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27.5.12

Inaceitável!


«Um indivíduo português, de origem africana, de 36 anos, foi esfaqueado mortalmente.. »

«Segundo a mesma fonte, a vítima foi esfaqueada no pescoço, por um outro indivíduo, também português de origem africana…»

Onde é que está a notícia? O que é que a suposta «origem africana» acrescenta em termos de informação?

Um português, nascido em 1976, foi assassinado. Porquê? Por causa da origem? Esta forma de fazer jornalismo é inaceitável!

A não ser que amanhã possa ser notícia: «Um indivíduo português, de origem caucasiana foi esfaqueado mortalmente por outro indivíduo, também português de origem caucasiana

10.1.12

Iníqua justiça

«Porem compre aos Reis seer justiçosos, por a todos seus sogeitos poder viir bem, e a nenhuum o contrairo.» Fernão Lopes, Crónica de D. Pedro I

Fernão Lopes, se hoje vivesse, estaria certamente boquiaberto face a um Estado que permite que os cidadãos da Madeira, ao dirigirem-se a uma farmácia, estejam a ser tratados de modo diferente dos do Continente.

Outrora, o Rei D. Pedro I procurava a todo o custo assegurar a equidade, independentemente dos afectos; hoje, o Presidente da República passa ao lado da iniquidade que grassa neste pretenso Estado democrático, perdendo definitivamente o direito a ser considerado um «homem bom».

« … porem a justiça he muito necessaria assi no poboo como no Rei, por que sem ella nenhuma cidade nem Reino pode estar em assessego.» ibidem

12.12.11

A dívida

Segundo o presidente da Câmara de Montalegre, Fernando Rodrigues, o município vai virar o ano sem dívidas e com dinheiro «em caixa» para 2012.

Feito extraordinário na atual conjuntura. Só é pena que alguém possa pensar que este município seja um dos mais pobres do país!

A não ser que a riqueza de uma autarquia (ou de um país) se meça pela capacidade de se endividar, nesse caso a satisfação de Fernando Rodrigues não passaria de um sintoma de infantilidade.

Por mim, penso que, no próximo 10 de Junho, o presidente Cavaco Silva deveria condecorar todos os presidentes de câmara cujos municípios virassem o ano sem dívidas.

20.10.11

Uma questão de unhas…

«…enfim, ainda ao pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.» Padre António Vieira

Apesar de ter comentado que a Literatura se coloca frequentemente à margem das Finanças, é bom não esquecer que, por razão que nos continua a escapar, embora compreensível, um anónimo do séc. XVII nos deixou uma lista exaustiva dos modos de furtar.

Para quem pense que já não há nada a aprender, registo aqui os títulos de vários capítulos (no total, são 70) que compõem A ARTE DE FURTAR.

- Dos que furtam com unhas reais.

- Dos ladrões que furtam com unhas pacíficas.

- Dos ladrões que furtam com unhas militares.

- Dos que furtam com unhas tímidas.

- Dos que furtam com unhas sábias.

- Dos que furtam com unhas de fome.

- Dos que furtam com unhas amorosas.

- Dos que furtam com unhas de não sei como lhe chamam.

Amicorum omnia sunt communia.

15.7.11

Diferenças…


A árvore dá frutos sem que eu lhe(s) saiba o sabor e o nome…


Colocadas lado a lado, as rochas não conhecem o desespero do fim…


Podiam ser as minhas janelas se eu tivesse alma!


A borboleta cumpre… e eu interrogo-me!

6.6.11

É difícil mudar!

Hoje estive, entre as 11h15 e as 12h45, no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, para ser submetido a um exame médico, cujo resultado será enviado ao meu médico assistente num prazo de três semanas.

Entretanto, enquanto por lá permaneci, tive tempo de perceber que tarefas que exigem extrema atenção são executadas no meio de conversas gratuitas e pautadas por continuadas sms, ou interrompidas para atender conhecidos e amigos que beneficiam de celeridade insuspeita e de tratamento privilegiado…

Nem vale a pena lastimar o tempo que passei já preparado à espera que o radiologista aparecesse, quando, ainda na sala de espera, vi doentes da medicina interna abandonados à porta dos gabinetes até que  surgia um auxiliar a perguntar-lhes se já tinham feito os exames… De comum, nenhum daqueles doentes se encontrava em condições de dizer o nome ou de confirmar se sim se não…

Concluído o exame, ninguém me disse onde deveria dirigir-me para fazer o pagamento, como se essa diligência nem existisse… Lá descobri a tesouraria, apesar de não haver nenhuma placa a assinalar o local. 

Fiquei, deste modo, esclarecido sobre as dívidas dos utentes, sobre a baixa produtividade nas unidades de saúde, sobre o desleixo em certos actos médicos, sobre o modo como os doentes mais indefesos são tratados, e sobre o modo como o amiguismo e o corporativismo beneficiam de privilégios que não deveriam existir num estado de direito…

27.3.11

Movimento, cor e pólen…


Afinal, o comboio do pinhal interior ou não é azul ou a CP resolveu pregar-me uma partida.


Carros antigos domingueiros desafiam a ponte metálica…

e rodam garridos numa terra deserta sob um céu plúmbeo.

Passemos ou não,
os êmbolos,
engrenagens
quase eternas;
ao lado,
casas
desabitadas,
antenas
desorientadas…

outrora,
agora,
com ou sem
roda, comboio,turbina,
o zângão fecunda,
morre.

(Infelizmente, também há o zângão estéril que sobrevive!

18.2.11

Em nome de quê?

 


Bem antes de Cristo, Antístenes, mestre dos Cínicos, ensinou que a única comunidade aceitável é a dos cães, que sabem mendigar e nunca se acanham.
Entretanto, Cristo trouxe a lição do pudor e do arrependimento, e com isso uma multitude de sectários que caritativamente exercem a censura e a mentira… condenam a ambição e, poços de cobiça, amortalham a esperança…

Em nome do quê?