
de espectros

Se tu soubesses
O lugar que me deixaste
tinhas ficado um pouco mais

Um lugar onde seduz um rosto sem luz

(1/7/2006)

Estranhamente

Irrompe das ruas desertas
a mudez das casas
Enleia as roseiras
a ervagem daninha
Agoniza ao sol de Inverno
secreta tubagem
 
Estranhamente procuro
o lugar
a voz
a rosa
a calma
 
Estranhamente ouço
o eco
da enxada,
da gadanha,
do arroio
 
Estranhamente
caio
e fico lá
num não-lugar
 
Enleado em mim mesmo

(3/3/2006)




4.11.24

É estranho!

Em certos grupos do Facebook ninguém conversa com ninguém, nem sobre a ausência de uma vírgula nem sobre os excessos de quem quer que seja...
Há, apenas, o registo pontual de uma nuvem que encobre ou que se vangloria.
Deveria haver uma forma de eliminar esses grupos inócuos, porque lixo já há que sobeje. Por vezes, chego a pensar que esses grupos são de plástico... 

O QUE É QUE EU ESTOU ALI A FAZER? Pelo menos, aqui, no blog, é tudo residual... a conversa é acabada.

2.11.24

CONVERSA desempoeirada....

Hoje, dia de defuntos, não toquei a lápide sepulcral nem lancei cinzas ao mar, fiquei-me pela conclusão da leitura da 'conversa de João Gomes com Ricardo Araújo Pereira' - O QUE É QUE EU ESTOU AQUI A FAZER?
Uma 'conversa' assente no conhecimento aprofundado dos livros sagrados e da literatura sobre Deus, a Fé, o HUMOR e a MORTE...
O ateísmo do humorista Ricardo Araújo Pereira faz-me lembrar o de José Saramago, de quem, curiosamente, não se fala nesta obra... talvez porque o entrevistador se situe noutra margem...
Esta 'conversa' é intensa e obriga-nos a pensar em preconceitos, em rituais e, em comportamentos defensivos perante o fim da matéria e, mesmo, sobre o esvaziamento da consciência... 

Por estes dias, as criaturas não têm motivos para rir, nem sequer para sorrir... Por mim, espero voltar a ler esta CONVERSA... 

30.10.24

A comédia de Balzac


 Ler a 'Comédie Humaine' de Balzac é a maior aventura que, como leitor, alguma vez, encetei.
Apetece-me dar da conta das 'manobras' napoleónicas e, sobretudo' dos mecanismos de conquista e manutenção do poder, mas o que percebo é que o 'poder' não existe nem nas monarquias nem nas repúblicas.
O que existe são teias de interesses que manobram na sombra dos poderosos de cada momento, podendo este ser fugaz ou geracional.
Os 'santos' do lugar não levam ao céu, mas permitem satisfazer ambições que todos sentem como legítimas, independentemente dos efeitos degradantes...

O problema é que se observarmos o estado do mundo atual... nada mudou. Balzac diz tudo o que há a dizer sobre o comportamento humano. Só mudam os títeres e as figurinhas!

24.10.24

Nas calhas...

Nas calhas da roda não gira nem a razão nem o coração...

giram as desigualdades

a deseducação

o laxismo

e, sobretudo,

os incendiários da política e da comunicação...

... o que não significa que os delinquentes possam continuar

À SOLTA

17.10.24

Uma nova linha...

Amanhecer
Da forma das linhas pouco sei, até porque, para mim, são quase sempre invisíveis... Sei que algumas me parecem mais carregadas e até mais ameaçadoras. Esforço-me, no entanto, por andar na linha, embora não saiba muito bem se isso me é favorável...
Ontem, abriu-se uma nova linha cujo único fito é sair do mundo virtual, aproveitar ao máximo a margem em que me encontro...
Se te encontrar por aí, daremos dois dedos de conversa...