19.5.24

Fantasma digital


Estou a ler um livro deveras interessante: Fantasmas digitais, de Davide Sisto.

Como já cheguei a uma idade que me permite pensar o que ocorrerá com o meu desfecho biológico, isto é, com o meu regresso à matéria inicial, seja de forma lenta ou acelerada, sempre breve... este livrinho levanta-me, agora, o problema se vale a pena eliminar, ou, pelo menos, ocultar a minha mísera presença digital, sob a forma de fantasma digital, que ficaria por cá a incomodar os vivos, criando-lhes a ilusão de um diálogo, que, afinal, nunca seria autêntico, por mais dados que tivessem sido convocados para a construção de um hipotético holograma...
a não ser que este fantasma digital mais não fosse que um Homero capaz de deixar obras fantásticas como a Ilíada e a Odisseia.
Em síntese, o melhor é começar a apagar a pegada digital, porque falta a obra que pudesse circular na dimensão dataísta.

15.5.24

Triste fortuna!

Triste sina: depois da cadeia, de um olho manco, dos defuntos da índia, de um naufrágio no índico, da vala comum, da falsificação biográfica... agora nome de anunciado aeroporto em Alcochete!
O que mais poderá acontecer ao Poeta!
Talvez, Camões tenha nascido na margem sul do Tejo!

Por estas horas, o José Sócrates, não fosse o nevoeiro da Ericeira, já teria avistado o paquete engalanado da TROIKA...

12.5.24

Serão amoras?

 

Heitor já morreu às mãos de Aquiles, embora quem tenha decidido não tenha sido nem a vontade nem robustez dos heróis... foram os pérfidos deuses do Olimpo, provavelmente inventados para apaziguar a morte dos homens... 
(Já cheguei ao Canto XXIII da Ilíada. E ainda há quem se queixe dos 10 cantos d'Os Lusíadas!) 

Fico-me, entretanto, pelo mistério das amoreiras. Conheço, perto de mim, várias, mas nunca lhes vislumbro frutos. Só que, inesperadamente, descobri uma carregada de amoras, num atalho...

Desconfio que Deméter se está a aproveitar da minha ignorância... 
Ignorância minha: cheguei ao fim do Canto XXIV da Ilíada e o cavalo de Troia não apareceu. 
Quem apareceu foi o melro que não espera que os frutos amadureçam.


9.5.24

A Casa dos Estudantes do Império (CEI) (1944-1965)

A Casa dos Estudantes do Império foi criada por sugestão de um ministro das Colónias de Salazar, Francisco Vieira Machado. Mas acabou por ser apelidada por um inspetor da PIDE de «alfobre de elementos anti -situacionistas». O Estado Novo acabou por extingui-la em 1965.

Em 1943, entre um grupo de estudantes oriundos de Angola, surge a ideia de criar, em Lisboa, a Casa dos Estudantes de Angola. Da comissão organizadora fazem parte Alberto Marques Mano de Mesquita e Ângelo José Vidigal Dias, da Faculdade de Direito; Carlos Torres de Sousa Júnior, Manuel Seabra de Azevedo e Emílio Freire Leite Velho, da Escola Superior de Medicina Dentária; Alberto Pereira Diogo e Acúrsio de Sampaio Nunes, do Instituto Superior Técnico. A iniciativa tem o apoio do comissário nacional da Mocidade Portuguesa, o que vale a Marcelo Caetano o título de presidente de honra da Casa.

Os estudantes de outros cantos do Império seguem o exemplo dos angolanos, o que desagrada ao regime, defensor da ideia de «unidade da nação portuguesa».

Assim, numa visita à Casa dos Estudantes de Angola, realizada a 3 de junho de 1944, o ministro das Colónias Francisco Vieira Machado, na presença de Marcelo Caetano e dos representantes das outras associações (Aguinaldo Vieira, de Cabo Verde); Vasco Benito Gomes da Índia; Gonçalo de Sousa e Macedo Mesquitela, de Macau; e Francisco Maria Martins, de Moçambique), formaliza a proposta de fusão de todas as Casas na Casa dos Estudantes do Império (CEI).

