16.11.07

Às horas cor de silêncios e angústias…

 

Para Fernando Pessoa, o tempo tinha cor, mas a paleta era apertada, feita de verde, cinzento, por vezes, azul e quase sempre preto. Por detrás dos óculos, erguia-se um fundo branco envolto em preto, e nas lentes, lentas partiam as naus nocturnas. Não se sabia se regressavam ao cais, mas se o faziam, as naus apodreciam para lá do silêncio do horizonte, num poente de cinzas. Ele queria que acreditássemos que naquelas cinzas ainda soprava a chama. No entanto, sabia bem que o fogo (a alma) quando se extingue se esconde debaixo da pedra, à espera que o vento se levante e se incendeie em notas quebradas…, novas vozes feitas naus que partiram um dia do Cais Absoluto – ideia feita da angústia de quem não aceita que a vida passe e não passe…

Para Fernando Pessoa, as palavras tinham a cor da música que ele não sabia bem se ouvira e no não saber estava toda a angústia que separava a partida da chegada, e na noite do Cais divino soprava uma vaga e doce aragem.

(Em homenagem a todos aqueles alunos que nesta noite, entre sonhos de sargaços, procuram compreender como é que se podia cantar naquele navio encalhado num cais de perdição...)           

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