Na tradução portuguesa, são 1030
páginas de peripécias e de personagens excêntricas, criadas a partir de espaços reais, como a Ciudad Juárez, na fronteira do México
com os Estados Unidos, transformada em Santa Teresa: o expoente da exploração
capitalista, do assassínio de mulheres, do narcotráfico, do crime em todas as
suas facetas, da total perda de identidade…
De certo modo, a cidade das
fábricas maquiladoras é a nova face do nazismo, como se, afinal, este tivesse
saído da Alemanha para o Novo Mundo, lugar de reposição de todas as taras
europeias…
Ler 2666 é também revisitar os
infernos da guerra, da degeneração e da decadência intelectual ocidental ao longo do século XX.
Finalmente ler 2666 é ter como
guia um narrador que se afasta dos academismos, dos críticos parasitas e
sanguessugas, e que vive o mais longe possível dos centros de poder. Segui-lo é,
para o leitor, uma verdadeira aventura que lhe consome as energias e que o
obriga permanentemente a interrogar-se e a posicionar-se no mapa do mundo, na
esperança de compreender por que motivos 2666 é o centro do mundo para Roberto Bolaño.
Talvez, porque o mundo se
encaminhe a passos largos para o seu ocaso… 2666 lembra-me as profecias de Vieira e de Nostradamus, centradas no ano de 1666.
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