Em Outubro de 1944, a CEI-sede começa a funcionar, sob a presidência de Alberto Marques Mano de Mesquita, no n.º1 da Rua da Praia da Vitória, ao Arco do Cego. Mas, no mês seguinte, muda-se para o n.º 23 da Avenida Duque de Ávila, onde vai permanecer até à sua extinção. Por essa altura, abre também uma delegação em Coimbra.

Logo em janeiro de 1945, na abertura de um ciclo de palestras promovido pela CEI, sob o patrocínio da MP, Marcelo Caetano revela aquilo que o regime espera da Casa: que contribua para o «triunfo do espírito português», trabalhando em prol da formação colonial da juventude.

No entanto, quase todos os elementos dos corpos gerentes da Casa para o ano lectivo 1945-46 assinam as listas do Movimento de Unidade Democrática (MUD) e juntam-se a partir de 1946, ao MUD Juvenil.

Em 1948-49, encontramos novamente os estudantes que dirigem a CEI ao lado da oposição, a favor da candidatura de Norton de Matos.

Em meados de 1950, os membros da secção da Índia da CEI recusam subscrever uma declaração de repúdio pelas afirmações de Nehru hostis à política portuguesa na Índia.

Na viragem para os anos 50, a CEI começa a estruturar-se como um espaço de socialização antissalazarista, de re (descoberta) da cultura africana, de denúncia do colonialismo, onde se formam politicamente alguns dos futuros dirigentes dos movimentos de libertação: Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Vasco Cabral.

A 30 de Maio de 1952, o Governo nomeia uma comissão administrativa que irá dirigir a Casa até 1957: «Nada contra a nação, tudo pela nação.»

Segundo o novo regulamento, homologado pela Mocidade Portuguesa em 7 de fevereiro de 1957, a Casa dos Estudantes do Império deixa de se organizar em secções (consideradas pelo regime focos de nacionalismos) e não pode interferir em assuntos de carácter político.

A secção editorial da CEI, sob o impulso de Carlos Ervedosa, Fernando Costa Andrade, Fernando Mourão e Alfredo Margarido, publica antologias de poetas e contistas angolanos (1959 e 1962), de poetas de Moçambique (1962) e de São Tomé e Príncipe (1963). Obras de Luandino Vieira, Mário António, Viriato da Cruz, António Jacinto, Agostinho Neto e José Craveirinha figuram na Coleção Autores Ultramarinos. Através do seu boletim “Mensagem”, dirigido entre outros por Tomás Medeiros, revela muitos dos mais importantes escritores africanos e põe a circular textos anticolonialistas.

Por volta de 1960, a CEI tem cerca de 600 sócios, uma cantina que serve uma média de 200 refeições diárias, um lar com 14 residentes, uma biblioteca, um salão de jogos e um posto clínico. Além da sede em Lisboa e da delegação de Coimbra, funciona também uma delegação no Porto (criada em março de 1959).

Em 1960, na CEI – Coimbra, surge um manifesto intitulado “Mensagem ao Povo Português” que revelava as acusações feitas na ONU contra a política colonial portuguesa e propunha o imediato reconhecimento do direito dos povos das colónias à auto-determinação.

A delegação da CEI, no Porto, foi encerrada em janeiro de 1961.

Apesar da vigilância da PIDE e da ingerência da comissão imposta pelo Governo, a CEI é um dos lugares em que se prepara a saída de Portugal de várias dezenas de estudantes africanos que irão juntar-se aos movimentos de libertação.

Em Março de 1962, tendo as comemorações do dia do estudante sido proibidas, a CEI associou-se ao luto académico. Durante a crise, a CASA disponibilizou as suas instalações..., levando a PIDE a invadir a sede... A CEI é extinta em setembro de 1965.

