27.10.08

Pelo pouco que eu vi...

O VI Festival Internacional de Cinema Documental esteve desperto para a crueldade do mundo, fazendo-me recordar os versos de José Gomes FerreiraVai-te, Poesia / Deixa-me ver friamente /a realidade nua /sem ninfas de iludir / ou violinos da lua / Vai-te, Poesia.

E eu só vi:

 ALL White in Barking, de Marc Isaacs, Reino Unido, 2007, que retrata um mundo de preconceitos, fonteiras e xenofobia, à mistura com um ou outro ensaio de aproximação cultural, sob os holofotes do documentarista;

The Tailor, de Óscar Perez, Espanha, 2007, mostra um alfaiate paquistanês, no Raval, em Barcelona, acolitado por um indiano, e que não têm o menor sentido de responsabilidade. Ao paquistanês, só interessam o lucro e a religião. A curta, pelo insólito da relação, do paquistanês com as clientes promove o riso fácil, mas, a mim, deu-me vontade de fugir...

Bab Sebta, de Pedro Pinho e Frederico Lobo, Portugal, 2008, perante o encerramento da porta (fronteira) entre Marrocos e Ceuta, questiona, através de imagens secas e frias, a vida daqueles africanos que tudo fazem para chegar à Europa. A mesma Europa que no passado (e no presente) lhes liquidou as matérias-primas.  Estes africanos, depois de colonizados, foram abandonados à fúria dos elementos, ao despotismo dos novos líderes, à condição de infra-humanos... Um longo documentário que desgasta o espectador. As cidades, na sua profunda miséria, comovem pela vitalidade daqueles que, lá vivem e, sobretudo, que lá se escondem. E do deserto, resta-me o conselho: a única orientação que poderei ter, depois de dormir, é aquela que resulta da capacidade de manter a cabeça voltada para o horizonte que persigo... o resto é morte.

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