3.11.13

Ler a tristeza

Há anúncios sobre tudo, até sobre seguros. Mas não há seguros contra os riscos provocados pela leitura de um livro triste.
Os livros do meu país são tristes, todos! E querem que os jovens os leiam, eles que se acham alegres e sedutores.
Os mais obedientes ainda ousam iniciar a leitura, mas acabam por desistir porque não suportam a leitura de livres tão tristes. Alguns confessam a desistência, e, pesarosos, procuram uma explicação, mas a tristeza sufoca-lhes a palavra. São genuínos, estes jovens, chegando a ter pena do professor...
Há muito que não encontro um leitor que compreenda a tristeza que percorre os livros de Miranda, Camões, Bernardim, Vieira, Garrett, Herculano, Nobre, Cesário, Camilo, Pessanha,  Eça, Aquilino, Pessoa,  Brandão, Florbela, Almada, Miguéis, Sena, Rovisco, Belo, Agustina, Alberto, Saramago...
Há muito que não encontro um leitor que compreenda que a tristeza não é uma propriedade dos livros. A tristeza existe em nós, portugueses! Existe em nós desde que partimos... para a Índia.
A sorte destes jovens é que ainda não descobriram que, também, eles são portugueses!    

1 comentário:

  1. Portugal é um pais triste. Sempre foi. As obras que os alunos ''lêem'' ou que são abordadas nas aulas como bons retratos da literatura que são, são tristes, os alunos não se acham capazes de ver a tristeza nessas obras como parte delas mas sim como motivo (ou desculpa) para não as lerem, mas a sua educação passa também por ai, ou deveria passar, porque mesmo não vindo nos programas são esses assuntos que numa disciplina como Português importa serem discutidos, porque são eles que os prepararão para terem um futuro onde conhecerão o que realmente é Portugal.
    De um ''cinzentão'' com orgulho

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