9.4.14

O povo cigano... e a classe cigana

Entre os povos sem pátria, avultam os ciganos. Oriundos dos jinganis, veem-se, desde tempos imemoriais, obrigados a viver de expedientes e, sobretudo, de vendas em feiras e praças. 
Objeto permanente de xenofobia, o cigano, reduzido à condição de nómada, confronta-se atualmente com a diminuição drástica de territórios onde permanecer temporariamente. Por outro lado, mesmo que não possam fugir à sedentarização, ninguém os quer por perto.
O povo cigano é vítima de anátema e porque desterritorializado acaba indevidamente classificado como minoria.

Para além do povo cigano, há uma outra classe cigana que encaixa bem na definição do adjetivo correspondente: «trapaceiro, ladino, traficante de mercadoria subtraída aos direitos».
Nas últimas décadas (em pleno cavaquismo), nasceu e cresceu à sombra dos partidos políticos, uma classe trapaceira (mente e manipula a toda a hora) e que se habituou a desrespeitar os direitos de quem trabalha ou trabalhou longa e honestamente. Para além de defender um miserável salário mínimo, não descansa enquanto os restantes salários e pensões não forem de miséria. 

Ora em tempos de pobreza e de acentuada iliteracia é mais fácil discriminar o povo cigano e outros grupos de origem africana ou asiática do que erradicar a nova classe cigana.

8.4.14

Dia internacional dos ciganos numa pastelaria de referência

Journée internationale des Roms
Dia internacional dos ciganos
C’est le 8 avril 1971, que les Roms, qui représentent la première minorité de l’Union européenne, choisissaient, malgré une situation encore difficile, les symboles de leur communauté ainsi que leur drapeau et leur hymne...

Manhã cedo, três ciganas, tagarelas, sentam-se a uma mesa de uma pastelaria de referência. A mais idosa levanta-se, dirige-se ao balcão e pede um café num copinho de plástico. A resposta seca diz-lhe que ali não há copinhos de plástico
A velha cigana não desiste, volta para o lugar e pede um café em chávena escaldada e um pãozinho de leite tostado... Ao balcão, vários clientes censuram a ousadia quando a cigana devolve o café porque quer a chávena cheia...
Do lado de lá do balcão, já se condena o RSI (o rendimento social de inserção) e tudo aquilo que o leitor esteja habituado a pensar...
Uns minutos mais tarde, a TSF entrevista um distinto cigano que refere que nas escolas pouco é feito por esta comunidade e que mesmo que os ciganos concluam os estudos com sucesso ninguém os contrata...
Por seu turno, a Alta Comissária  para a Imigração e Diálogo Intercultural,  Rosário Farmhouse, aponta que a situação atual dos ciganos não é muito diferente da vivida em 2008 e, sobretudo, que o número de queixas de discriminação desta comunidade não tem aumentado. Se algum problema existir, a culpa é da crise!

Em síntese, há séculos que a minoria cigana é discriminada e continua a sê-lo até no facto de estar sob a alçada de um pomposo Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural. Afinal, a quem é que serve a existência de minorias, se o objetivo é a integração? 

7.4.14

Lampeiros e figos lampos

Não é que durante o dia tenha pensado em figueiras e muito menos em figos lampos, só que por volta das 19 horas dei conta que uma das figueiras que saltam o muro do seminário dos olivais já exibe o fruto temporão.
Estranhei a pressa daquela figueira, mas como ela se encontra em terreno sagrado, logo pensei que, talvez, ela tivesse sido plantada pelo Diabo… Afinal aproxima-se o dia do enforcamento de Judas…
E os figos lampos? Pessoalmente, houve tempo em que os apreciava, embora desconfiasse da excelência da sua natureza temporã … porque, no geral, este tipo de figueira, depois de afirmar a sua virtude, deixa-se cair no pecado da preguiça…
Agora entendo que há sempre quem abocanhe os figos lampos e sobretudo que os lampeiros continuam ativos. E o dia de hoje não foi exceção!

