30.11.13

O pé de porco

Vou ao mercado e compro um pé de porco. De seguida, compro duas latas de feijão branco... e vou pensando "um indivíduo da minha idade condenado a mais sete anos de magistério, se come esta chispalhada, acaba mal, ainda por cima diante de jovens que não veem razão para aturar uma múmia....»
Na verdade, aquele pensamento era desnecessário porque há muito que ando arredado de tais comezainas. Bem sei que a vida são dois dias, embora o governo diga que são três, e que o melhor é aviar-se em terra antes que a pensão falte...
De qualquer modo, o pé de porco está a dar-me trabalho, pois não lhe tendo tirado as medidas, ele recusa-se a acomodar-se na panela de pressão. Pacientemente, vou o desossificando, mas a tarefa é árdua...
Quase tão árdua, como amortizar a dívida e, simultaneamente, classificar três turmas que, perante a tese de que o endividamento nacional terá começado com a necessidade de pagar à Europa, em especiarias, o empréstimo contraído para a construção da armada de Vasco da Gama, trocam a ordem das respostas deixando-me à deriva entre uma arca frigorífica que demora a descongelar e um osso barato, mas arrenegado...
Felizmente que uma boa parte destes jovens alunos percebeu que a causa da dívida também era endógena. De facto, os europeus, já no século XVI, fixavam o preço! Só que, por seu turno, a Corte evitava o pé de porco, preferindo outras iguarias, outros luxos... deixando, como hoje, o povo na miséria.   

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