A Casa dos Estudantes do Império foi criada por sugestão de um ministro das Colónias de Salazar, Francisco Vieira Machado. Mas acabou por ser apelidada por um inspetor da PIDE de «alfobre de elementos anti -situacionistas». O Estado Novo acabou por extingui-la em 1965.
Em 1943, entre um grupo de estudantes oriundos de Angola, surge a ideia de
criar, em Lisboa, a Casa dos Estudantes de Angola. Da comissão
organizadora fazem parte Alberto Marques Mano de Mesquita e Ângelo José Vidigal
Dias, da Faculdade de Direito; Carlos Torres de Sousa Júnior, Manuel Seabra de
Azevedo e Emílio Freire Leite Velho, da Escola Superior de Medicina Dentária;
Alberto Pereira Diogo e Acúrsio de Sampaio Nunes, do Instituto Superior
Técnico. A iniciativa tem o apoio do comissário nacional da Mocidade
Portuguesa, o que vale a Marcelo Caetano o título de presidente de honra da
Casa.
Os estudantes de outros cantos do Império seguem o exemplo dos angolanos, o
que desagrada ao regime, defensor da ideia de «unidade da nação portuguesa».
Assim, numa visita à Casa dos Estudantes de Angola, realizada a 3 de junho
de 1944, o ministro das Colónias Francisco Vieira Machado, na presença de
Marcelo Caetano e dos representantes das outras associações (Aguinaldo Vieira,
de Cabo Verde); Vasco Benito Gomes da Índia; Gonçalo de Sousa e Macedo
Mesquitela, de Macau; e Francisco Maria Martins, de Moçambique), formaliza a
proposta de fusão de todas as Casas na Casa dos Estudantes do Império (CEI).
Em Outubro de 1944, a CEI-sede começa a funcionar, sob a presidência
de Alberto Marques Mano de Mesquita,
no n.º1 da Rua da Praia da Vitória,
ao Arco do Cego. Mas, no mês seguinte, muda-se para o n.º 23 da Avenida Duque de Ávila, onde vai permanecer até à sua
extinção. Por essa altura, abre também uma delegação em Coimbra.
Logo em janeiro de 1945, na abertura de um ciclo de palestras
promovido pela CEI, sob o patrocínio da MP, Marcelo Caetano revela aquilo que o
regime espera da Casa: que
contribua para o «triunfo do espírito português», trabalhando em prol da
formação colonial da juventude.
No entanto, quase todos os elementos dos corpos gerentes da Casa para o ano
lectivo 1945-46 assinam as listas do Movimento de Unidade Democrática
(MUD) e juntam-se a partir de 1946, ao MUD Juvenil.
Em 1948-49, encontramos novamente os estudantes que dirigem a CEI ao
lado da oposição, a favor da candidatura de Norton de Matos.
Em meados de 1950, os membros da secção da Índia da CEI recusam
subscrever uma declaração de repúdio pelas afirmações de Nehru hostis à
política portuguesa na Índia.
Na viragem para os anos 50, a CEI começa a estruturar-se como um
espaço de socialização antissalazarista, de re (descoberta) da cultura
africana, de denúncia do colonialismo, onde se formam politicamente alguns dos
futuros dirigentes dos movimentos de libertação: Amílcar Cabral, Marcelino dos
Santos, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Vasco Cabral.
A 30 de Maio de 1952, o Governo nomeia uma comissão administrativa que irá
dirigir a Casa até 1957: «Nada
contra a nação, tudo pela nação.»
Segundo o novo regulamento, homologado pela Mocidade Portuguesa em 7 de fevereiro
de 1957, a Casa dos Estudantes do Império deixa de se organizar em secções (consideradas
pelo regime focos de nacionalismos) e não pode interferir em assuntos de
carácter político.
A secção editorial da CEI, sob o impulso de Carlos Ervedosa, Fernando
Costa Andrade, Fernando Mourão e
Alfredo Margarido, publica antologias
de poetas e contistas angolanos (1959 e 1962), de poetas de Moçambique (1962) e
de São Tomé e Príncipe (1963). Obras de Luandino Vieira, Mário António, Viriato
da Cruz, António Jacinto, Agostinho Neto e José Craveirinha figuram na Coleção
Autores Ultramarinos. Através do seu boletim “Mensagem”, dirigido entre outros
por Tomás Medeiros, revela muitos dos mais importantes escritores africanos e
põe a circular textos anticolonialistas.
Por volta de 1960, a CEI tem cerca de 600 sócios, uma cantina que
serve uma média de 200 refeições diárias, um lar com 14 residentes, uma
biblioteca, um salão de jogos e um posto clínico. Além da sede em Lisboa e da
delegação de Coimbra, funciona também uma delegação no Porto (criada em março
de 1959).
Em 1960, na CEI – Coimbra, surge um manifesto intitulado “Mensagem ao
Povo Português” que revelava as acusações feitas na ONU contra a política
colonial portuguesa e propunha o imediato reconhecimento do direito dos povos
das colónias à auto-determinação.
A delegação da CEI, no Porto, foi encerrada em janeiro de 1961.
Apesar da vigilância da PIDE e da ingerência da comissão imposta pelo
Governo, a CEI é um dos lugares em que se prepara a saída de Portugal de várias
dezenas de estudantes africanos que irão juntar-se aos movimentos de
libertação.
Em Março de 1962, tendo as comemorações do dia do estudante sido
proibidas, a CEI associou-se ao luto académico. Durante a crise, a CASA
disponibilizou as suas instalações..., levando a PIDE a invadir a sede... A CEI
é extinta em setembro de 1965.
Entretanto, em 1963, tinham sido criados os Estudos Gerais
Universitários em Angola e Moçambique
Nota: Em 21 de Maio de 1965, o Ministro da Educação Nacional
determinou a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE). Na semana
anterior, o Grande Prémio de Novelística fora atribuído a “Luuanda” do escritor
José Luandino Vieira.3 O premiado era membro do MPLA e
estava preso no campo de concentração do Tarrafal, acusado de atentar contra a
“segurança do Estado”.4 (ver
envolvimento do Jornal do Fundão através de Alexandre Pinheiro Torres, um dos
membros do júri).
1 - Em Janeiro de 1992, foi criada a Associação Casa dos
Estudantes do Império. Objectivo: preservar e difundir o legado cívico e
cultural da CEI... Personalidades envolvidas: Orlando de Albuquerque, Vítor
Evaristo, Luís Pollanah, Carlos Eduardo Ervedosa, Fernando Costa Andrade,
Alfredo Margarido, José Ilídio Cruz, José Manuel Vilar.
2 - Celestino Marques Pereira (O ensino colonial da
Juventude) deseja mesmo que a CEI seja uma filha da Mocidade Portuguesa.
3 - Foram também premiados Isabel da Nóbrega (romance) e
Armando Castro (ensaio).
4 - ver Entrevista a Luandino Vieira, no Público de
15/5/1995.
5 - Xavier de Figueiredo – Jornalista, Público, 8 de
Maio de 1994.
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