15.10.10

Fibra a fibra…

«O tempo é terrivelmente longo, fibra a fibra, e de repente – por onde se escoa ele?» José Rodrigues Miguéis, A Escola do Paraíso

De tal modo se escoa o tempo, que, ultimamente, tenho evitado falar dele. Os sinais de quebra acentuam-se a cada passo e, paradoxalmente, a CRISE torna as horas absurdas e estupidifica as mentes em ânsias ensurdecedoras…

Falta o tempo e, ao mesmo tempo, cresce o desânimo. Há vidas que subitamente perdem sentido. Parece que regressamos aos tempos dos «vencidos da vida»…, ou da estagnação do «estado novo»…

A CRISE alastra punindo quem cumpre e /ou quem tem menos recursos, enquanto a economia paralela sobrevive impune. Não só o Governo não explica como é que delapida as receitas fiscais e os empréstimos sucessivos obtidos no exterior, como descura a fiscalização de uma multiplicidade de actividades que não pagam qualquer tipo de impostos.

O novo orçamento de estado reduz a pele e o osso o cidadão cumpridor. Ao lado, engordam os onzeneiros e os cadongueiros…

9.10.10

Acumulação…

Há palavras que, de vez em quando, ganham vida, como ‘acumular’, ‘cúmulo’, ‘acumulação’… Consideradas a situação financeira, a taxa de desemprego, a estagnação económica  e a carga fiscal que se abate sobre a maioria dos portugueses e, em particular, sobre a administração pública, o possível humor que o despertar destas palavras poderia desencadear já não faz qualquer sentido.

Sejamos sérios. Como é que alguém pode justificar as situações de acumulação de tarefas e de remunerações quando uma boa parte da população (qualificada ou não) se encontra inactiva por falta de trabalho?

O argumento da falta de qualificações para o exercício de certos cargos é absurdo, sobretudo, quando sabemos que essa dificuldade pode ser ultrapassada com FORMAÇÃO, competente e dada por quem, de verdade, conheça as matérias em questão.

Num país em que os recursos são limitados, não há justificação para que uma minoria se aproprie de grande parte do orçamento, deixando à míngua centenas de milhares de portugueses. Há que proceder à redistribuição do trabalho, começando por eliminar a acumulação de funções em todos os sectores da vida nacional.

E também há que acabar com a acumulação de subvenções (e pensões) resultantes do exercício temporário, e muitas vezes simbólico, de cargos de nomeação política.   

O mal corta-se pela raiz!

O cúmulo surge, hoje, na primeira página de alguns jornais: O Governo prepara-se para recuar no corte da acumulação de remunerações e de pensões, a começar pelo presidente da República.

6.10.10

Só hoje…

Andava há dias na expectativa de chegar à ‘República’ revisitada pelo José Rodrigues Miguéis, n’A Escola do Paraíso. Cheguei atrasado por culpa da Portugal Telecom que, entretanto, me tem obrigado a desdobrar-me em diligências por causa de uma, aparente, simples migração da Sapo adsl para a Sapo fibra. Nada é, de facto, simples neste moribundo Portugal republicano, onde tudo é feito para emular a 1ª República.

Ontem, desconcertado quanto às celebrações do centenário, ainda visitei o Museu Bordalo Pinheiro, onde descobri um caricaturista digno de ser louvado: SILVA MONTEIRO. Este mostra-nos que, afinal, os ideais foram substituídos pelos interesses de grupos mais ou menos ávidos de se banquetearem à mesa do orçamento. Aqueles republicanos, à excepção de alguns ilustres suicidas, não enganavam ninguém! Ora, ontem, o que eu ouvi foi, sobretudo, a legitimação de actos que custaram a vida a muitos milhares de portugueses que se viram envolvidos em causas perdidas.

(E continuamos a correr atrás de desígnios que nem sequer conseguimos enunciar enquanto outros mamam à tripa forra. Coitados!)

