7.4.11

Todo este país é muito triste…

SEGUNDA — (…) De resto, fomos nós alguma cousa?
PRIMEIRATalvez. Eu não sei. Mas, ainda assim, sempre é belo falar do passado... As horas têm caído e nós temos guardado silêncio. Por mim, tenho estado a olhar para a chama daquela vela. Às vezes treme, outras torna-se mais amarela, outras vezes empalidece. Eu não sei por que é que isso se dá. Mas sabemos nós, minhas irmãs, por que se dá qualquer cousa?... (uma pausa)
A MESMA — Falar do passado — isso deve ser belo, porque é inútil e faz tanta pena...
SEGUNDA — Falemos, se quiserdes, de um passado que não tivéssemos tido.

(…)

SEGUNDATodo este país é muito triste... Aquele onde eu vivi outrora era menos triste.

Fernando Pessoa, O Marinheiro

São quatro donzelas, uma morta e três vivas, mas podia ser ao contrário: três mortas e uma viva; ou apenas, UMA, debruçada sobre si, num gesto plangente de rejeição do presente e de reinvenção de um passado outrora feliz…
É esse o tom de toda a obra pessoana decalcado de um país moribundo que insiste numa identidade tão longínqua que cada vez mais se esfuma na bruma…

Deste modo, sobra o gesto fingido da revelação de novas existências capazes de estimular o imaginário colectivo se este não estiver definitivamente enterrado no areal europeu…

Interpretando o sonho pessoano de tornar o outrora-agora, o grupo de teatro  da ESCamões mostrou-me, na última 2ª feira, que só a criação de novas existências pode contrariar a ideia de que Todo este país é muito triste… 
Em termos de produção dramática e ensaística, bem poderíamos tentar responder à pergunta: – Depois de Pessoa, Fomos nós alguma cousa?

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