Ao contrário do que refere a sinopse não se trata da história de um encontro entre Simão e Teresa, mas, sim, de um desencontro entre Simão e Teresa, provocado pelo conflito entre duas famílias urbanas, com raízes provincianas e colonialistas…
Para quem não leu a obra de Camilo Castelo Branco, o filme passa bem, apesar de alguns jovens espectadores (da idade do Simão?) referirem o seu dramatismo. De facto, os jovens que assistiram à apresentação do filme na sala 4 do Monumental estiveram atentos e divertiram-se, o que não é muito habitual. Por isso, creio que o filme irá ter uma boa recepção do público…
Quantos aos apreciadores de Camilo, a abordagem será diferente. O texto camiliano mais parece de Eça, quando se insiste na relação incestuosa de Dona Rita com Manuel (mãe e filho), sob o olhar indiferente de Domingos Botelho( marido e pai). À luz desta tema – o incesto -, não estranharei nada se Mário Barroso vier a adaptar ao cinema A Tragédia da Rua das Flores de Eça…
Por outro lado, os camilianos não deixarão de questionar o desfecho trágico do filme: abrir as veias e abrir o gás, em espaços distantes, não parece uma solução muito adequada à catástrofe de Um Amor de Perdição. Simão e Mariana, bem poderiam sucumbir lentamente, vítimas de SIDA. E para isso, não seria necessário que Simão traísse o amor de Teresa, bastava que o sangue derramado por Simão e de que Mariana se apropriou na delírio e na cegueira deste a penetrasse, deixando-a para sempre refém da sua secreta paixão…
Trata-se de um filme polémico, com uma óptima fotografia, um desempenho dos actores equilibrado, e uma montagem que, em certos momentos, consegue transmitir a densidade das situações camilianas, apesar do desfecho parecer pouco verosímil e, sobretudo, perder para o desenlace de Amor de Perdição.
Manuel C. Gomes
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