12.1.07

Herdeiros da abulia e do ópio...

Diz-me o João Goes que um dia terei de lhe explicar o que escrevo. Tudo lhe parece "filosofia". Não sei se ele tem em grande conta a filosofia. Parece-me que não. Ou, talvez, a filosofia encerre para ele um mundo misterioso a que só os iniciados ou, melhor, os lunáticos têm acesso.
O João não é caso único. Já não é apenas a filosofia que enfastia, é a escrita - toda e qualquer escrita. Textos que ainda há pouco tempo não ofereciam dificuldade de interpretação são hoje objecto de rejeição geral, a começar pelos "programadores" do m.e., assim mesmo com letra minúscula.
Os poucos textos que sobreviveram, nas escolas, ao revisionismo dos últimos 30 anos foram expulsos da diacronia, pairam no firmamento escolar quais estrelas cadentes. E os alunos olham para eles como se de uma muralha se tratasse - opacos, intransponíveis. Lê-los cansa.
Tal como cansa contemplar, meditar, descrever, comentar. Aparentemente só a acção deslumbra. Mas por pouco tempo. Herdeiros da abulia e do ópio, preferimos fingir que compreendemos.
Num tempo em que predominam a velocidade e o ruído, ficar sentado a ouvir, a dialogar ou a escrever contraria as leis da física moderna.
PS: Ainda não será desta que o João vai ficar satisfeito com a minha explicação da inteligibilidade das palavras e das coisas.

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