Um olhar despreconceituado… ou talvez não. A verdade é tudo o que nós ignoramos.
31.3.10
O Santuário de Nossa Senhora de Lurdes
26.3.10
Num país de tenentes…
24.3.10
Tenentes…
(Quando os tenentes se insinuam junto dos chefes, os pelourinhos crescem…)
O delator aponta o responsável por uma infração, com o intuito de comprometer o denunciado, tirando proveito junto do chefe. O relator dá, por escrito, um parecer sobre a acção e a ética de um profissional para ulterior deliberação do chefe. O capataz é um indivíduo lambe-botas capaz de se fazer ouvir pelo chefe.
Leio o i, oiço a Antena 1, ligo o canal Parlamento, atravesso a rua, desço a escadaria, dormito no autocarro, desperto na areia… e os tenentes, frenéticos, elevam a voz até as minhas sinapses explodirem.
Só não compreendo porquê… eu nunca quis ser chefe de ninguém! Mas se o fosse, teria como regra de vida: a eliminação dos tenentes.
21.3.10
Risonho, o futuro da Escola Secundária de Camões
E a propósito, para quem se interroga sobre o futuro da ciência e da poesia, transcrevo ARS POETICA de David Mourão-Ferreira:
Roubado à natureza o dossier secreto
Patente a analogia entre o fundo do poço
o rosto de Narciso o sangue do incesto
há-de tudo prender-se aereamente solto
Que o verbo seja um espelho
Que não baste no lago a pureza do rosto
A lira é com certeza a mão esquerda de Orfeu
Mas é a mão direita a que revolve o lodo.
20.3.10
Lugar de massacre…
19.3.10
A mentira…
Tenho um livro para ler e não o leio. Em alternativa, vejo um filme baseado numa adaptação da obra… e faço crer que é a mesma coisa, como se fosse possível reproduzir todas as vozes que atormentam o escritor…
Tenho um livro para apresentar na sala de aula e não o leio. Procuro uma sinopse na internet, copio-a e espero que o professor seja tão néscio que ainda bata palmas…
14.3.10
A Processionária…
Acabo de tropeçar na Lagarta do Pinheiro, vulgarmente conhecida como Bicho da Peçonha.Mata o pinheiro e provoca irritações graves na pele, olhos e sistema respiratório.
Bem me parecia que os congressos e as peregrinações não eram invenção humana… sem qualquer desconsideração pelas formigas. A partir de agora, posso criar novas e herméticas metáforas. E quanto à peçonha que vem atacando os pinheiros, vou passar a associá-la à peçonha que, no século XVI, invadiu as ruas de Lisboa vinda da Ásia e nos tornou definitivamente vítimas da abulia. Ou seria da acrasia?
(Ó meu velho Sá de Miranda tira-me daqui!)
13.3.10
Depois do crepúsculo…
As nocturnas aves apoderam-se do vazio e à desgarrada impõem um cântico estridente em tudo diferente da harmonia do cântico diurno. Nesta passagem, apercebo-me que as palavras e as imagens ficam incompletas sem as vozes da terra e do ar… No sono que se aproxima, talvez o coro se torne uníssono e sonho da noite anterior se desfaça…
/MCG
Sonho de cacifo…
Que eu saiba, os testes ainda se encontram no cacifo, à espera de terça-feira. Só eu tenho a chave, creio… Todavia, por volta das cinco da manhã de hoje, a quatro dias de distância, ao preparar-me para subir a escadaria, por volta das 7h50, dei de caras com o autor de um dos testes, acompanhado do respectivo encarregado de educação. Esperavam-me para me pedir satisfações: eu riscara uma série lexical, pois não considerara correcta a resposta em que B. me obsequiava com uma lista de hipónimos… De facto, como não enxergara nenhum hiperónimo, não entendia a classificação proposta e, sobretudo, não entendia que fosse possível alguém responder a uma pergunta que eu não formulara…
Até hoje, já me acontecera antecipar durante o sono as perguntas de que precisava para um teste. Mas nunca chegara a este ponto. Se terça-feira, B. e o respectivo encarregado de educação, por volta das 7h50, estiverem à minha espera no hall de entrada ver-me-ei obrigado a mudar de vida…
Neste caso, ao contrário do que Urbano T. Rodrigues pensa, nem no sonho é possível encontrar a redenção… Eis o motivo por que eu respeito todos os suicidas e abomino os directores regionais que vêem atenuantes nas «fragilidades psicológicas», como se estas fossem inatas ou capricho dos deuses.