Entretanto, em 1963, tinham sido criados os Estudos Gerais Universitários em Angola e Moçambique

Nota: Em 21 de Maio de 1965, o Ministro da Educação Nacional determinou a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE). Na semana anterior, o Grande Prémio de Novelística fora atribuído a “Luuanda” do escritor José Luandino Vieira.3 O premiado era membro do MPLA e estava preso no campo de concentração do Tarrafal, acusado de atentar contra a “segurança do Estado”.4 (ver envolvimento do Jornal do Fundão através de Alexandre Pinheiro Torres, um dos membros do júri).

1 - Em Janeiro de 1992, foi criada a Associação Casa dos Estudantes do Império. Objectivo: preservar e difundir o legado cívico e cultural da CEI... Personalidades envolvidas: Orlando de Albuquerque, Vítor Evaristo, Luís Pollanah, Carlos Eduardo Ervedosa, Fernando Costa Andrade, Alfredo Margarido, José Ilídio Cruz, José Manuel Vilar.

2 - Celestino Marques Pereira (O ensino colonial da Juventude) deseja mesmo que a CEI seja uma filha da Mocidade Portuguesa.

3 - Foram também premiados Isabel da Nóbrega (romance) e Armando Castro (ensaio).

4 - ver Entrevista a Luandino Vieira, no Público de 15/5/1995.

5 - Xavier de Figueiredo – Jornalista, Público, 8 de Maio de 1994.

 

Dias sem espiga

(No dia da espiga, com a advertência de que há espigas falsas e outras artificiais...)

Os dias surgem como novos, mas, afinal, repetem histórias antigas, cheias de manha, infantis.
Agora, há um montenegro que proclama que está a gostar de governar, e ainda há dois ou três dias vislumbrei um dois bispos ao lado de um pinto da costa e de um moreira... e aparentemente a cerimónia não era fúnebre...
De qualquer modo, as notícias são por ora de um castelobranco, personagem grotesca, impedido de se aproximar de uma velhinha rica de 95 anos, por supostos ou reais maus tratos, como se a Ucrânia ou Faixa de Gaza fossem coisa menor ou se as alterações climáticas não estejam a ceifar definitivamente o pão a muitos milhões de criaturas, pouco importando a racionalidade, o género, a cor, a religião...

5.5.24

Errância

Comme la marginalité, l’errance s’articule d’emblée sur la notion d’espace. En effet, l’errance au sens propre du terme se définit par la création d’un parcours sans objectif, non orienté dans l’espace. Elle renvoie à une double étymologie : errer, c’est d’abord aller çà et là sans but mais aussi marcher (illinere) ; puis à partir du XIIè siècle, errer a pour principale signification l’idée de se tromper. Dès lors, l’errance semble reposer sur une erreur fondamentale. Phénomène d’attraction et de fascination généré par l’espace, elle fonctionne selon le schéma du chant trompeur des sirènes (Homère, Odyssée), de l’appel de la forêt et autres séducteurs dont on ne revient pas. Cependant, contrairement à la marginalité qui renvoie à un lieu fixe, un centre opposé à la périphérie, l’errance renvoie à un espace ouvert où s’effectue la déambulation, sans but précis de l’errant. L’errance se distingue donc nettement du voyage ou de la promenade.

Pois é: parece que ninguém reconhece que se pode enganar... É só certezas. E se nos enganássemos no caminho?

3.5.24

Uma boa ação da CARRIS

 

Ao fim de muitos anos, a CARRIS descobriu que servia mal a PORTELA (LRS)...
Agora, os portelenses já podem recorrer aos autocarros 722, 728 e 731 para se deslocarem de e para Lisboa, com melhor ligação ao METRO.
E também já podem sair de casa ao fim de semana e nos feriados. 
Levou tempo, mas o serviço está a melhorar...

Só falta aprender a gerir o 728, de modo a que  o autocarro não 'desapareça' ou não surjam três de cada vez... em particular no fim de semanal ou nos feriados. Por outro lado, também, seria útil que a APP CARRIS não fornecesse informação errada...