No Algarve, em pleno século XXI, o comboio
é servido por uma única linha, por eletrificar… Não se entende como é que a
região que acolhe anualmente mais portugueses e estrangeiros não exige ao poder
central uma ferrovia moderna e “amiga do ambiente”.
Para acompanhar o atraso que testemunho a
cada passo, mesmo quando os governantes sonham com o TGV, continuo a ler
Aquilino Ribeiro – homem que, no seu tempo, sempre lutou contra a
subserviência…
No romance O Arcanjo Negro, terminado em
1939-1940, a acção decorre em Lisboa e arredores, sempre com o Tejo dianteiro,
entre 1925 e 1929. De acordo com o autor, o objectivo era concluir o estudo do
casal lisboeta, encetado com Mónica.
Mónica, que tem metade da idade de Ricardo, sofre os
ímpetos do ciúme do marido que, progressivamente, lhe aprisiona os movimentos e
as ideias, transformando-a numa “monja” incapaz de se libertar do labirinto
psicológico em que vai mergulhando. Em nome da ordem burguesa, sufoca a libido,
desenhando espaços fechados, em que os protagonistas se anulam.
Para além de apresentar três novelas sentimentais,
Aquilino retrata o clima insurrecional que crescia no final da 1ª República,
descrevendo, pelo menos, duas revoltas fracassadas que, no essencial, visavam
restaurar a utopia republicana, mas que falham, pois, a maior dificuldade era
encontrar o «homem clarividente» que desse sentido às aspirações dos
“revolucionários”.
Essa falta de clarividência parece ser explicada pela
natureza do homem português: indigente, doentiamente romântico, hipócrita,
megalómano e, finalmente, mafioso ou simplesmente ladrão de ocasião.
É deste modo que as personagens se vão perdendo, quase
sempre vítimas de cegueira mental, sem espaço de fuga (a não ser a misteriosa
“água-pé da terra natal de Afonso Ruas – Carvalhal do Pombo. Nem o amor
as salva!
Para Aquilino Ribeiro, a redenção estaria no
aniquilamento da raça para, depois, começar tudo de novo…Nem Freud escaparia…
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