6.4.14

A voz e a emoção

A voz é o suporte acústico da palavra. Quando a voz se torna ininteligível, perdemos a emoção, embora, em muitas circunstâncias, a alteração da voz resulte da irrupção de uma tensão interior capaz de provocar comoção exterior ou, em alternativa, condenação pública.
Hoje a voz de João Perry (O Regresso a Casa, de Harold Pinter) fez-me lembrar uma outra voz de que já perdi o som, mas cuja emoção me acompanhará sempre...
Sei agora que mais do que as vozes memorizo emoções, pequenos gestos... Estes gestos e estas emoções ficam em mim como expressões de sensibilidade, de aproximação...

Em O Regresso a Casa (encenação de Jorge Silva Melo, também ele de regresso ao palco do D. Maria II), as múltiplas vozes enunciam ideias dos anos 60, libertárias, mas que se extinguem na enunciação que parece ser a verdadeira substância da vida. No lugar das palavras também há gestos mas falta-lhes a emoção, como expressão de sensibilidade, aproximação...Para Harold Pinter tudo não passa de jogo... 
    

5.4.14

À espera do quê?

Vladimir. – Mais tu as bien été dans le Vaucluse?
Estragon. – Mais non, je n’ai jamais été dans le Vaucluse! J’ai coulé toute ma chaudepisse d’existence ici, je te dis! Ici! Dans la Merdecluse!  Samuel Beckett, En attendant Godot, 1952

Pouco importa onde morámos, onde sonhámos, se fomos felizes…
Um dia, uma qualquer alcateia deu cabo de tudo e nós ficámos, em definitivo, à espera…
Todos os dias à espera, acordamos e adormecemos, sem coragem para levantar a forca…
Incapazes de nos calar, continuamos a olhar a árvore…
Sobra-nos a corda do olhar…

        e pouco importa onde morámos…
        um dia uma alcateia deu cabo de tudo…
         … e nós sem coragem para levantar a forca!

4.4.14

Voltaremos!

"Voltaremos!" é palavra de ordem. E podem voltar as vezes que quiserem, pois o plano está em marcha e só estará concluído quando o Estado tiver fechado as portas.
Vão fechar hospitais, tribunais, escolas e repartições de finanças! Compreendo o motivo do encerramento de hospitais, tribunais e escolas, afinal, são sectores que só dão prejuízo. Só não entendo a decisão de encerrar as repartições de finanças... Será que já não sobra ninguém para tributar?
E claro também não entendo por que motivo não encerram as esquadras, os quartéis, as câmaras municipais e a assembleia da república, que oficialmente cheira mal...

3.4.14

Um português que não sabe qual é a sua pensão de reforma

Daqui não se vê, mas posso assegurar que se trata de um ser atarracado, braços cruzados sobre o dilatado ventre, sorriso aberto e luminoso sob testa ampla ainda coberta por nívea cabelama. Não fosse a veste negra e a gravata rosada, poder-se-ia imaginar um albino de origem nacional-socialista. Um qualquer farsista ter-lhe-á roubado o bigode de pequeno hitler, deixando, no entanto, adivinhar um dentinho de ouro…
Rotundo desde tenra idade, cedo descobriu que estava destinado a ganhar uma fortuna. Já nos anos 70, auferia 100 contos numa daquelas empresas privadas cujo monopólio era assegurado pelo Estado… De lá para cá, ainda não parou de ganhar dinheiro  e nem no tempo do Vasco Gonçalves soube o que era ficar sem emprego. Apesar de tudo, recebia 50 contos. (Vale a pena recordar que um professor ganhava 5 ou 6 contos a explorar o Estado!)
Já reformado, este indefectível amante da pátria continua a trabalhar na EDP,  em tempos, empresa pública, que ajudou a vender, e a fazer a parte de tantos conselhos fiscais e de administração que já lhes perdeu a conta…
E foi certamente essa falta de memória que o levou a afirmar: «Eu neste momento não sei qual é a minha pensão de reforma.»
De referir que este tipo de português é uma espécie vaidosa que se baba com facilidade e que não tem sentido do ridículo.