11.3.10
Pontes…
Pontes sem alma lançam-se para as margens, jazem sobre o rio barrento, à espera que lhes façam justiça… Tempos houve que pensei que era ponte ou esteio. Quando o desencanto crescia, via-me na margem ou, apenas, orla… Hoje, nem ponte nem orla! Desespero de ouvir os políticos e os mosquitos, e sonho com a enxurrada definitiva que nos liberte da vacuidade e da imbecilidade…
(Na parede do fundo, olhos pueris e de riso escarnecem de mim…)
9.3.10
A culpa não é do Senhor Gulbenkian…
Esqueci-me de dizer que os patos da foto (post anterior) são do Sr. Gulbenkiam. De facto, os patinhos que vivem nos jardins das fundações não são afectados pelo P.E.C. Estas existem para não pagar impostos ou, pelo menos, para reduzir a carga fiscal dos gansos que nelas crescem.
Bom seria que conhecêssemos todos os gansos deste país! O P.E.C. só deveria ser aprovado, depois da lista dos gansos portugueses ter sido colocada online. Sempre poderíamos aproveitar o tempo livre para depenar uns tantos, em vez de sermos todos depenados – os patinhos é bom de ver.
7.3.10
Patinhos…
Vem aí o P.E.C.! E nós, patinhos, vamos pagar mais uma vez. O patinho começou a trabalhar cedo. Foi trabalhador-estudante. Convenceu-se facilmente que os sacrifícios pedidos beneficiariam a nação dos mais desfavorecidos – os desempregados, os idosos, os doentes e os debilitados. Os patinhos acreditam na justiça, na palavra dos políticos, na solidariedade!
De vez em quando, os patinhos levantam a cabeça e perguntam por que motivo são eles que pagam sempre a crise. Deixaram de compreender o significado da palavra “crise” – momento perigoso e decisivo. No país dos patinhos, a crise não tem passado nem futuro. A crise é. Como se fosse Deus, a crise dirá eu sou aquela que é para os patinhos. Não tem passado, mas vem de longe, a crise… e os patinhos vão continuar a trabalhar e a descontar…
Com tanta chuva, resta-nos o charco… E se nos afogássemos todos, de que serviria o P.E.C.?
4.3.10
Desse tempo que poderia ser agora…
«A ilha saturada de água ressuda agora em fontes, cascatas e ribeiros, cujo murmúrio ouvido no jardim, como um solo de flauta modulado a distância, os melros acompanham briosamente chilreando em coro.
Mas o que ia no céu não eram meras combinações ornamentais; as nuvens davam ali espectáculos ordenados, de acessível compreensão, como depressa verifiquei. Comédias e tragédias e autos e farsas.»
Manuel Teixeira-Gomes, Cartas Sem Moral Nenhuma (XIII).
Comentário: As palavras têm 100 anos; as imagens apenas 6. Todavia, a cor e a harmonia são da mesma idade. E só o artista consegue dar conta desse tempo que poderia ser agora, não fosse a cobiça e a rudeza do aluvião humano.
Por enquanto, acordo cedo para ouvir o chilrear solitário do melro que mora na palmeira em frente…
/MCG
1.3.10
Em tempo de mentira…
Despe-te de verdades/ das grandes primeiro que das pequenas/ das tuas antes que de quaisquer outras /abre uma cova e enterra-as / a teu lado (…) Discurso ao príncipe de Epaminondas, Mário Cesariny, Manual de Prestidigitação, 1956.
E se lançássemos este grão à terra, agora que ela está tão macia!