Quando o calor ataca, sobre a relva artificial, anima-se o bairro…, mostram-se as artes performativas: os audiomenus despertam a atenção. Toma-se, na esplanada ou na relva, uma bebida ou uma refeição ligeira, e, simultaneamente, ouve-se uma peça radiofónica, à escolha. E eu que procurava reler O Render dos Heróis de José Cardoso Pires, ia pensando no modo como uma peça radiofónica poderia dar conta daquele «luar negro» que assombrava um povo dos confins do Alto Minho, e do «pano negro» que, ao abrir, dava conta da montanha e do vale, do terreiro e do cruzeiro, das «ferramentas de trabalho» aprendidas ao povo do Vilar. E sobretudo daquele Cego que fingia desconhecer a sua imagem e respectiva sombra, e que recitava a «Ladainha dos Bons Entendimentos». Talvez no próximo ano lectivo eu recorra ao audiomenu para que os meus alunos se deixem penetrar pelo discurso cénico (mas como?) que exige do leitor um verdadeiro esforço de leitura e de interpretação da História ( revolta da Maria da Fonte/ Salazarismo do início dos anos 60). Bem sei que alguns pensam que basta ler um resumo, e porque não sob audiomenu? O único inconveniente seria a obesidade. Ali ao lado, na sala de ensaios do Maria Matos, Tiago Rodrigues experimentou, recorrendo à “dobragem” de vozes, sobrepor às palavras de um telejornal, outras palavras, procurando parodiar os acontecimentos do dia. O desempenho foi bom, mas tudo depende da qualidade do texto sobreposto.
Tudo isto num dia, em que percorri por três vezes o Parque de Saúde Mental, à procura do pavilhão 28. Paradoxalmente, não senti o calor infernal da Avenida de Roma, mas percebi que é difícil cumprir o código da estrada naquele labirinto e, também, reforcei a ideia de que a educação e a cultura, em Portugal, são apenas para gente abastada ou subsidiada. Como se compreende não me estou a referir ao Toni (?) Carreira que conseguiu entupir com autocarros de longo curso metade da Avenida Gago Coutinho. Talvez o Mário de Carvalho por lá tenha passado (pela avenida) e tenha decidido actualizar A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho!
O meu bairro, ao invés de muitos outros, nem chega a ser bairro, praticamente ninguém se conhece e a animação, quando a há, é quase sempre dentro de portas, mais para o mal do que para o bem...
ResponderEliminarMas o calor também aqui chegou, e muito, mais do que aquele que se faz sentir por Aveiro, aonde deveria ter ido e não fui, por desajustamentos do destino, e nada que ver com o antecipado passamento de Candal.
Fiquei-me por cá, relendo Cesário e sem saber qual dos dois, se ele ou Eça, inventou a fórmula das "camélias meladas" que ambos aplicam às donzelas lisboetas do seu tempo. Curiosidades!
De manhã, com frescura tépida, atraquei no Planetário da Gulbenkian, uma cómoda maneira de ver estrelas, e revisitei o pavilhão sul do Museu da Marinha. Mostrei às miúdas as galeotas reais para passeios pelo Tejo (e que bonita a embarcação de D. João V) e o singelo avião que transportou Gago Coutinho e Sacadura Cabral ao Brasil, em 1922. No final, concluímos como deve ter sido tão fácil ir à Lua nos anos sessenta.
À saída, o sol queimava, e toda a praça deserta, sem estrelas.
Olá.
ResponderEliminarEstou a fazer um trabalho sobre o livro "O Render dos Heróis" e estou com algumas dificuldades.. já li o livro, mas não percebi metade da história e também não encontro resumos na internet. será que me podia dar umas dicas?