O filme Os Dias de José Saramago e Pilar del Rio, de Miguel Gonçalves Mendes, que acabo de visionar, apesar do voluntarismo e da devoção dos protagonistas, não esconde a violência que o negócio da literatura impôs ao escritor, ao obrigá-lo a viajar permanentemente para promover as suas obras.
Ironicamente, o Saramago, que ainda sonhava ir à Índia, acaba por desejar ser árvore bem enraizada numa (im)possível reencarnação, para, à semelhança do Velho Restelo, combater a vã cobiça, provavelmente de cepa bem castelhana…
O escritor, amorosamente subjugado pela feminista Pilar, prefere convencer-nos que renasceu aos 60 anos para a literatura e, sobretudo, para o mercado do livro e das plateias mais ou menos histéricas que raramente mostram ter lido a obra do ídolo.
Dos dias, ficam-me alguns motejos: a) Como é que se pode escrever um prefácio sobre uma instalação se não se vê a instalação? b) Sem homem, não há Deus! c) Eu não nasci para ser escritor! d) Ver, ouvir e não calar! e) Os entrevistadores não acrescentam nada ao conhecimento! f) Os néscios são os outros…
Em síntese, apesar da vida encenada, o filme não consegue esconder a dor que minava o rebelde que, no íntimo, muito gostaria de ser tomado como santo!
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