9.8.11

O Arcanjo Negro

No Algarve, em pleno século XXI, o comboio é servido por uma única linha, por electrificar… Não se entende como é que a região que acolhe anualmente mais portugueses e estrangeiros não exige ao poder central uma ferrovia moderna e “amiga do ambiente”.
Para acompanhar o atraso que testemunho a cada passo, mesmo quando os governantes sonham com o TGV, continuo a ler Aquilino Ribeiro – homem que, no seu tempo, sempre lutou contra a subserviência…
No romance O Arcanjo Negro, terminado em 1939-1940, a acção decorre em Lisboa e arredores, sempre com o Tejo dianteiro, entre 1925 e 1929. De acordo com o autor, o objectivo era concluir o estudo do casal lisboeta, encetado com Mónica.
Mónica, que tem metade da idade de Ricardo, sofre os ímpetos do ciúme do marido que, progressivamente,  lhe aprisiona os movimentos e as ideias, transformando-a numa “monja” incapaz de se libertar do labirinto psicológico em que vai mergulhando. Em nome da ordem burguesa, sufoca a libido, desenhando espaços fechados, em que os  protagonistas se anulam
Para além de apresentar três novelas sentimentais, Aquilino retrata o clima insurreccional que crescia no final da 1ª República, descrevendo, pelo menos, duas revoltas fracassadas que, no essencial, visavam restaurar a utopia republicana, mas que falham, pois a maior dificuldade era encontrar o «homem clarividente» que desse sentido às aspirações dos “revolucionários”.
Essa falha de clarividência parece ser explicada pela natureza do homem português: indigente, doentiamente romântico, hipócrita, megalómano e, finalmente, mafioso ou simplesmente ladrão de ocasião.
É deste modo que as personagens se vão perdendo, quase sempre vítimas de cegueira mental, sem espaço de fuga ( a não ser a misteriosa “água-pé da terra natal de Afonso Ruas – Carvalhal do Pombo !!?). Nem o amor as salva!
Para Aquilino Ribeiro, a redenção estaria no aniquilamento da raça para, depois, começar tudo de novo…Nem Freud escaparia…
MCG

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