16.12.09

Avaliar a indisciplina…

Actualmente, os estudantes do ensino secundário revelam-se capazes de avaliar o trabalho realizado e, na sua maioria, são ponderados na auto-avaliação. Uns tantos chegam a ser modestos.

No entanto, uma minoria valoriza excessivamente o pouco trabalho que efectua e, sobretudo, desvaloriza o prejuízo que resulta da sistemática perturbação que gera na sala de aula.

A indiferença em relação ao trabalho  dos colegas, a interrupção permanente, as conversas paralelas são factores que, se negligenciados, acabarão por atrasar o processo de ensino e prejudicar todos aqueles que têm mais dificuldades.

Se queremos uma sociedade mais justa não podemos continuar a premiar a indisciplina.

13.12.09

O anátema do comboio

Já foi assim na segunda metade do século XIX. O povo, que dera novos mundos ao mundo, via na locomotiva uma máquina infernal capaz de destruir as colheitas e os povoados.

Entretanto, com a circulação do monstro, uma nova geração descobre Paris e sonha ligar Portugal à Europa. É esse o sonho que surge como objectivo primeiro dos conferencistas do casino, em 1871.

No entanto, o país não deixa de ser provinciano. O seu escol bem procura o estrangeiro, mas volta sempre, quando volta, com o sentimento de que há algo de irremediável na atitude portuguesa.

Em meados do século  XX, o comboio volta a ter um papel fundamental no êxodo dos emigrantes. Viajar de comboio torna-se numa penosa e promíscua odisseia. O sonho do regresso passa a fazer-se anualmente em velozes e mortíferos carros, tudo para evitar o maldito comboio.

Hoje, continuamos a suspeitar do comboio. Parece que tememos que ele nos leve de vez para essa Europa tão desejada pelos homens da geração de 70. Preferimos o isolamento, mesmo sabendo que já ninguém quer saber da epopeia de quinhentos.

E é pena, mesmo que viajar seja perder países!  

10.12.09

A via…

Há sempre quem nos queira convencer (Kant?) que o pensamento dogmático é o pensamento ingénuo, o pensamento sem suspeita e, portanto, sem vigilância.

Levianos seremos nós se nos deixarmos levar por tal ideia. Embora os seguidores pensem pouco ou nada, a verdade é que quando o fazem, é sempre no seu interesse, indiferentes aos estragos.

A estrada é lhes aberta por um estratega que preza os bastidores…, apenas uma folha que cai no caminho…

( Da tradução à traição, vai apenas um pequeno desvio… Não vale de nada olhar para o étimo, nem para a via!)

8.12.09

O Belo é a expressão sensível da Ideia (Hegel)

Não há nenhuma incompatibilidade entre a educação da sensibilidade (valores estéticos) e da racionalidade (valores lógicos).

A escola, ao definir as linhas orientadoras do projecto educativo, não pode esquecer que a sua oferta formativa deve ser equilibrada. Se queremos contribuir para que a sociedade seja mais solidária, não podemos ceder à pressão da “procura”.

O critério de decisão não pode ser o curto prazo. Quem dirige tem de saber projectar o futuro. E, ao contrário do que comummente se diz, o decisor não é obrigado a reger-se por critérios economicistas e de prestígio social. Basta que tenha presente a lição do passado.

Uma boa parte da decadência portuguesa tem origem no modelo de escola que separa os valores estéticos dos valores lógicos, sem qualquer proveito.

7.12.09

Notas soltas…

A filosofia está matricialmente comprometida com a razão social, sem descurar o desejo, o amor, a vontade de sabedoria (sofia) e de sageza.

A modernidade encena a emancipação da filosofia relativamente à teologia. O ateísmo é o limite desse caminho. E o percurso é extremamente doloroso na 2ª metade do século XIX (os poetas desesperavam pelo nirvana libertador…). No século XX, esse percurso tornou-se cínico. Veja-se a obra de José Saramago.

Hoje, Epicuro regressou com a experiência interior transmitida por gurus momentâneos e hedonistas.

Entretanto, o sábio é aquele que é o outro pelo seu saber /fazer – a alteridade liberta do particular…

5.12.09

Quebre o espelho!

Nora Ephron, na obra Não Gosto do meu Pescoço e outros Humores, Achaques e Amores da Vida das Mulheres , é contundente na abordagem do envelhecimento: “Os nossos rostos são uma mentira e o pescoço é a verdade. Desistam de querer enganar ou então escondam o pescoço. Desviem-se de espelhos, usem gola alta e lamentem-se de não terem passado mais horas a contemplar o pescoço antes da hecatombe."

Uma ideia que dá que pensar sobre o tempo que homens e mulheres gastam frente ao espelho. Provavelmente, somos dominados pela vaidade. Nora Ephron não terá lido José Rodrigues Miguéis que, em tempos, escreveu uma bela ‘estória’ intitulada A Importância da Risca do Cabelo.

Eu também não li Nora Ephron, tendo, no entanto, visto hoje o filme por si realizado, Julie & Julia (2009). Duas mulheres ( ou serão três?), em tempos distintos, preenchem o tempo, a escrever e a executar receitas de cozinha francesa, com o objectivo de ensinar os americanos a cozinhar… A testagem das receitas é fonte inesgotável de situações cómicas bem representadas /caricaturadas por Merly Streep e por Amy Adams, com a particularidade desta última dar corpo a um blog, onde durante 365 dias regista o (in)sucesso da sua emulação e da relação com o trabalho e com o marido.

Em conclusão, se lhe sobrar algum tempo ou se o não tiver quebre o espelho e vá ao cinema ver Julie & Julia, e verá que não perderá o seu tempo.

3.12.09

Chicos-espertos…

Em nome da democracia, uns procuram afanosamente escutar e aceder às conversas das figuras mais ou menos publicas, outros (os mesmos?) escondem religiosamente as fontes, de forma a impressionar o saloio. Infelizmente, há cada vez mais parasitas entre nós!