5.6.09

Numa guerra aberta aos ortopoemas

Arménio Vieira (Arménio Adroaldo Vieira e Silva) acaba de ganhar o Prémio Camões 2009. Nasceu na cidade da Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde, a 29.1.1941.

A escolha não deixa de ser surpreendente. Para assinalar a polémica opção do Júri, presidido pela professora Helena Buescu, transcrevo a seguinte promessa de mudança de poética (Poesias, 1984):

Prefácio a um livro futuro

Em Dezembro reparei na ortografia

Da velha poesia utilitária

E vi que em Janeiro

Podia começar a dispor as pedras do alfabeto

Em sentido oposto ao que até aí

Não ultrapassa os limites

De uma nojenta gastronomia poética

Risquei de A a Z os versos úteis

E, numa guerra aberta aos ortopoemas,

Decidi que ser poeta a sério

Implicava uma espécie de suicídio

Sobre os meus poemas transitivos

Tracei uma grande cruz vermelha.

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