29.12.18

O pedinte

«É o eu, encruzilhada por excelência onde tudo se cruza, converge e diverge.» Maria Lúcia Lepecky, DN 26.06.1988

As estátuas estão de costas, inconscientes da existência do pedinte, tal como este parece alheio à sua presença…
Se (re) pararmos nas estátuas, uma delas, de óculos, ignora deliberadamente  a jovem e sorridente 'família', parecendo fixar-se num ponto longínquo - talvez uma palmeira colonial…
Nesta rua de Algés, a composição parece revelar um EU excessivamente mercantil - postiço… Todavia, só o pedinte sabe como esconder o olhar… 

28.12.18

Não dei conta

Luís Bento (1951-2015)

«Autor de livros sobre Formação, Gestão de Recursos Humanos e Ética nos Negócios, era comentador de assuntos económicos, sociais e políticos em vários canais de televisão e estações de rádio.» Não dei conta

Não fosse um amigo ter-me doado um pacote de livros, provavelmente continuaria a ignorar um autor que procurou dar conta do modo de estar da geração nascida nos anos 50 do século passado, a minha. De rajada, li os dois livros publicados pela editora onyva: Este Nosso Jeito de Ser; A Alquimia dos Sentidos - Romance de uma geração.

Apesar da notoriedade de Luís Bento, confesso que vivia na ignorância da sua existência - eu que até tenho um primo com o mesmo nome, nascido no mesmo ano e dia que eu - e de desconhecimento em descobrimento, acabei por encontrar no romance um padre Francisco que me tem dado que pensar…

«... o padre, um franciscano do Seminário de Carnide, que mais tarde viria a ser bispo de Santarém…» op. cit., pág 167

O padre Francisco revela-se, em 1969, no âmbito da campanha eleitoral (da CDE), uma figura fundamental para libertar os jovens contestatários da Pontinha que se encontravam presos no Governo Civil há três dias…
Desta vez, o romance, para além de, alternadamente, me dar conta do percurso do herói na periferia da capital e na guerra colonial em Angola, abriu-me uma outra porta. Afinal, quem, era na verdade, aquele franciscano que se tornou no primeiro bispo da diocese de Santarém, tendo ido habitar o mesmo espaço donde eu saíra ainda havia relativamente pouco tempo?

O franciscano chamava-se António Francisco Marques, tendo sido bispo da diocese de Santarém, por nomeação do Papa Paulo VI, de 16 de Julho de 1975 a 28 de Agosto de 1977... 
Foi bispo da minha diocese, tendo mantido com os meus pais uma relação de que só agora me apercebo…
Um bispo discreto, com uma biografia mínima, vá lá saber-se porquê!
Quanto ao romance, é de leitura fácil e bastante fiel à vida daquela época… 
Quanto a Este Nosso Jeito de Ser, algumas das crónicas traçam um retrato fiel da mentalidade portuguesa.

27.12.18

O veto

O presidente Nogueira diz que o veto do Professor Marcelo foi 'uma boa notícia'. Resta saber para quem!
Em ano de eleições, espera-se um fartar-vilanagem desenfreado. Seja qual for o resultado, para 2020 as nuvens anunciam-se carregadas… O melhor seria apagar, desde já, o ano de 2019.

26.12.18

A esta hora

A esta hora, o Presidente deve andar às voltas com a contagem do tempo de serviço dos professores. O assunto é sério, não fosse ele o Senhor Professor…
No labirinto do Presidente, os conselheiros já estão cansados de fazer projeções… É que não são apenas os professores! Não há bicho careto que não faça contas à vida…
A esta hora, o Senhor Presidente já telefonou ao 'amigo' Costa, confessando que, desta vez, não está a ver como é que vão vender gato por lebre… e mesmo assim 'era uma vez' um orçamento…

25.12.18

E nós tão distraídos!

The deadly tsunami in Indonesia was triggered by a chunk of the Anak Krakatau volcano slipping into the ocean, officials have confirmed, amid calls for a new early warning system that can detect volcanic eruptions. Vulcão desperto

E nós tão distraídos! 
Por aqui, o almoço de natal tão rico de reencontros que faltam os lugares de estacionamento…
Por lá, lugares vazios, vultos que se esfumam nas derradeiras lágrimas dos sobreviventes…

24.12.18

Inconfidência de natal

Desde cedo habituei-me a viver com a distância. Escrevo 'habituei...', mas, olhando para trás, prefiro 'aprendi...' com a distância… 
A proximidade tornara-se mais dolorosa do que a distância. Partir tornou-se natural por necessidade. Ficar era adiar qualquer forma de ser.
Se na partida havia dor, não sei especificá-la, pois não correspondia a qualquer tipo de saudade… o que havia era uma necessidade de me adaptar à viagem, ao espaço em que acabaria por me encontrar.
Adaptar-me, não para ficar, mas para ser, o que poderia significar partir de novo… 
Ao contrário dos que voltam, felizes, o regresso foi sempre uma forma de capitulação…
Talvez seja por tudo isto que em qualquer partida antevejo um sorriso, mesmo que esta possa ser a derradeira…
Ficar é adiar, regressar é capitular…

23.12.18

Nunca escrevi uma estória de natal

Faltam-me as personagens capazes de gerar uma nova intriga milenar.
Não é que o tempo seja diferente daquele que o menino encontrou nas praças, nos mercados e nos templos. O próprio espaço, de mais opaco, poderia favorecer o anonimato do novo herói…
Vejo-me, no entanto, condenado ao fracasso - o menino ao abandonar a cruz, tornou-se caixeiro-viajante…
Por estes dias, relembro a estória antiga.

Jesus entrou no Templo, expulsou dali todos os que nele vendiam e compravam, derrubou as mesas dos cambistas e as bancas dos vendedores de pombas, dizendo-lhes: «Está escrito. A minha casa há de chamar-se casa de oração, mas vós fazeis dela um covil de ladrões.»