Entretanto, dando a palavra a José Rodrigues Miguéis, um dos escritores que melhor conheceu e retratou a acção republicana, transcrevo um excerto da obra já mencionada:  

«O prédio embandeirou, mas só do lado esquerdo, numa espécie de hemiplegia republicana. Havia sempre um resto de serpentinas do Carnaval passado, e foi uma festa. Começavam-se a vender nas ruas bandeiras, alfinetes, postais e globos de vidro colorido com cenas  e retratos dos homens do regime. Era uma Vida Nova que raiava. Dir-se-ia que estava tudo preparado para a celebração! Passavam bandos aos vivas, caminho da Baixa, da Rotunda, do Tejo, cantando a Portuguesa. Afluíam de todos os lados os heróis da última hora: as barricadas, até ali quase vazias, transbordavam agora de combatentes, eriçadas de armas que não tinham chegado a dar fogo. Tiravam-se grupos memoráveis, para depois se dizer “Eu também Lá estive!” A República estava de antemão solidamente implantada nas almas e nas ruas. Lisboa transfigurada!» 

5.10.10

Silva Monteiro N’Os Ridículos

 Urge passar por lá, pelo Museu Bordalo Pinheiro. N'Os Ridículos (1908-1926), podemos encontrar os 'actores principais' deste nosso tempo (1974-2010). Pena é que os caricaturistas não tenham dado continuidade às criaturas de Bordalo Pinheiro.


30.9.10

O Tempo das Palavras…

 
 

«Não respiro o passado, quero lá saber do / que foi por já ter sido, ou do que fui», António Souto, O Tempo das Palavras

Os poetas são homens e mulheres virtuosos porque dizem sempre o que sentem, mesmo quando o enunciado parece aprisionar o leitor.

O Tempo das Palavras, rigorosas, castas e melódicas, esconde e revela um tempo de acção primordial na descoberta do amor e da escrita. E desse tempo, nas palavras ditas, eleva-se uma perda por assumir ou, em alternativa, a consciência de que a única superação é de ordem estética.

Descoberto o caminho, o poeta deve dizê-lo até ao fim…

PS: Peço perdão ao Armindo S. de, por enquanto, nada dizer das suas palavras.

 

Uma questão de respeito…

O credor é, por definição, aquele a quem se deve dinheiro ou algum valor. HOJE, a classe política (e todos os seus sequazes) deve respeito aos portugueses.

Se nos quisessem respeitar, os governantes teriam decoro no modo como abordam e procuram soluções para o problema nacional. Por exemplo, poderiam pôr-se de acordo no corte das despesas supérfluas. HOJE, no Parlamento, poderiam elencar tudo o que, de facto, é desnecessário para o funcionamento do Estado, a começar pelas múltiplas comemorações, por uma boa parte dos feriados nacionais; decidindo, por outro lado, a redução em 25% do número de ministros, secretários de estado, de assessores, deputados; mandando encerrar e vender 25% dos edifícios afectos ao, chamado, património do estado. Um património que só dá prejuízo!

E sobretudo deveriam acabar, de vez, com os negócios do estado. As obras, todas as obras, devem ser privadas. E a responsabilidade financeira deve ser totalmente dos privados. As parcerias público-privadas devem ser transferidas integralmente para o privado e, não havendo condições, os contratos devem ser, de imediato, cancelados. Por exemplo, a Parque Escolar deve ser dissolvida, porque, a prazo, vai tornar-se num negócio ruinoso para os portugueses…

Já não se trata de apurar quem é o culpado ou de quem se posiciona melhor para ganhar as próximas eleições, o que está em jogo é saber se os políticos ainda vão a tempo de querer respeitar os portugueses, ou se preferem que os portugueses lhes faltem ao respeito…

29.9.10

Credores externos e internos…

Parece impossível escapar às medidas draconianas anunciadas pelo Governo. No entanto, não acredito. De facto, os funcionários públicos  não poderão evitar essas medidas. Mas, quanto aos restantes portugueses o que é que vai acontecer?

O Governo só pensa em cobrar, e isso parece fácil enquanto o país não estiver reduzido a pele e osso. O Governo teima em argumentar com a necessidade de cumprir os compromissos com os credores externos e esquece-se deliberadamente de apresentar contas aos credores internos.

Para satisfazer a gula externa, vamos sacrificar os trabalhadores cumpridores (e só estes!). Até quando?

Em nome da contabilidade nacional, todos os serviços deveriam suspender os projectos inconsequentes  que, na maioria dos casos, são factores de desperdício de tempo e de energia.  Por exemplo, no caso da educação, o actual modelo de avaliação que visa, acima de tudo, condicionar a progressão dos funcionários deve ser suspenso, pois o congelamento das progressões torna-o o obsoleto. Tomada a medida e, por arrasto, a primeira estrutura a desabar deveria ser o Conselho Científico responsável pela Avaliação…