Como, até ao momento, nem familiares nem amigos decidiram candidatar-se a primeiro-ministro ou a presidente da república, sinto-me à deriva: não sei se me devo abster ou votar em branco.
Ao ouvir os candidatos, pressinto que me estão a querer enganar: uns surgem mais louros, outros mais brancos, outros ainda mais informais, sem falar daqueles que, invisíveis, querem fazer crer que a Luz está quase a chegar.
Houve tempos em que me norteava por um critério ideológico e votava sempre do mesmo modo; depois, comecei a pensar que os valores dos candidatos deveriam determinar as minhas opções, mas a pouco e pouco fui descobrindo que a honestidade, o rigor, o profissionalismo tinham perdido espaço, sendo substituídos pela mentira, pela corrupção, pela incompetência e pela propaganda...
Deste modo, só me resta o critério da vizinhança: Um dia trabalhei numa escola frequentada por um jovem cheio de iniciativa que hoje se candidata a primeiro-ministro; presentemente, vivo num bairro, onde reside uma mulher que sonha ser presidente da república.
Lançados os dados, uma coisa posso, desde já, garantir: Se o jovem chegar a primeiro-ministro, a minha vizinha nunca será presidente da república; mas se o jovem do Liceu Passos Manuel perder, a minha vizinha ainda tem uma hipótese...
Em conclusão, este critério assegura-me que, no futuro, não teremos um primeiro-ministro e um presidente da república saídos do mesmo berço...
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