28.7.12

O fazedor…


O que não se pode é tocar o sino e ao mesmo tempo ir na procissão. Camilo José Cela
Apesar de ter adormecido acomodado à ideia, ao acordar, apercebi-me que há quem tenha o dom da desmultiplicação – o fazedor.

Eu que, outrora, tive o ofício de sineiro, sentia-me aliviado por não ter de marchar alinhado e aprumado e, ao mesmo tempo, sentia-me excluído do rebanho.

Faltava-me essa qualidade, hoje, muito abundante,  que é a de fazedor!

27.7.12

Os outros jogos

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Hoje não vi ingleses! Só austríacos, alemães, franceses, holandeses, suecos e portugueses … e creio que, salvo erro, poucos terão pensado na cerimónia inglesa de abertura dos jogos olímpicos.

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Por aqui, tal como as rolas, os turistas vão desfrutando o clima e o sossego que a Ericeira ainda oferece…

E concluo com Camilo José Cela: « O que não se pode é tocar o sino e ao mesmo tempo ir na procissão.», in Os Pirinéus de Lérida.

25.7.12

Estou a ficar zonzo!

Estou a ficar zonzo.

Na minha infância e adolescência, se me quisesse “lixar”, “lixar” alguém ou “mandar lixar” quem quer que fosse recebia como estímulo um par de bofetadas, sem aviso.

Quando comecei a ler os escritores neorrealistas, percebi que era vítima de uma conceção do exercício de autoridade excessiva. Aqueles simpáticos autores, à força de quererem valorizar a cultura popular, criaram personagens que não iam muito para além do calão, apesar de, na mente iluminada dos artistas urbanos, estarem prontos a sacrificarem as suas vidas em nome da liberdade…

O mais difícil foi explicar a certos alunos que o calão podia ser uma forma de vida tão razoável como aquela que decorria da leitura de um sermão do Padre António Vieira. Retraído, lá fui insistindo até que percebi que o pregador ficara irremediavelmente para trás. A quem interessava a doutrina? A quem interessava a eloquência? A quem interessava a criatividade que a língua poderia desencadear?

Nos bancos das salas de aula, começaram a sentar-se jovens que já não necessitavam de ler os neorrealistas para aprenderem o que era expressão de vulgaridade ou, em alternativa, de cultura popular; muitos já não necessitavam de ler ou, se o faziam, procuravam aquelas obras que semanalmente ocupavam os escaparates das livrarias e não ofereciam qualquer resistência à leitura – as que os espelhavam por inteiro ou lhes abriam a porta do facilitismo.

E são esses jovens, agora ministros, que me deixam zonzo. Eles dizem, sem ter lido os neorrealistas, que se »estão lixando» e ninguém lhes dá um par de estalos! E ainda são aplaudidos, porque falam a língua do povo. Mas qual? 

23.7.12

O clima é amigo

Os alunos das escolas ( 239 ESCOLAS PRIMÁRIAS )  que encerram serão transferidos para centros escolares ou outros estabelecimentos "com infra-estruturas e recursos que permitem melhores condições para o seu sucesso escolar", considera o Ministério da Educação. (Renascença)

Em nome do sucesso escolar, os Governos transferem os alunos. A ideia parece razoável, mas porque é que não se aproveita para transferir, também, as famílias?

Não será melhor fechar as igrejas, os cemitérios, os correios, os postos de saúde?  Não será melhor acabar com o queijo da serra, acabar com o alvarinho, acabar com o porco preto, acabar com a alfarroba e a laranja, arrasar os sobreiros e extinguir as colmeias?

Sobra, no entanto, uma questão: - Como é que este sucesso escolar tem desembocado no insucesso na vida?

E no caso das crianças (e famílias e autarcas) não aceitarem a transferência, tal como os indígenas se viam obrigados a aceitar o Deus dos cristãos, então há sempre o recurso aos incêndios …

… arde o país até porque o clima é amigo!

PS. No meu entendimento, não há sucesso escolar ou outro se não houver enraizamento

22.7.12

As gaivotas são de ontem

As gaivotas são de ontem! Não sei o que é que as movia, mas a agitação era muita. Provavelmente, não sabem agir de outro modo…

O que me preocupa são os abutres. Esses sabem escolher o momento para atacar a presa. Não fosse a maldita vaidade, o golpe seria certeiro!

21.7.12

Virtuosa Pátria

Eram homens afáveis que passavam a mão pelos cabelos das crianças, mas que deixavam cair os irmãos, os amigos e os servidores. Faziam-no com elegância, um olhar benévolo… mas, chegada a hora, tornavam-se invisíveis.

Estes homens melífluos que passavam a viver na sombra, rodeados de fâmulos que agiam por conta própria, eternizavam-se nas cátedras, nos cargos… e acabavam sempre por ser condecorados pelos serviços prestados à Pátria.

E a Pátria vai os acolhendo no seu regaço e passa-lhes as mãos pela cabeça e esquece-os…

20.7.12

Um país de equívocos

I - Os incêndios deixam os pobres mais pobres. Raramente, se ouve falar de um rico vítima de incêndio!

Os incêndios deixam o país mais desolador. E não se percebe porquê!

A senhora ministra da agricultura, das florestas… bem podia criar um projeto de limpeza do território. E digo limpeza, porque o território está sujo e floresce sem qualquer controlo. E são esta sujidade e este desleixo os responsáveis pela repetição dos incêndios, novo pasto das televisões e consequente manipulação dos telespectadores.

A senhora ministra dos matagais deveria pugnar pelo asseio. Bastava que contratasse 10% dos desempregados para proceder à limpeza dos caminhos, à poda das árvores e à desmatação…

II – A morte de José Hermano Saraiva traz-me de volta o irmão, o António José Saraiva.

Ambos cavalgaram a História, mas fizeram-no de modo bem distinto. O rasto que deixaram mostra uma forma bem diversa de encarar a política, a literatura e a comunicação… e por isso este ruído da morte

… um ruído de tambores que anula o canto triste da avezinha…